São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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GASTRONOMIA

Casas de Aube merecem (muita) atenção

JORGE CARRARA
COLUNISTA DA FOLHA

Quando perguntaram a Lilly Bollinger quando preferia beber champanhe, ela respondeu: "Bebo-o quando estou feliz e quando estou triste. Algumas vezes, também quando estou só. Quando tenho companhia o considero obrigatório. Brinco com ele quando estou sem apetite e o bebo quando estou com fome. Fora isso, nunca o toco, a menos que esteja com sede".
Fora o marketing -afinal, na época, madame Bollinger era proprietária da renomada casa produtora de champanhes que leva o seu nome- a frase reflete muito bem a versatilidade desses deliciosos espumantes que os vinhateiros de Champagne elaboram nos mais diversos estilos.
A região de Champagne se encontra no norte da França, a pouco mais de 150 quilômetros de Paris, e conta com cerca de 30 mil hectares de vinhedos, divididos em cerca de 240 mil parcelas pertencentes a aproximadamente 20 mil proprietários. Apenas três variedades de uvas são utilizadas na elaboração dos vinhos: uma branca, a chardonnay, que dá vinhos finos e elegantes, e duas tintas -a pinot noir (que aporta corpo e estrutura) e a pinot meunier (de características bem frutadas).
São esses -três variedades de uvas, o resultado do seu cultivo nos diferentes solos e microclimas das inúmeras parcelas de vinhedos da região- os elementos que os produtores aprenderam a combinar com maestria no "assemblage". A técnica, utilizada para criar o vinho base, que ganhará posteriormente as borbulhas, integra vinhos de diferentes locais para obter uma mescla final com performance superior à dos componentes individuais.
Algumas casas chegam a combinar dezenas de vinhos no seu vinho base, dando assim uma personalidade praticamente única aos seus exemplares.
A maior parte das grandes casas produtoras (como Krug, Veuve Cliquot, Moët & Chandon) se concentra no eixo Reims-Epernay, as duas maiores cidades da região. Em volta delas, nas áreas de Montaigne de Reims, Vallée de la Marne e Côte de Blancs, concentram-se 80% dos vinhedos.
Mas há outra área (às vezes omitida até nos mapas de Champagne), localizada mais ao sul: Aube. A região conta com seis mil hectares de parreiras e algumas casas desconhecidas por aqui, mas que merecem (muita) atenção. Como a Drappier, por exemplo, que acaba de estrear no Brasil.
A firma foi fundada em 1808 e possui cerca de 45 hectares de vinhedos na região. A sua sede, localizada em Urville, um pequeno vilarejo com 149 habitantes, conta com uma série de antigas caves subterrâneas construídas no século 12 pelos monges cistercienses que ajudaram a organizar a vitivinicultura da região.
Três exemplares Brut (considerados secos) integram o primeiro desembarque: o Carte d'Or, o Charles de Gaulle 93 e o top da casa, o Grande Sendrée, safra 95.
O Carte d'Or mostra aroma intenso (levedura e fruta) e paladar cremoso e persistente. As mesmas características estão presentes no Charles de Gaulle (cuvée lançada em 1990, em homenagem ao general que morava na vizinha cidadezinha de Colombey-les-Deux-Eglises e era cliente da casa), um vinho um pouco mais encorpado.
Mas o destaque do trio é o Grande Sendrée, que apresenta perfume complexo (leve pêssego, lichia, toques cítricos e de pão fresco), paladar longo, com textura dada por bolhas finas, e uma performance à altura de grandes cuvées (como Dom Pérignon), com uma vantagem sobre elas: custa pouco mais do que a metade.


O colunista Jorge Carrara visitou à região de Champagne a convite do CIVC (Comité Interprofessionnel du Vin de Champagne)

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