São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES PLÁSTICAS
Cinco artistas contemporâneos retratam em suas obras angústia, paixão e drama humano
"Eyegoblack" reúne autores de obras de forte impacto em SP

FERNANDA CIRENZA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Eyegoblack", título emprestado de "Finnegans Wake", do escritor James Joyce (1882-1941), reúne cinco artistas contemporâneos, três dinamarqueses e um alemão e um chileno radicados na Dinamarca, dispostos a retratar, a sua maneira, a angústia, a paixão e o drama humano.
Os trabalhos estão expostos, a partir de hoje, na Pinacoteca do Estado, que já acolheu o colorista dinamarquês Per Kirkeby e o grupo Cobra, fundado por cinco pintores -um dinamarquês.
Segundo Emanoel Araújo, diretor do espaço, a conexão Brasil-Dinamarca se deve a Jens Olesen (presidente da McCann-Erickson no Brasil), "um agitador dessas relações culturais".
Apesar de os artistas produzirem obras de forte impacto, que chegam a causar repugnância, a mostra de São Paulo é leve.
Não apresenta trabalhos como "Cego", de Christian Lemmerz, em que olhos de porcos estão mergulhados em vidro de formol, ou "Crianças", instalação de Marco Evaristti, que mostra uma boneca em uma incubadora, esperma e máquina de suprimentos.
Niels Bonde, 39, e Lemmerz, 41, exibem seus trabalhos no octógono, o início da exposição. O primeiro produz a planta de uma casa com decalques fixados no piso. Desenhos de câmeras são dispostos no imóvel que originou a instalação "Big Brother", numa referência à obra "1984", do escritor George Orwell (1903-50).
Bonde costuma usar câmeras reais, em um retrato da vulnerabilidade da exposição humana à violência social das máquinas de segurança. Por dificuldades técnicas, criou uma simulação com desenhos e decalques.
O alemão Lemmerz, que já esteve no Brasil durante a Bienal Internacional de São Paulo de 1996, expõe dez fotografias. Todas são do próprio artista, mas nenhuma imagem se parece com o próprio.
"São reconstituições do meu rosto, numa espécie de retrato falado." Para Bonde, as pessoas inventadas de Lemmerz são os habitantes de sua casa imaginária.
A mostra segue em três salas internas. Na primeira, estão as pinturas de Michael Kvium, 55, que retratam a estética do horror: duas mulheres praticando sexo com um cão, vísceras, fetos e pessoas deformadas em imagens pouco assustadoras.
Na sala seguinte, estão as pinturas e fotografias de Erik A. Frandsen, 43, que mostram cenas domésticas. "As pessoas fotografadas sabem que estão sendo observadas." Mas, pela natureza do trabalho, algo não pode ser revelado.
As fotos são alcalinizadas sobre alumínio, e as pinturas foram produzidas em suporte do mesmo material. A última sala é a do chileno Evaristti, 37. Ele apresenta oito sacos mortuários que estampam desenhos de corpos de crianças assassinadas -antes eram palavras.
"Meu trabalho reproduz a idéia da vítima e do tráfico de órgãos humanos. É uma investigação social e cultual", afirmou ele.
Além das obras, a Pinacoteca exibe o vídeo "The Wake", de Kvium e Lemmerz, em mais uma alusão a Joyce. Nele aparecem apenas imagens não muito claras de nuvens, montanhas, águas, corpos, vísceras. O vídeo tem oito horas de duração.


Exposição: Eyegoblack Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 17/12 Onde: Pinacoteca do Estado (praça da Luz, 2, São Paulo, tel. 0/xx/11/229-9844) Quanto: R$ 5 (inteira) e R$ 2 (meia). Entrada franca às quintas. Menores de 7 e maiores de 65 não pagam

Texto Anterior: Download: Massive Attack solta inéditas
Próximo Texto: Panorâmica: Professora do Masp explica a arte bizantina e a formação de civilizações
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.