SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Há alguns dias, Brian McWilliams, um jornalista do site da revista "Wired", descobriu que o ditador Saddam Hussein comete o mesmo erro de muita gente na internet: repete na senha o nome de seu e-mail. Assim, na primeira tentativa, ele conseguiu entrar no e-mail fornecido como sendo o do iraquiano no site oficial do país (www.uruklink.net).
Está lá: press@uruklink.net; senha: press. Uma vez dentro da conta, ele encontrou os mesmos e-mails que infestam também os endereços de muita gente na internet: dezenas de spam (e-mail comercial não-solicitado), press releases, correntes. Mas muita coisa bem interessante.
Havia, por exemplo, uma mensagem não-deletada de 17 de julho enviada por um bioquímico baseado na China que recomenda ao iraquiano o uso de brometo de metila, um pesticida utilizado na agricultura, como arma química contra o Exército norte-americano. "Não tem cheiro nem cor", ensina o anônimo.
Já um funcionário de uma empresa de petróleo da Arábia Saudita manda a suposta localização dos oleodutos em solo americano; um americano do Estado de Washington se diz contra a guerra; e um empresário londrino se oferece para comprar produtos químicos na Europa Ocidental.
O iraquiano não se manifestou, claro, mas a paixão on line parece correr no sangue da família. Na semana passada o Departamento de Estado americano revelou que o provedor Yahoo pode estar mantendo uma conta de e-mail gratuito em nome do primogênito do ditador, o deputado Uday Saddam Hussein, de 38 anos.
Pelo menos é o que o próprio divulga no site do jornal iraquiano "Babil", que ele edita e que traz o seguinte e-mail para contato: udaysaddamhussein@yahoo.com. Aí que mora o busílis: segundo o Departamento do Tesouro, o Yahoo está fora da lei.
É que, logo após a Guerra do Golfo, o país aprovou sanções comerciais que continuam em vigor até hoje e que proíbem que empresas norte-americanas forneçam bens, tecnologia ou serviços ao Iraque, o que inclui a abertura de uma conta gratuita de e-mail.
Uma porta-voz da Yahoo não comentou especificamente o caso, citando sua política de privacidade, mas disse que a empresa conhece e respeita as leis dos EUA e colaborará com as autoridades se assim for requisitada.
Aproveitando todo o bafafá, esta coluna enviou e-mails a Saddam e Uday pedindo entrevista. Mas não recebeu resposta até a conclusão desta edição.