São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2010

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Morre, aos 78, Wesley Duke Lee, iconoclasta da arte brasileira

Artista enfrentava o mal de Alzheimer há três anos e sofreu uma parada cardíaca anteontem


João Sal - 11.dez.06/Folha Press
O artista plástico Wesley Duke Lee

FABIO CYPRIANO

DE SÃO PAULO

Morreu anteontem à noite, em São Paulo, o artista plástico Wesley Duke Lee. Ele tinha 78 anos e sofreu uma broncoaspiração seguida de parada cardíaca no hospital Beneficência Portuguesa. Lee também sofria do mal de Alzheimer há três anos.
Está marcado para a tarde de hoje uma cerimônia de despedida aberta ao público no crematório Horto da Paz, em Itapecerica da Serra (SP).
Wesley Duke Lee foi um pioneiro da linguagem contemporânea nas artes plásticas no Brasil, ao realizar pinturas com colagens, "happenings" e criar ambientes instalativos, já nos anos 1960.
Sua ação "O Grande Espetáculo das Artes", no paulistano João Sebastião Bar, em 1963, costuma ser apontada como o primeiro "happening" no Brasil. A performance foi motivada pela dificuldade em expor gravuras da série "Ligas", consideradas muito eróticas, e foi um manifesto contra a crítica.
Na 29ª Bienal de São Paulo, que será aberta ao público no próximo dia 25, Duke Lee estará representado como integrante do Grupo Rex, que fundou junto com os artistas Nelson Leirner e Geraldo de Barros (1923-1998).
Apesar da curta duração, junho de 1966 a maio de 1967, o grupo foi um grande inovador da cena paulista, ironizando o sistema da arte, seus museus e galerias.
O grupo, que criou a Rex Gallery & Sons e editou o jornal "Rex Time", recuperou o espírito contestatório e anarquista dos dadaístas, além de criar performances afinadas com ações do grupo Fluxus, de George Maciunas e Yoko Ono, entre outros.

ATITUDE ICONOCLASTA
Um bom exemplo dessa atitude é uma das obras selecionadas de Duke Lee para a 29ª Bienal: "O Tríptico: o Guardião, A Guarda, As Circunstâncias", de 1996.
Esse trabalho foi realizado a partir de "O Nome do Cadeado É: As Circunstâncias", que havia sido censurado pela própria Bienal, alguns anos antes, pois era composto por placas móveis fechadas por cadeados, que podiam ser removidos, e uma delas continha um desenho de púbis com pelos reais.
Como crítica à Bienal, o artista criou o tríptico, que agora será exposto, composto por três pessoas: uma mulher com uma tarja preta nos olhos ladeada por guardiões.
Os censores seriam o fundador da Bienal, Ciccillo Matarazzo, que tem o rosto coberto por uma pintura de Almeida Júnior, e a secretária da fundação, Diná Coelho.
Publicitário no início de sua carreira, usando cores fortes e a imagem feminina, Duke Lee também costuma ser vinculado ao movimento pop, mas sua obra de fato está mais próxima da obra de Robert Rauschenberg (1925-2008), que o artista conheceu quando estudou em Nova York, nos anos 1950.
Duke Lee foi ainda professor de uma geração posterior, que inclui Carlos Fajardo, José Resende e Luiz Paulo Baravelli que, em 1970, fundaram a Escola Brasil. Apesar de sua obra vir ganhando visibilidade, não foram ainda dados os créditos à complexidade de sua produção.


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