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TELEVISÃO
Atores de "Casa" foram ótimos personagens de si próprios
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
"Vamos tentar mudar de
assunto" foi a frase mais
dita na última semana. Impossível. Minutos depois, voltava-se a
falar de "Casa dos Artistas". Porque, quando tudo parecia cair no
marasmo típico de fim de novela,
a chapa esquentou, meu "bródi".
Na segunda-feira, Alexandre
Frota e Patrícia Coelho fizeram
gestos inconfundíveis sob o edredom, ao som da versão de "My
Way" de Sex Pistols, depois de 40
capítulos em que os dois embaçaram. Na terça, Supla chorou pela
primeira vez na "Casa".
Se o coração do teatro é o personagem, e a alma é o ator (Stanislavsky), o SBT teve muita sorte na
primeira edição de seu "reality
show": seus atores foram ótimos
personagens de si próprios.
Supla vencerá a gincana. O herói em busca da verdade e da justiça, como Hamlet, aquele que foi
atormentado pelo fantasma do
pai e pelos novos caminhos da
mãe, será coroado por ter se mantido fiel a seus princípios.
Frota, esta máquina procriadora movida a açaí, humanizou-se
no final. A mistura de Lady Macbeth com Caliban, o bruto de "A
Tempestade", deu o tempero shakespeariano ao programa com
suas intrigas e seduções. Sua figura é muito polêmica para vencer.
Patrícia correu por fora e se revelou tarde demais. Todos gostavam dela. Frágil e carente, era
uma Julieta sem o seu Romeu.
Bárbara Paz talvez merecesse o
prêmio. Seu passado trágico angariaria votos. Sempre rindo e
chorando, intransigente, errou no
final: como uma megera indomada, cobrou do herói uma transparência difícil de ser conquistada. E
Mari só chorava...
Será que há realidade no "reality
show", em que uma penca de câmeras grava tudo? Um: quem se
importa? Dois: alguém sabe o que
é ser real, diante de alunos, de
amigos ou da própria imagem refletida no espelho?
Se a trama lembrou Shakespeare, a montagem, o ritmo, por vezes, lembrou o teatro de Peter
Brook, cujo gesto mínimo é superdimensionado, e em cuja lentidão está a essência da busca pelo
sentido da existência humana.
A dificuldade de verbalização
dos personagens criou diálogos
presos ao caos, como em Bergman, porque assim caminha a humanidade: alguém sabe expor
com clareza aquilo que sente?
Ironicamente, "Casa dos Artistas" é uma lição de dramaturgia.
Ou a prova cabal do desgaste e das
limitações do gênero. O buraco de
fechadura do SBT conquistou o
brasileiro, especialmente pelo debate sobre ética e privacidade.
No Brasil das ocas, senzalas,
praias, favelas e cortiços, em que o
povo se toca, exibe-se com naturalidade, não faz sentido estabelecer limites para a privacidade, faz?
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