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"Deixo a moda-uniforme para burrinhas"
DA EDITORA DE MODA
Elke Maravilha leva a sério
essa história de estilo.
Nos idos de 1969, recém-chegada ao Rio, ela resolveu
mudar o visual e desbravar
as avenidas cariocas vestindo roupa rasgada e maquiagem borrada.
Resultado: tomou uma
surra feia de um grupo de
mauricinhos em Ipanema.
"Eu morro, mas não viro normalzinha, arrumadinha. Minha roupa é alma, é expressão. A modinha-uniforme eu
deixo para as burrinhas sem
personalidade", diz.
Anos depois, virou modelo
profissional. Desfilou para
grandes estilistas entre as décadas de 70 e 80, entre eles
Guilherme Guimarães e Zuzu
Angel (1923-1976). Inspirou
criações de Clodovil (1937-2009), montou figurinos para o grupo performático Dzi
Croquettes e ganhou espaço
como ícone fashion.
Na passarela e nos editoriais, ela encarnava personagens um tanto sem graça para o seu gosto apimentado,
mas a exuberância de Elke
Maravilha influenciou os
fashionistas da época.
"Depois de um certo tempo, minhas loucuras acabavam sendo incorporadas às
fotos, as pessoas me achavam muito criativa. Mas às
vezes tinha de botar um terninho e me sentia ridícula."
Seus looks, segundo ela,
são um misto de escavação
arqueológica, elementos religiosos e folclore, tudo temperado com um olhar novo.
"Pego as referências, dou
uma remexida e jogo tudo
para o futuro. Fui pioneira da
roupa multicultural."
Elke conta que escolhe seu
figurino a partir do que está
sentindo no dia. "Defino a
minha roupa a partir do meu
espírito. Às vezes, até ponho
na mala mais de uma roupa
para escolher quando vou
participar de algum evento."
Gosta de ter pelo menos
uma hora para se arrumar e
maquiar, "mas posso fazer
até em 20 minutos". "Querem que a gente use só o cabelo da cabeça. Mas eu acho
isso mixo. Gosto de aplique."
Musa de estilistas contemporâneos como Ronaldo Fraga e Walério Araújo, diz que
se emociona com as homenagens e adora quando aparece
um convite para desfilar.
"Ai, criança, a veia aqui
ainda dá pinta na passarela",
diz, soltando uma contagiante gargalhada.
(VW)
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