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Crítica
Em novo CD, Emílio canta diferente (e melhor)
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Aos 60, Emílio Santiago
emite um forte sinal de
rejuvenescimento -ou
de maturidade, o que é melhor.
O CD "De um Jeito Diferente",
apropriado título retirado da
faixa de abertura, faz jus ao seu
talento, ao contrário de boa
parte de tudo o que ele lançou.
O cantor assinou com a Indie
Records em 2005 para fazer o
que a gravadora mais gosta: CD
ao vivo. "O Melhor das Aquarelas" remetia aos sete volumes
da série "Aquarela Brasileira",
que fizeram de Emílio um intérprete bem popular, mas previsível, à beira do insuportável.
O Emílio do novo trabalho é o
dono de envolvente suingue,
que empresta a voz a um bom
repertório e o reveste de excelentes arranjos, executados por
grandes músicos -o produtor
Ricardo Silveira, Jorge Helder,
Paulo Braga e outros.
João Donato faz uma cama
de luxo para o cantor na faixa-título -bossa nova encorpada,
com traços de bolero, feita pelo
pianista com o irmão Lysias
Ênio- e em "Um Dia Desses",
melodia balançada com letra de
Carlinhos Brown que é... uma
letra de Carlinhos Brown.
Marcos Valle toca seu piano
ou seu piano rhodes em quatro
faixas também compostas por
ele. "Água de Coco", parceria
com o irmão Paulo Sérgio com
referências à "Água de Beber"
de Tom e Vinicius, lembra bem
as gravações de Valle, com a voz
dobrada de Emílio integrada à
banda e um coro feminino.
Em "Disfarça e Vem" (letra
de Ronaldo Bastos) e "Valeu"
(de Joyce), os sopros contribuem para o molho com que
Emílio tempera as divisões dos
dois sambas. Já "Até o Fim" (de
Valle e Carlos Lyra) é macia,
bossa nova, terreno que o cantor domina. O bolero "E Era
Copacabana" (Joyce/Lyra) é
intenso nos traços nostálgicos.
Das três faixas assinadas por
Mart'nália, "Não me Balança
Mais", com sua mistura de Cuba com Pernambuco, é a que
tem melhor resultado, com
Emílio (em duo com a autora)
saboreando a letra sensual sem
passar do ponto. Em "Calma",
ele se arrisca num falsete que
não lhe cai bem. A já conhecida
"Olhos Negros", além de ser bela parceria de Johnny Alf com
Ronaldo Bastos, tem Nana
Caymmi como segunda voz.
Bem mais conhecidas são
"My Foolish Heart" e "Dindi".
Com introdução só de piano,
lembrando a versão de Tony
Bennett com Bill Evans, o standard fica bem na voz de Emílio.
O clássico de Tom Jobim e
Aloysio de Oliveira fica ainda
melhor, cabendo na proposta
cool do disco. É também com
leveza que canta "Desilusión"
(Rosa Passos/Santiago Auseron) e "Moça Flor" (Durval
Ferreira/Lula Freire). Se Emílio fosse sempre assim diferente, seria igual aos melhores.
DE UM JEITO DIFERENTE
Gravadora: Indie
Quanto: R$ 26, em média
Avaliação: ótimo
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