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MÚSICA
Organizada pelo jornalista Silvio Essinger, edição traz fotografias e textos inéditos, além de CD com gravações raras
Livro remexe na memória de Raul Seixas
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Em um rompante de 1978, Raul
Seixas afirmou: "Não sou cantor
nem compositor. Uso a música
para dizer o que penso." Cantor e
compositor absolutamente original e pensador absolutamente
caótico -e por causa disso interessantíssimo muitas vezes-
Raul não poderia ser tema de nada que fosse linear e previsível. "O
Baú do Raul Revirado" (R$ 45,
232 págs.), que chega às livrarias,
comprova isso.
Para a Ediouro, dar ao livro uma
cara de almanaque pode até ser
uma tentativa de posicioná-lo na
cola do sucesso de "Almanaque
Anos 80". Para a viúva Kika Seixas, idealizadora do projeto, e para o jornalista Silvio Essinger, organizador do material, o formato
é coerente com o que foi e fez Raul
em seus 44 anos (1945-1989) de
metamorfose ambulante.
"É um livro do Raul. Com os
textos dele, a estética dele. Não
poderia ser asséptico, tinha que
ter sujeira", resume Essinger.
O "Revirado" do título indica
que este "Baú" é continuação do
primeiro, de 1992. Na época, o crítico Tárik de Souza organizou os
textos, poemas e bilhetes que o
compositor escreveu ao longo da
vida. Além da reviravolta gráfica,
a nova edição traz mais escritos
-em parte tirados de "As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de
Thor", editado por Paulo Coelho
em 1983- um CD com seis gravações raras e muito mais imagens (cerca de mil).
Entre elas, curiosidades como
fotos do "álbum de bebê" do futuro roqueiro, a reprodução do envelope que Raul lacrou na infância e disse que só poderia ser aberto no dia de sua morte -o que foi
feito por sua mãe, que encontrou
apenas moedas e notas velhas- e
a carteirinha do Elvis Rock Club,
do qual foi um dos fundadores em
Salvador.
"Nós fotografamos os cadernos
da infância e da adolescência,
quando escrevia sobre Elvis.
Eram organizados, quase agendas
de menina", brinca Essinger.
E coube ao jornalista, a pedido
de Kika, dar um pouco mais de
ordem ao caos. Ele dispôs o material cronologicamente, abriu os
capítulos com notas biográficas e
escreveu pequenas críticas sobre
todos os discos de Raul, partindo
de "Raulzito e Os Panteras" até
chegar ao trabalho com o conterrâneo Marcelo Nova. Há, ainda,
comentários a respeito de participações significativas do cantor.
É o caso de "Carimbador Maluco", faixa do telemusical infantil
"Plunct Plact Zum" que, em 1983,
ajudou a conter a descida ladeira
abaixo de Raul, que enfrentou na
última década de vida a corrosão
do alcoolismo e o sensacionalismo de parte da imprensa.
"Raul tinha o projeto claro de
ser uma estrela. E descobriu o caminho da música popular. Mas
era uma relação conturbada com
o sucesso, que lembra um pouco
as de Renato Russo e Kurt Cobain", diz Essinger.
Os altos e baixos são exemplificados por anotações do adolescente ("O maior desejo meu!!! Ser
popular no mundo inteiro ou ser
"artista de cinema" ou cantor.
Quando eu passasse pelas ruas,
mil garotas avançavam em mim
beijando-me... eta pau!!") e do
adulto envelhecido ("Estou magoado por não ouvir minhas músicas tocando nas rádios nem ser
chamado para programas de televisão. Eles me esqueceram.").
Mas, em meio a muitos textos
depressivos, do baú saem pensamentos de esperança do artista
que sonhou uma "sociedade alternativa". "Todo homem e toda
mulher é uma estrela", grita no
CD encartado no livro.
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