São Paulo, terça-feira, 14 de dezembro de 2004

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MÚSICA

Rapper paulista lança hoje, no bar Balcão, livro em que relembra passagens e curiosidades de sua carreira, desde 1980

Memória de Thaíde se confunde com história do rap

LULIE MACEDO
DA REVISTA DA FOLHA

"Você não sabe de onde eu vim / e não sabe pra onde eu vou, / mas pra sua informação / vou te falar quem eu sou."
O nome dele é Thaíde. E, a essa altura, não precisa mais de rimas para se apresentar. Na condição de pioneiro do hip hop nacional, o autor dos versos de "Corpo Fechado" -um dos primeiros raps a fazer sucesso no Brasil, em 1988-, hoje com 37 anos, seria dessas pessoas precocemente biografadas não fosse um detalhe: sua história se entrelaça de tal modo com a do hip hop no Brasil que narrar a trajetória desse caboclinho da Vila Missionária (zona sul de São Paulo) é o mesmo que reconstituir os passos de break que riscaram o solo da estação São Bento do metrô, há 20 anos.
Sendo assim, o livro que o rapper lança hoje no bar Balcão, "Pergunte a Quem Conhece: Thaíde", ultrapassa a classificação de biografia de artista; funciona como documento histórico, costurando nomes, datas e episódios fundamentais para o destino de um dos movimentos socioculturais mais importantes do último século.
A idéia surgiu na Labortexto -a mesma editora de "Diário de um Detento", de Jocenir Prado, e "Capão Pecado", de Ferréz. Em junho de 2003 o jornalista e autor César Alves colou no rapper, acompanhando shows, gravações e registrando conversas nostálgicas com amigos e parceiros.
O texto segue o fluxo das memórias de Thaíde -não há ordem cronológica exata. Os capítulos, curtos, dividem-se em três partes: "Senhor Tempo Bom", que cobre os primeiros contatos com o hip hop, "Vamos que Vamos", sobre a formação da dupla Thaíde & DJ Hum, e "Pode Crer", que tece considerações (além de fazer justiça) sobre importantes personagens da cultura de rua, como o dançarino Nelson Triunfo e o rapper Sabotage, morto em 2003, além de tentar desfazer mal-entendidos, como a rusga com o carioca Gabriel, o Pensador.
Há trechos impagáveis. Como a primeira vez em que Thaíde viu Hum, no banheiro de uma boate, e teve vontade de tomar o tênis bacana do DJ. Ou quando se deparou com Nelson Triunfo e sua Funk Cia. dançando na rua 24 de Maio e foi perguntar o que estava rolando. "É o pessoal do "bleique'", lhe explicaram.
A seus contemporâneos, Thaíde abre intimidades como a composição da música "Consciência", cuja levada (estilo próprio de rimar) foi criada sobre a base de "Paul Revere", dos Beastie Boys.
Como todo desbravador, "causos" não lhe faltam. Foi difícil, provavelmente, selecioná-los. Mesmo assim o livro passa correndo por episódios que atiçam a curiosidade, como a dissolução da dupla Thaíde & DJ Hum (o livro vem acompanhado de um CD com a primeira gravação solo do rapper, "Caboclinho Comum").
Falta espaço também para a amizade com Nino Brown, importante e desconhecido personagem da velha escola, a relação com os Racionais MCs e detalhes da contundente opinião de Thaíde sobre machismo no rap.
Em tom saudosista quando relembra o passado, mas olhando para a frente ao sugerir sucessores (como Kamau, Sombra, Max B.O.), Thaíde passa a limpo a saga do hip hop nacional ao mesmo tempo em que aponta novos caminhos. Como bons mestres costumam fazer.


PERGUNTE A QUEM CONHECE: THAÍDE. Autor: César Alves. Editora: Labortexto. Quanto: R$ 25 (124 págs.). Quando: lançamento hoje, às 19h, no bar Balcão (r. Dr. Melo Alves, 150, Cerqueira César, São Paulo, tel. 0/xx/11/3063-6091).


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