São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2005

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"FORA DO MAPA"

Drama vê momento de transformação

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na busca desenfreada pela felicidade, o caminho escolhido é questão de gosto. Psicanálise, religião, auto-ajuda, drogas: apenas o objetivo elementar não muda. Quando o cinema tenta retratar essa jornada, como em "Fora do Mapa", entra em paradoxo, já que a própria arte pode enriquecer a alma -ou, com menos pretensão, garantir boas duas horas de diversão na sala escura.
Neste filme, a procura pessoal de todos os personagens irá convergir para o deserto do Novo México, cuja aridez servirá de ponto zero para vidas em suspensão. Não por acaso, é em flashback que corre a narrativa, nas memórias de infância de uma garota de 11 anos, Bo. Ao tom nostálgico, acrescenta-se certo saudosismo pelo espírito dos anos 70, tempo em que se situa a história.
Essa menina vai relembrar o longo verão em que seu pai herói, Charley, entra em depressão. Com a mãe, ela vai gravitar em torno de um homem silencioso, impenetrável, e viver à parte da civilização, em estilo quase hippie -têm pequena verba do governo e sobrevivem à base de trocas.
Não há informações sobre como ou por que esse homem entrou em frangalhos -sabemos apenas que ele é veterano de guerra. A esse núcleo irá se agregar o forasteiro: um agente em missão de cobrança de impostos, cujas certezas caírão por terra assim que pisar naquela casa.
O filme vai se construindo em torno de opostos, no que quase tende para a psicanálise de quinta categoria: mente deprimida/corpo ágil; céu/terra; água/deserto; ciência/espiritualidade etc. Nessa opção, retrata os "outsiders", seja porque temos personagens que renegaram os prazeres da América, seja porque faz o elogio dos que vivem por inércia.
O maior mérito de "Fora do Mapa" é, justamente, respeitar o tempo dos seus atores. Há longos silêncios -para os padrões americanos, entenda-se- e momentos de contemplação. No entanto, logo surge a diluição, na tendência de explicar, na fala dos personagens, o que já está explícito nas imagens (herança da psicanálise?). Nessa escolha, o filme usa mal uma das maiores possibilidades do cinema, que é sua capacidade de evocar cenas que caminham ao largo do inconsciente. Como na vida real, busca soluções, não importando o método.


Fora do Mapa
Off the Map
  
Direção: Campbell Scott
Produção: EUA, 2003
Com: Valentina de Angelis, Joan Allen, Sam Elliot
Quando: a partir de hoje no Cineclube Vitrine, Espaço Unibanco e Lumière


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