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Dois grupos de teatro ganham livros
As cias. dos Atores e Os Satyros têm publicadas suas trajetórias em torno da experimentação cênica e dramatúrgica
Os Satyros contou com um integrante jornalista para relatar sua história; a cia. carioca organizou visões de atores e pesquisadores
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O teatro brasileiro contemporâneo ainda está aquém da
maioridade editorial. Mas a
cultura de teatro, cultura de ler
e ver, tenta cada vez mais transcender à cena. Um dos indícios
é a convergência de lançamentos de livros sobre dois importantes grupos de teatro do país,
um do Rio de Janeiro e outro de
São Paulo: "Na Companhia dos
Atores - Ensaios Sobre os 18
Anos da Cia. dos Atores" e "Os
Satyros - Um Palco Visceral".
São publicações que reafirmam a importância do movimento de teatro de grupo no
Brasil, dos anos 90 para cá. O
registro é parte inerente da
criação e da reflexão.
Edição conjunta da Aeroplano e da Senac Rio, "Na Companhia dos Atores" foi organizado
por Enrique Diaz (ator e diretor), Fabio Cordeiro (co-diretor) e Marcelo Olinto (ator e figurinista). Com projeto gráfico
caprichado, cujas imagens dialogam com a inquietação e a irreverência características da
história da companhia, o livro
procura dimensionar a importância desse agrupamento de
artistas na cena carioca dos últimos anos. E o faz não apenas
pela voz dos seus integrantes,
mas amparado em pontos de
vista, às vezes dissonantes, de
pesquisadores como Clóvis
Dias Massa, Cristina Ribas, Fátima Saadi, Silvana Garcia e Silvia Fernandes.
O olhar retrospectivo não
surge de modo linear, mas entrecortado por depoimentos,
ensaios e sobretudo fotografias
dos espetáculos, imagens que
têm igual peso na narrativa.
Na introdução, Diaz inicia
sua "fala" com reticências, sinal
de que a "obra aberta" é uma
das premissas. É divertido o relato da peça de origem, "Marat/Sade" (1988), livre adaptação da obra de Peter Weiss, erguida "com três atores, cinco
refletores de 500 W, uma piscina tony com um pano preto para disfarçar o azul do plástico. E
um guitarrista convidado. E pijamas. E era bom".
Ainda que fruto da reunião
de amigos interessados em pesquisar algumas coisas sobre
pessoas que admiravam sem as
conhecer, como os pensadores
e criadores de teatro Tadeusz
Kantor, Bob Wilson e Meyerhold, a base teórica não era tratada com displicência, nunca
foi; fazia parte do jogo que vai
dar em concepções bem-sucedidas, como nas visitas à obra
de Oswald de Andrade, "nosso
parceiro e referência", "permanente coringa das artes e das letras", na voz de Diaz: "A Morta"
(1992) e "O Rei da Vela" (2000).
Ou a obsessão pela realidade
da cena, no "duelo" entre a pesquisa e o como trazê-la a público, embates das inquietantes
montagens de "A Bao A Qu
-Um Lance de Dados" (1990),
"Melodrama" (1995) e "Ensaio.Hamlet" (2004).
Praça Roosevelt
A Companhia de Teatro Os
Satyros ruma para os 18 anos,
em 2007, com forte presença
na cena da cidade de São Paulo.
Radicada há cinco anos na praça Franklin Roosevelt, região
central, transformou a geografia humana local sobretudo pelo vetor da arte do teatro. São
dois espaços com programações de segunda a segunda,
abertos a outros grupos. Predominam as peças de caráter experimental no texto, na direção
ou na interpretação.
Em "Os Satyros - Um Palco
Visceral", que sai pela Imprensa Oficial (coleção Aplauso), o
jornalista, crítico e ator Alberto
Guzik reconta a história do grupo dando voz a seus fundadores, o diretor Rodolfo García
Vázquez e o ator Ivam Cabral.
"A palavra fica na boca do Rodolfo e do Ivam, na forma de
uma longa conversa em que
procurei ficar o mais invisível
possível", diz o autor, há três
anos integrado ao elenco.
Entre as montagens marcantes de Os Satyros, grupo também de Curitiba, estão "Sades
ou Noites com os Professores
Imorais" (1990), depois "Filosofia na Alcofa", cuja remontagem está em cartaz; "Antígona"
(2003); e "A Vida na Praça Roosevelt" (2005). A mesma Imprensa Oficial lança "O Teatro
de Ivam Cabral - Quatro Textos
Para um Teatro Veloz" (R$ 15,
280 págs.), onde o ator mostra
sua face de dramaturgo.
NA COMPANHIA DOS ATORES - ENSAIOS SOBRE OS 18 ANOS DA CIA. DOS ATORES
Organizadores: Enrique Diaz, Fabio Cordeiro e Marcelo Olinto
Editora: Aeroplano/Senac Rio
Quanto: R$ 65 (387 págs.)
OS SATYROS - UM PALCO VISCERAL
Autor: Alberto Guzik
Editora: Imprensa Oficial
Quanto: R$ 15 (344 págs.)
Lançamento: amanhã, às 19h
Onde: Espaço dos Satyros 1 (pça. Franklin Roosevelt, 214, tel. 0/xx/11/
3258-6345)
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