São Paulo, segunda, 14 de setembro de 1998

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TELEVISÃO
Programa do ratinho é loucura pura

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Ratinho trocou de endereço. De muitos milhões a mais. Pelo jeito, o programa inaugural recebeu a visita de muitos colegas. Ele citou vários nomes amigos. Tipo Ney Gonçalves Dias. Pelo jeito, a colega Marília Gabriela não foi. Ela aparece logo depois do Ratinho, quando o "SBT Repórter" é transmitido dos porões do Ibope.
O fato do programa do Ratinho ser apresentado pelo SBT deve provocar a maior convulsão mental no dono da casa. Durante anos tentou ser, na sua concepção, um homem muito elegante e de persistente e desastroso capricho na tentativa de ser sempre jovem e fino. Agora tem que pagar fortunas para ter os serviços artísticos (! ou ?) de um homem que tem sua glória no desleixo.
De repente, Ratinho tem certeza de que os paraguaios não só odeiam o duque e o almirante, mas todos os brasileiros. Indícios de que, não vai demorar muito, visitaremos brasileiros vivendo horrores no Paraguai.
Mas muito mais sensacional é a mulher de bigulim que o programa vai mostrar. Logo depois de uma visita a uma crackolândia na cidade de São Paulo. Com recursos de "Pixote", um menino de 13 anos mostra os olhos claros e viciados, já que o resto da cara está coberto por máscara.
"Tem que pegar e botar na cadeia. É uma vergonha!", berra Ratinho com uma indignação que vem dos tempos do Flávio Cavalcanti. A técnica é a mais óbvia possível. O escurinho da rua é denso? Holofote e câmera nele. A porta está trancada? Arromba e ilumina. Só para ver o casal que pagou e não teve o aconchego de um "hotel de viração". A cortina na janela está muito pesada? Vamos ver com muita luz o que ela esconde. "Que trepação. Tem muito filho sem mãe. É uma vergonha."
"Não passe para a novela que a novela está uma merda", berra o Ratinho. Mas a loura de vermelho diz que não vai ficar nua? "Tira, tira, tira." E a morena mais bonita na capa amarela? "Quando acabar a novela, eu passo." A polícia chegou à crackolândia. "Nós denunciamos, e lá está ela." Ratinho é fogo.
Mas lá vem a Amanda Amadeu. É uma moça já suave. Numa foto, o seu bigulim é infantil. Noutra foto, seus seios são discretos, mas de muita beleza. A moça quer se definir. Precisa de uma operação. Tem um médico inglês que faz. Ratinho rico fica em dúvida. De repente, a transexual atravessa o palco nuinha, nuinha. Ratinho se escandaliza. "Essa menina é doida." E quem não é? Lá está o Latino cantando e todo mundo contente. Loucura pura.



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