São Paulo, sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br

Comme Geraldo

A grife Comme des Garçons cria linha de camisetas com fotos do artista brasileiro Geraldo de Barros

Pouca gente imaginaria um encontro tão improvável. Mas ele aconteceu. A supercultuada estilista Rei Kawakubo, da grife Comme des Garçons, se encantou com o trabalho do artista plástico brasileiro Geraldo de Barros (1923-1998) e está lançando uma linha de cinco camisetas que estampam fotos feitas por ele nos anos 40 e 50.
As camisetas estarão à venda nas lojas da grife a partir de janeiro, com preços entre US$ 150 e US$ 200 (cerca de R$ 177 a R$ 265). Kawakubo usou trabalhos em que o artista desenhava gatos e outras figuras em negativos fotográficos que reproduziam imagens de muros. "Logo que vi as fotos, eu as achei muito poderosas e belas", disse a estilista à Folha, numa entrevista por e-mail -outra surpresa, pois a discreta Kawakubo raramente fala com a imprensa e é avessa aos assédios da mídia. Aos 65, ela permanece um dos talentos mais criativos e inquietos da moda, após ter revolucionado a estética fashion nos anos 80.
No design das camisetas, junto às fotos, Kawakubo acrescentou listras pretas ou vermelhas e estampou o nome de Geraldo de Barros em diferentes formatos.
"Levei um susto ao ver o nome dele com tanto destaque", afirma a artista plástica Fabiana de Barros, filha de Geraldo.
As experimentações da Comme des Garçons com o trabalho de Barros não vão parar por aí. Em 2008, Kawakubo lança também uma série de camisas que estampam os trabalhos mais geométricos do artista, da série "Fotoformas".
 
FOLHA - Quando foi que a sra. entrou em contato pela primeira vez com a obra de Geraldo de Barros e o que mais a tocou no trabalho dele?
REI KAWAKUBO -
Foi numa livraria maravilhosa que há em Tóquio, e logo que vi as fotos eu as achei muito poderosas e belas.

FOLHA - Por que decidiu criar uma linha de camisetas com as imagens?
KAWAKUBO -
Eu realmente amei as fotos e estou sempre procurando alguma coisa nova e forte para as minhas coleções.

FOLHA - Que critério a sra. utilizou para selecionar as imagens e por que decidiu usar o próprio nome de Geraldo de Barros nas camisetas?
KAWAKUBO -
Escolhi minhas cinco fotos favoritas e achei que seria natural colocar o nome do autor. Mas, em vez de só acrescentar a sua assinatura, fiz um layout para o nome, pois achei que ficaria mais interessante.

FOLHA - As obras que a sra. escolheu são dos anos 40 e 50. O que elas têm a dizer a nossa época?
KAWAKUBO -
Penso que a verdadeira beleza é atemporal.

FOLHA - A sra. gosta de gatos? KAWAKUBO - Eu tinha cinco gatos. Eu adoro animais.

FOLHA - A sra. já esteve no Brasil?
KAWAKUBO -
Nunca estive, mas adoraria visitar a Bahia e o Norte do país, entre outros lugares. Muitas imagens vêm à minha mente quando se fala em Brasil: a arquitetura, a natureza, o futebol, todos os tipos de culturas reunidas, a música, a dança...

FOLHA - Não pensa em abrir uma loja Comme des Garçons no Brasil?
KAWAKUBO -
É muito difícil exportar para o Brasil por causa das altas taxas de imposto. Estamos observando a situação e espero começar a vender no país brevemente. Talvez começando com uma Guerrilla Store [loja itinerante da grife], se encontrarmos o parceiro certo. Mas não temos planos para nenhuma loja no momento porque ainda não encontramos este parceiro ideal.

FOLHA - O que a sra. busca em seu trabalho com moda?
KAWAKUBO -
Desde que decidi criar minha companhia, estou sempre à procura de algo novo. Criação para mim significa o novo, o tempo todo. Sempre fui livre para fazer o que queria, sem precisar seguir regras ou tendências. E sinto que as pessoas, ao usarem as minhas roupas, também se sentem livres para expressarem a si mesmas.

FOLHA - Por onde a sra. começa uma coleção? Pela forma?
KAWAKUBO -
Não, sempre começo por uma idéia abstrata. A forma pode vir logo em seguida ou bem mais tarde, mas eu inicio sempre com um conceito.

FOLHA - Que conceitos são importante na sua criação?
KAWAKUBO -
Liberdade, quebrar as regras, força, começar do zero, descartar idéias preconcebidas, a maioria está sempre errada.

FOLHA - O que o conceito de imperfeição significa para a sra.?
KAWAKUBO -
Eu sempre senti a beleza que existe na imperfeição, a beleza no inacabado.

FOLHA - O que mais a interessa na moda e o que mais a incomoda?
KAWAKUBO -
Neste momento, nada mais é muito interessante, infelizmente, e o que não é muito bom é o poder da mídia e das grandes companhias que tendem a ditar o que uma pessoa deve vestir. Gostaria que houvesse mais designers que assumissem riscos e não tivessem medo de fazer uma moda mais criativa.


com VIVIAN WHITEMAN

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