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TEATRO
Ziraldo estréia peça e critica programas infantis de TV
PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO
"Até eu já não ando me suportando mais", brinca Ziraldo Alves
Pinto, 70. O cansaço de si próprio,
de tal maneira anunciado, pode
sugerir dilemas existenciais, metafísicos. Parece, entretanto, ter
fundo menos aéreo, mais urgente.
No ano que vem, o cartunista e
escritor é o enredo da escola de
samba paulistana Nenê de Vila
Matilde. Em 2004, assina o cartaz
da 26ª Bienal de São Paulo. Também uma exposição sobre a sua
faceta de cartazista foi inaugurada
recentemente no Rio.
O programa "Turma do Pererê", produção da TVE/Rede Brasil
inspirada em personagens suas,
foi na primeira semana de setembro o quinto programa mais assistido da TV Cultura, deixando
para trás em audiência o mais dispendioso "Ilha Rá-Tim-Bum",
que não figurou então entre os
cinco primeiros da emissora.
A fadiga declarada reflete, assim, o incremento do número de
projetos e convites que o cartunista vem ultimamente experimentando. Um deles é a peça "Bonequinha de Pano", que estréia
amanhã em São Paulo.
"Sou o velhinho mais produtivo
do Brasil. É uma coisa engraçada,
porque a tendência de a pessoa
chegar a essa idade provecta que
cheguei é ou se aposentar ou ficar
à côte da vida. Acho que este é o
momento de mais coisa acontecendo na minha vida, simultaneamente", afirma.
"Bonequinha de Pano" é a primeira incursão de Ziraldo pela
dramaturgia infantil. Habitué dos
palcos desde os anos 60 (com a estréia de "Flicts"), por meio de
adaptações de seus livros, ele tem
oito montagens em cartaz.
"Já escrevi algumas peças para
os adultos. Mas nunca tinha muita paciência nem me ocorria nenhuma idéia que pudesse virar
teatro infantil", comenta. O texto,
criado especialmente para a atriz
Zezé Fassina, mostra o esquecimento a que é legada uma boneca
depois que sua dona, a menina
Leninha, cresce.
Sobre o universo teatral infantil,
Ziraldo identifica situações bastante díspares no nível dos espetáculos, da interpretação dos autores, da qualidade dos textos. "Não
sou da área, mas sei que há um
teatro infantil em que se faz um
trabalho muito sério. Foi sempre
um laboratório para muita gente,
mas ao mesmo tempo há muito
projeto caça-níqueis, que vai para
escola vender espetáculo."
Passando ao palco maior -a
TV- o artista tem opiniões críticas aos programas para as crianças. "Eles atendem muito a uma
falsa expectativa em relação ao
público, aceitam muito a tendência popular. Diz-se "vamos fazer o
que o público está querendo e às
vezes se quebra a cara". É preciso
acreditar na intuição."
E por que "Turma do Pererê",
para ele, escapa da sina e tem conseguido obter sucesso? "O "Pererê"
não acha a criança imbecil. O que
fascina no programa é a trama,
porque até as roupas são "malfeitinhas". A caracterização dos meninos acho fraquíssima. Se forem levados em consideração os recursos que há hoje -você vê ator
americano ficar, virar gordo e não
consegue fazer um menino virar
coelhinho direito..."
Ziraldo refere-se ao exíguo caixa do programa. "Talvez um sucesso sirva para alguém investir,
para fazer direito. Ele foi feito com
muito sacrifício, mas é um belo
resultado", observa.
A respeito de "Ilha Rá-Tim-Bum", que o cartunista diz não
assistir, levanta a possibilidade de
ser "um pouco exacerbado". "Fiz
uma coisa light. Porque a criança,
na essência, não mudou. O que
muda é o entorno."
BONEQUINHA DE PANO. Texto: Ziraldo.
Direção: Carlos Arruda "Puruca". Com:
Zezé Fassina. Onde: Sesc Belenzinho (av.
Álvaro Ramos, 915, tel. 0/xx/11/6602-3700) Quando: amanhã, às 16h; sáb. e
dom., às 16h; até 29/12. Quanto: R$ 5.
Patrocinador: Material Didático Positivo.
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