|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
China faz Frankfurt desconvidar dissidentes
Após pressão, organização da Feira exclui escritores críticos ao regime
Apesar do lobby, o Nobel de Literatura Gao Xingjian, a líder uigur Rebiya Kadeer e o artista plástico Ai Weiwei confirmaram presença
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Escritores chineses críticos
ao regime comunista de Pequim têm sido "desconvidados" de mesas redondas e debates na Feira de Frankfurt, por
pressão do governo chinês.
A China é o país homenageado na atual edição do evento e
já ameaçou boicotá-lo se dissidentes fossem convidados.
Cerca de 2.000 editores, escritores, artistas e jornalistas
chineses participarão da Feira,
que será aberta com apresentação da Filarmônica da China e
do pianista Lang Lang - o governo chinês investiu US$ 15
milhões em sua participação, a
primeira em um grande evento
cultural internacional.
Mas essa pouca tolerância do
regime a críticas demonstra o
desejo do cada vez mais poderoso regime comunista de exportar a censura para outros
cantos do mundo.
Em agosto, o governo chinês
tentou impedir o Festival de
Cinema de Melbourne (Austrália) de exibir um documentário
sobre Rebiya Kadeer, a exilada
líder uigur que acusa a China de
cometer "genocídio cultural"
contra sua etnia.
O festival manteve a exibição. Hackers chineses vandalizaram o site do evento e o governo chinês, então, cancelou
missões oficiais à Austrália como forma de retaliação. Cineastas chineses, pressionados
pelo Ministério da Cultura,
cancelaram a participação em
Melbourne.
No ano passado, a Universidade Metropolitana de Londres foi pressionada pela embaixada chinesa no Reino Unido a cancelar uma homenagem
que faria ao dalai-lama, líder
exilado do Tibete.
A imprensa estatal chinesa
lançou um boicote contra a
universidade e até chegou a divulgar um "pedido de desculpas" de seu vice-reitor, que foi
negado depois. O mesmo aconteceu com a Universidade de
Washington, nos EUA.
Dissidentes vão
"A Feira do Livro é um mercado para a liberdade", afirmou
o diretor do evento, Juergen
Boos realçando que haverá 250
eventos (contra 612 dos patrocinados pelo governo chinês)
mostrando "a outra China".
Apesar do lobby chinês, a
Feira de Frankfurt receberá
um "quem é quem" da dissidência chinesa. O Prêmio Nobel de Literatura Gao Xingjian
(exilado e fora da lista oficial), a
líder uigur Rebiya Kadeer, acusada de terrorismo por Pequim,
o artista plástico Ai Weiwei e o
principal assessor do dalai-lama são alguns dos nomes que já
confirmaram presença.
A escritora e ambientalista
Dai Qing, 62, excluída da lista
de um seminário no mês passado por pressão do governo, acabou indo a Frankfurt convidada por uma organização alemã.
"Quase todos os chineses do
auditório se foram quando comecei a falar, mesmo alguns
que conversam comigo em Pequim", disse Dai à Folha.
"Alguns artistas precisam fazer isso para receber favores do
governo. É o que eu chamo de
efeito Zhang Yimou", diz ela,
em relação ao cineasta, antigo
opositor que hoje é queridinho
do Partido Comunista, responsável pela cerimônia de abertura da Olimpíada de Pequim.
"A China atrai muitos investidores estrangeiros por ignorar o ambiente e oferecer mão
de obra barata. Então, eles precisam retribuir obedecendo a
linha oficial. Cada vez menos
países e grandes empresas vão
querer briga com o Partido Comunista", diz Dai.
"Mas o que adorei ver em
Frankfurt é que a liberdade de
expressão ainda é valorizada
por muitos", afirma.
Texto Anterior: Conexão Pop: A internet ainda assusta Próximo Texto: Crise econômica, protestos políticos e livros digitais marcam edição 2009 Índice
|