|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Morre, aos 78, Wesley Duke Lee, iconoclasta da arte brasileira
Artista enfrentava o mal de Alzheimer há três anos e sofreu uma parada cardíaca anteontem
João Sal - 11.dez.06/Folha Press
|
|
O artista plástico Wesley Duke Lee
FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO
Morreu anteontem à noite,
em São Paulo, o artista plástico Wesley Duke Lee. Ele tinha 78 anos e sofreu uma
broncoaspiração seguida de
parada cardíaca no hospital
Beneficência Portuguesa.
Lee também sofria do mal de
Alzheimer há três anos.
Está marcado para a tarde
de hoje uma cerimônia de
despedida aberta ao público
no crematório Horto da Paz,
em Itapecerica da Serra (SP).
Wesley Duke Lee foi um
pioneiro da linguagem contemporânea nas artes plásticas no Brasil, ao realizar pinturas com colagens, "happenings" e criar ambientes instalativos, já nos anos 1960.
Sua ação "O Grande Espetáculo das Artes", no paulistano João Sebastião Bar, em
1963, costuma ser apontada
como o primeiro "happening" no Brasil. A performance foi motivada pela dificuldade em expor gravuras
da série "Ligas", consideradas muito eróticas, e foi um
manifesto contra a crítica.
Na 29ª Bienal de São Paulo, que será aberta ao público
no próximo dia 25, Duke Lee
estará representado como integrante do Grupo Rex, que
fundou junto com os artistas
Nelson Leirner e Geraldo de
Barros (1923-1998).
Apesar da curta duração,
junho de 1966 a maio de
1967, o grupo foi um grande
inovador da cena paulista,
ironizando o sistema da arte,
seus museus e galerias.
O grupo, que criou a Rex
Gallery & Sons e editou o jornal "Rex Time", recuperou o
espírito contestatório e anarquista dos dadaístas, além de
criar performances afinadas
com ações do grupo Fluxus,
de George Maciunas e Yoko
Ono, entre outros.
ATITUDE ICONOCLASTA
Um bom exemplo dessa
atitude é uma das obras selecionadas de Duke Lee para a
29ª Bienal: "O Tríptico: o
Guardião, A Guarda, As Circunstâncias", de 1996.
Esse trabalho foi realizado
a partir de "O Nome do Cadeado É: As Circunstâncias",
que havia sido censurado pela própria Bienal, alguns
anos antes, pois era composto por placas móveis fechadas por cadeados, que podiam ser removidos, e uma
delas continha um desenho
de púbis com pelos reais.
Como crítica à Bienal, o artista criou o tríptico, que agora será exposto, composto
por três pessoas: uma mulher com uma tarja preta nos
olhos ladeada por guardiões.
Os censores seriam o fundador da Bienal, Ciccillo Matarazzo, que tem o rosto coberto por uma pintura de Almeida Júnior, e a secretária
da fundação, Diná Coelho.
Publicitário no início de
sua carreira, usando cores
fortes e a imagem feminina,
Duke Lee também costuma
ser vinculado ao movimento
pop, mas sua obra de fato está mais próxima da obra de
Robert Rauschenberg (1925-2008), que o artista conheceu
quando estudou em Nova
York, nos anos 1950.
Duke Lee foi ainda professor de uma geração posterior, que inclui Carlos Fajardo, José Resende e Luiz Paulo
Baravelli que, em 1970, fundaram a Escola Brasil. Apesar de sua obra vir ganhando
visibilidade, não foram ainda dados os créditos à complexidade de sua produção.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Frase Índice | Comunicar Erros
|