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"FORA DO MAPA"
Drama vê momento de transformação
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na busca desenfreada pela felicidade, o caminho escolhido é questão de gosto. Psicanálise,
religião, auto-ajuda, drogas: apenas o objetivo elementar não muda. Quando o cinema tenta retratar essa jornada, como em "Fora
do Mapa", entra em paradoxo, já
que a própria arte pode enriquecer a alma -ou, com menos pretensão, garantir boas duas horas
de diversão na sala escura.
Neste filme, a procura pessoal
de todos os personagens irá convergir para o deserto do Novo
México, cuja aridez servirá de
ponto zero para vidas em suspensão. Não por acaso, é em flashback que corre a narrativa, nas
memórias de infância de uma garota de 11 anos, Bo. Ao tom nostálgico, acrescenta-se certo saudosismo pelo espírito dos anos 70,
tempo em que se situa a história.
Essa menina vai relembrar o
longo verão em que seu pai herói,
Charley, entra em depressão.
Com a mãe, ela vai gravitar em
torno de um homem silencioso,
impenetrável, e viver à parte da civilização, em estilo quase hippie
-têm pequena verba do governo
e sobrevivem à base de trocas.
Não há informações sobre como ou por que esse homem entrou em frangalhos -sabemos
apenas que ele é veterano de guerra. A esse núcleo irá se agregar o
forasteiro: um agente em missão
de cobrança de impostos, cujas
certezas caírão por terra assim
que pisar naquela casa.
O filme vai se construindo em
torno de opostos, no que quase
tende para a psicanálise de quinta
categoria: mente deprimida/corpo ágil; céu/terra; água/deserto;
ciência/espiritualidade etc. Nessa
opção, retrata os "outsiders", seja
porque temos personagens que
renegaram os prazeres da América, seja porque faz o elogio dos
que vivem por inércia.
O maior mérito de "Fora do
Mapa" é, justamente, respeitar o
tempo dos seus atores. Há longos
silêncios -para os padrões americanos, entenda-se- e momentos de contemplação. No entanto,
logo surge a diluição, na tendência de explicar, na fala dos personagens, o que já está explícito nas
imagens (herança da psicanálise?). Nessa escolha, o filme usa
mal uma das maiores possibilidades do cinema, que é sua capacidade de evocar cenas que caminham ao largo do inconsciente.
Como na vida real, busca soluções, não importando o método.
Fora do Mapa
Off the Map
Direção: Campbell Scott
Produção: EUA, 2003
Com: Valentina de Angelis, Joan Allen,
Sam Elliot
Quando: a partir de hoje no Cineclube Vitrine, Espaço Unibanco e Lumière
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