São Paulo, quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"Amor e Sexo"

Programa de Fernanda Lima foca sexo e esquece o amor

Reflexo de "Sex and the City", atração é ao mesmo tempo voyeur e exibicionista

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Uma apresentadora descolada reúne celebridades para baterem um papo sobre sexo com direito a plateia (literalmente). Essa é a fórmula do programa "Amor e Sexo", atração de sexta-feira da TV Globo comandada pela bela e despachada Fernanda Lima. Em um tempo em que as intimidades são devassadas em Facebooks, Twitters e revistas de celebridades, é mais do que natural que as pessoas falem sobre sexo (especificamente, sobre suas vidas sexuais).
E como falam! Intimidades são contadas em mesas de bar, conversas de manicures e revistas femininas. Por que não aconteceria o mesmo na TV?
No caso de "Amor e Sexo", assim como na maioria dos outros programas que falam sobre "vida sentimental", a parte do amor fica meio de lado. Faz sentido. Mais fácil falar sobre vibradores do que sobre sentimentos.
O sexo de que se fala na TV é, em geral, aquele tirado das prateleiras de sex shops para mulheres de classe: cosmético, moderninho e superficial. Reflexo de uma era inaugurada pelo seriado "Sex and the City", que ganhou o mundo ao mostrar moças que compram sapatos e vibradores caros. "Todo homem se masturba, mesmo quando está em um relacionamento. Verdade ou mentira?", pergunta Fernanda Lima para o ator Bruno Gagliasso, que responde que não, não é bem assim. Como todo mundo fala de sexo no mundo, a plateia, além de assistir aos outros contando intimidades, também pode soltar as suas.
"Eu nunca me masturbo, não gosto de encostar lá", diz um homem. Tudo é pontuado por uma especialista e por um "macho", o cantor Léo Jaime, que solta pérolas do tipo: "Sexo não é tudo, mas é 100%".
E há também um quadro em estilo reality show em que Fernanda vai à rua tentar arrumar um namorado para alguém.
Nessa hora, dá um pouco de saudades do "Namoro na TV", o programa do Silvio Santos onde solitários abriam o coração em busca de companhia. Era melancólico, mas parecia mais real do que o "vamos paquerar no shopping" proposto por "Amor e Sexo".
Claro, não é só a TV Globo que fala sobre sexo. Na TV fechada, há de tudo. Uma velhinha que virou celebridade por ser uma senhora que fala sobre sexo (Sue Johanson, do GNT), especialistas que respondem dúvidas por e-mail (no "Simplesmente Sexo", no Discovery Home & Health), um médico grisalho com cara de confiável que dá conselhos para a audiência ("Tudo sobre sexo com Dr. Drew", no Multishow), programas de variedades sobre a indústria do sexo e por aí vai.
Foi-se o tempo em que ver a então terapeuta-apresentadora Marta Suplicy na "TV Mulher" falar sobre orgasmo feminino de manhã era um choque. Hoje, o bacana é ser ao mesmo tempo voyeur e exibicionista. E assim contar o que faz entre quatro paredes para todo mundo. Como uma senhora do auditório de "Amor e Sexo" que confessou ter, sim, a fantasia de transar com dois homens. E foi chamada por Fernanda Lima de corajosa. Viu como falar de sexo pega bem?


AMOR E SEXO

Quando: sextas, às 23h10
Onde: na TV Globo
Classificação: não informada




Texto Anterior: Feira terá novo livro de Dan Brown
Próximo Texto: Resumo das novelas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.