São Paulo, sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

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Crítica

Em novo CD, Emílio canta diferente (e melhor)

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Aos 60, Emílio Santiago emite um forte sinal de rejuvenescimento -ou de maturidade, o que é melhor.
O CD "De um Jeito Diferente", apropriado título retirado da faixa de abertura, faz jus ao seu talento, ao contrário de boa parte de tudo o que ele lançou.
O cantor assinou com a Indie Records em 2005 para fazer o que a gravadora mais gosta: CD ao vivo. "O Melhor das Aquarelas" remetia aos sete volumes da série "Aquarela Brasileira", que fizeram de Emílio um intérprete bem popular, mas previsível, à beira do insuportável.
O Emílio do novo trabalho é o dono de envolvente suingue, que empresta a voz a um bom repertório e o reveste de excelentes arranjos, executados por grandes músicos -o produtor Ricardo Silveira, Jorge Helder, Paulo Braga e outros.
João Donato faz uma cama de luxo para o cantor na faixa-título -bossa nova encorpada, com traços de bolero, feita pelo pianista com o irmão Lysias Ênio- e em "Um Dia Desses", melodia balançada com letra de Carlinhos Brown que é... uma letra de Carlinhos Brown.
Marcos Valle toca seu piano ou seu piano rhodes em quatro faixas também compostas por ele. "Água de Coco", parceria com o irmão Paulo Sérgio com referências à "Água de Beber" de Tom e Vinicius, lembra bem as gravações de Valle, com a voz dobrada de Emílio integrada à banda e um coro feminino.
Em "Disfarça e Vem" (letra de Ronaldo Bastos) e "Valeu" (de Joyce), os sopros contribuem para o molho com que Emílio tempera as divisões dos dois sambas. Já "Até o Fim" (de Valle e Carlos Lyra) é macia, bossa nova, terreno que o cantor domina. O bolero "E Era Copacabana" (Joyce/Lyra) é intenso nos traços nostálgicos.
Das três faixas assinadas por Mart'nália, "Não me Balança Mais", com sua mistura de Cuba com Pernambuco, é a que tem melhor resultado, com Emílio (em duo com a autora) saboreando a letra sensual sem passar do ponto. Em "Calma", ele se arrisca num falsete que não lhe cai bem. A já conhecida "Olhos Negros", além de ser bela parceria de Johnny Alf com Ronaldo Bastos, tem Nana Caymmi como segunda voz.
Bem mais conhecidas são "My Foolish Heart" e "Dindi".
Com introdução só de piano, lembrando a versão de Tony Bennett com Bill Evans, o standard fica bem na voz de Emílio.
O clássico de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira fica ainda melhor, cabendo na proposta cool do disco. É também com leveza que canta "Desilusión" (Rosa Passos/Santiago Auseron) e "Moça Flor" (Durval Ferreira/Lula Freire). Se Emílio fosse sempre assim diferente, seria igual aos melhores.


DE UM JEITO DIFERENTE
Gravadora:
Indie
Quanto: R$ 26, em média
Avaliação: ótimo


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