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ANÁLISE
Evento retoma vocação
AMIR LABAKI
de Nova York
Com a radical redução da
oferta de cinema de arte em São
Paulo, devido tanto à retração
dos distribuidores quanto à timidez dos exibidores, a Mostra
Internacional de Cinema recupera nesta 22ª edição seu papel
desbravador. Para a maioria
dos filmes selecionados, a estréia nas telas paulistanas pode
ser também a despedida. Assim, para quem não se conforma com o tédio do circuito comercial, é chegada a hora mágica de se submeter à "roleta russa" da mostra.
O desenho do festival manteve-se essencialmente o mesmo.
A maior novidade a saudar é o
significativo aumento do número dos títulos nacionais.
Uma dívida antiga começa finalmente a ser resgatada.
A ênfase geral permanece sobre as revelações. Não me surpreenderia se os nomes deste
ano fossem o alemão Tom
Tykwer ("Winter Sleepers - A
Neve por Testemunha"), o
americano Darren Aronofsky
("Pi"), o dinamarquês Thomas
Vinterberg ("Festa de Família") e o romeno Radu Mihaileanu ("Trem da Vida").
Reafirmando a força de Cannes, dos seis títulos obrigatórios desta mostra, cinco foram
lançados no festival da Riviera
francesa. "A Eternidade e um
Dia" é o mais suave dos filmes
de Theo Angelopoulos e lhe valeu uma merecida Palma de
Ouro. Melhor mesmo, só "Felicidade", de Todd Solondz, um
devastador painel da desordem
sexual nos EUA.
Embora force o registro gay
na reconstituição da cena pop
britânica do início dos anos 70,
"Velvet Goldmine" reafirma a
exuberância visual do cinema
de Todd Haynes. Já o formosino Hou Hsiao-Hsien devassa o
cotidiano das cortesãs chinesas
no final do século 19 no deslumbrante "Flores de Shanghai". Nanni Moretti, por sua
vez, estréia como pai na retomada de seu diário filmado no
simpático "Abril". A exceção,
por fim, é o policial "Carne Trêmula". Há muito, talvez desde
"A Lei do Desejo", que Pedro
Almodóvar não demonstrava
similar astúcia narrativa.
A mostra revela-se também
sensível à ascensão do documentário, aumentando também o espaço para o gênero.
Nem todos os títulos são inéditos, como o argentino "Tinta
Roja" e o sueco "Sonhos Gelados". A média da seleção, estes
incluídos, é alta.
Dois retratos se destacam. O
argentino Tristán Bauer venceu
Havana-97 com seu poderoso
"Evita, la Tumba Sin Paz". Já a
alemã Jutta Brueckner assina o
mais provocativo cine-ensaio
celebratório do centenário de
Brecht, "Bertolt Brecht -Amor,
Revolução e Outros Perigos".
Vale conferir dois dos destaques não-ficcionais do Sundance-98. "Modulações", da
brasileira radicada em Nova
York Iara Lee, sintetiza a história da música eletrônica. Já os
silêncios dizem tudo no retrato
da própria família feito por Julia Loktev, em "Momento de
Impacto".
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