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Crítica/dança
Quasar conduz trama pueril com gestual rico
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
No último sábado, estreou em São Paulo, no
Teatro Alfa, "Uma
História Invisível", coreografia
de Henrique Rodovalho para a
Quasar Cia. de Dança. Rodovalho se inspirou nos cinco sentidos ao tratar da complexidade
das relações humanas e procurou contar uma história, com
estrutura narrativa, dividida
em três atos.
Os cinco sentidos são vistos
de forma ambígua, naquilo que
poderiam despertar: não o que
está imediatamente à nossa
frente, mas aspectos que se deixam apreender por eles. O corpo conduz os fios que o religam
a si mesmo e ao seu redor.
Um eixo narrativo -"o relacionamento conflituoso entre a
visão e o tato"- não foge a uma
obviedade assumida pelo coreógrafo. Nem por isso deixa de
contrastar com a riqueza e engenhosidade dos movimentos
do corpo e da cena.
É verdade que uma briga em
que a visão arranca pedaços da
pele talvez seja alegórica demais. A entrada da visão caminhando de venda nos olhos também. Mas, se por um lado a
história assume forma pueril,
por outro a intensidade dos
gestos garante outro tipo de envolvimento.
Mesmo com esse tipo de narrativa mais direta, o que predomina no espetáculo são os ordenamentos espaciais, compassando a continuidade do
mundo por meio das modulações gestuais e da comunica-
ção entre os vários elementos
da cena.
Os movimentos característicos de Rodovalho -articulações, torções e acentos- multiplicam as dobraduras e conferem espessura à peça.
Os corpos tensionados, arqueados ou estirados em deslocamento criam novas superfícies de contato e acentuam sua
presença, marcando o espaço
a fundo.
Percepções diferenciadas
A última coreografia do grupo, "Só Tinha de Ser com Você"
(2005), inspirado nas canções
do álbum "Elis & Tom", articulava uma narrativa nas letras
das canções e outra trama nos
corpos. Neste ano, as músicas
vão do piano de Arvo Pärt para
as sonoridades eletrônicas do
brasileiro Amon Tobin e as texturas japonesas de Ryuichi Sakamoto e Kodo, criando percepções diferenciadas.
Os variados timbres e acentos musicais que marcam as
personagens conduzem a atenção para determinado sentido,
provocando um novo contato
com quem vê. A música retorna
com seus personagens, em ciclos de tensão narrativa.
A cenografia de Letycia Rossi
e a luz de Rodovalho dramatizam três estações: outono, inverno e primavera. No cenário,
muitos fios que povoam o palco
em toda sua extensão criam um
jogo entre profundidade e superfície, complementado pela
disposição dos bailarinos em
zonas escuras, quase esmaecidas, ou partes luminosas, que
se acentuam com a presença
da visão. As cores do figurino,
de Cássio Brasil, e da luz regem
a variação da temperatura no
espetáculo.
A cada criação, Rodovalho
busca novas possibilidades de
articulação. Em "Uma História
Invisível" a procura de uma
narrativa polariza os embates
que estruturam sua obra, deixando em aberto o resumo (de
resto impossível) sobre a batalha amorosa dos sentidos.
UMA HISTÓRIA INVISÍVEL
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