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MÚSICA
Rapper paulista lança hoje, no bar Balcão, livro em que relembra passagens e curiosidades de sua carreira, desde 1980
Memória de Thaíde se confunde com história do rap
LULIE MACEDO
DA REVISTA DA FOLHA
"Você não sabe de onde eu vim /
e não sabe pra onde eu vou, / mas
pra sua informação / vou te falar
quem eu sou."
O nome dele é Thaíde. E, a essa
altura, não precisa mais de rimas
para se apresentar. Na condição
de pioneiro do hip hop nacional,
o autor dos versos de "Corpo Fechado" -um dos primeiros raps
a fazer sucesso no Brasil, em
1988-, hoje com 37 anos, seria
dessas pessoas precocemente biografadas não fosse um detalhe:
sua história se entrelaça de tal modo com a do hip hop no Brasil que
narrar a trajetória desse caboclinho da Vila Missionária (zona sul
de São Paulo) é o mesmo que reconstituir os passos de break que
riscaram o solo da estação São
Bento do metrô, há 20 anos.
Sendo assim, o livro que o rapper lança hoje no bar Balcão,
"Pergunte a Quem Conhece:
Thaíde", ultrapassa a classificação
de biografia de artista; funciona
como documento histórico, costurando nomes, datas e episódios
fundamentais para o destino de
um dos movimentos socioculturais mais importantes do último
século.
A idéia surgiu na Labortexto
-a mesma editora de "Diário de
um Detento", de Jocenir Prado, e
"Capão Pecado", de Ferréz. Em
junho de 2003 o jornalista e autor
César Alves colou no rapper,
acompanhando shows, gravações
e registrando conversas nostálgicas com amigos e parceiros.
O texto segue o fluxo das memórias de Thaíde -não há ordem cronológica exata. Os capítulos, curtos, dividem-se em três
partes: "Senhor Tempo Bom",
que cobre os primeiros contatos
com o hip hop, "Vamos que Vamos", sobre a formação da dupla
Thaíde & DJ Hum, e "Pode Crer",
que tece considerações (além de
fazer justiça) sobre importantes
personagens da cultura de rua,
como o dançarino Nelson Triunfo e o rapper Sabotage, morto em
2003, além de tentar desfazer mal-entendidos, como a rusga com o
carioca Gabriel, o Pensador.
Há trechos impagáveis. Como a
primeira vez em que Thaíde viu
Hum, no banheiro de uma boate,
e teve vontade de tomar o tênis
bacana do DJ. Ou quando se deparou com Nelson Triunfo e sua
Funk Cia. dançando na rua 24 de
Maio e foi perguntar o que estava
rolando. "É o pessoal do "bleique'", lhe explicaram.
A seus contemporâneos, Thaíde
abre intimidades como a composição da música "Consciência",
cuja levada (estilo próprio de rimar) foi criada sobre a base de
"Paul Revere", dos Beastie Boys.
Como todo desbravador, "causos" não lhe faltam. Foi difícil,
provavelmente, selecioná-los.
Mesmo assim o livro passa correndo por episódios que atiçam a
curiosidade, como a dissolução
da dupla Thaíde & DJ Hum (o livro vem acompanhado de um CD
com a primeira gravação solo do
rapper, "Caboclinho Comum").
Falta espaço também para a
amizade com Nino Brown, importante e desconhecido personagem da velha escola, a relação
com os Racionais MCs e detalhes
da contundente opinião de Thaíde sobre machismo no rap.
Em tom saudosista quando relembra o passado, mas olhando
para a frente ao sugerir sucessores
(como Kamau, Sombra, Max
B.O.), Thaíde passa a limpo a saga
do hip hop nacional ao mesmo
tempo em que aponta novos caminhos. Como bons mestres costumam fazer.
PERGUNTE A QUEM CONHECE:
THAÍDE. Autor: César Alves. Editora:
Labortexto. Quanto: R$ 25 (124 págs.).
Quando: lançamento hoje, às 19h, no bar
Balcão (r. Dr. Melo Alves, 150, Cerqueira
César, São Paulo, tel. 0/xx/11/3063-6091).
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