São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2010 |
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Davi e Golias, em versão colombiana
Como Hollman Morris, com seu pequeno televisivo "Contravía", despertou a ira do ex-presidente Álvaro Uribe
No dia 3 de fevereiro de
2009, após a libertação de
quatro reféns das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o então
presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, foi à televisão fazer um pronunciamento. Folha - Quando surgiu o "Contravía"? Juan Pablo Morris - Em 2003, financiado pela União Europeia. De cara, conquistamos o Simon Bolívar e o India Catalina, dois principais prêmios de jornalismo da Colômbia. No ano seguinte, a Embaixada da Holanda financiou outros 60 capítulos. Quantas pessoas fazem o programa? Juan Pablo - Eu, meu irmão, um jornalista, um estagiário e um câmera. Viajamos de ônibus, dormimos de favor na casa dos outros. Transmitimos na menor emissora, o Canal Uno, quase todo dedicado a televenda e programação religiosa. Compramos meia hora semanal por US$ 1.500. Por que a briga com Uribe? Juan Pablo - Isso começou em 2005, quando fizemos o episódio "No Podemos Guardar Silencio", sobre San José Apartado, comunidade localizada em uma área de conflito entre militares e guerrilheiros. Em dez anos, 150 pessoas haviam sido mortas. O problema é que Álvaro Uribe governara esta região entre 1995 e 1997. Despertamos uma raiva pessoal. O que aconteceu em seguida? Juan Pablo - Começaram as ameaças. Hollman recebeu flores em casa em "luto" por sua "futura" morte. Uribe o acusou de estar ligado às guerrilhas. A Embaixada da Holanda não prolongou o financiamento. Atualmente quem banca o programa? Juan Pablo - A Fundação George Soros, que doou US$ 140 mil. Voltamos ao ar no domingo passado, com um episódio sobre a polícia secreta da Colômbia. [Juan Pablo pega uma caixa repleta de papéis]. Isso é o resultado da espionagem que eles fizeram sobre nós e que está sendo julgada pela Suprema Corte. Por sermos parte do processo, temos acesso [Ele mostra cópias de e-mails grampeados, um mapa com as viagens internacionais de Hollman e uma apostila de um suposto curso da polícia, cujo enunciado diz: "Iniciar campanha de desprestígio a nível internacional, através de comunicados e inclusões em vídeos das Farc"]. É um Watergate, só que pior. Como vocês conseguiram acompanhar a libertação de reféns da Farc? Juan Pablo - Recebemos um telefonema das Farc no meu celular. Ligamos várias vezes de volta para averiguar se era cilada. Hollman e o cinegrafista decidiram ir à aldeia combinada e ficaram oito dias esperando, até receber outra ligação: "Vamos libertar os reféns. Se quiserem presenciar, o lugar é X." Hollman - Era uma ação de libertação. Antes, eu havia estado cinco vezes em acampamentos, todos sem reféns. Entenda: nunca vou deixar um campo de sequestrados com material jornalístico e sem os sequestrados.
Pretende voltar à Colômbia?
Hollman - Estou nos Estados Unidos desde agosto,
com minha família. Na Colômbia, são quase dez anos
de ameaças, em que meus filhos cresceram com escolta.
Aqui tenho uma vida. Gostaria de ficar mais. |
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