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ROCK IN RIO
REM
Decanos da música americana dão lição de dignidade
ISRAEL DO VALE
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Foi uma lição de dignidade,
apesar do showbiz. A primeira apresentação brasileira do
REM, na madrugada de domingo
(encerramento da segunda noite
de festival), foi a súmula de uma
banda que atravessou duas décadas -do circuito universitário ao
estrelato- sem perder a vitalidade.
Ex-banda indie catapultada pelas "college radios", o REM mostrou que é possível frequentar o
balcão de negócios da indústria
da música sem precisar vestir o
uniforme de camelô do próprio
trabalho -com um tabuleiro de
hits debaixo do braço e um disco
ao vivo de ocasião de tempos em
tempos para encher os cofres.
Sim, o REM tem uma fieira considerável de sucessos, até mesmo
no Brasil, para um show de duas
horas formatado para "cantar
juntinho" -e quem não quer um
bom refrão pra sair assoviando do
show?
Disso, nenhuma das 190 mil
pessoas que, estima-se, estavam
na Cidade do Rock entre 1h15 e 3h
de domingo pode se queixar.
Das 19 músicas apresentadas no
show, bis incluso, pelo menos sete
eram hits absolutos -três delas
("One I Love", "Losing My Religion" e "End of the World"), de
arrepiar.
Não vai faltar quem se queixe da
falta de uma "Shiny Happy People" ou "Radio Song", músicas do
indispensável "Out of Time", que
estourou o grupo no Brasil na
época do Rock in Rio 2 -e lá se
vão dez anos.
Mas lembrar disso só reforça o
tom passadista do evento, que teria uma programação mais que
louvável se hoje fosse 15 de janeiro
de 1992.
O REM corre em outra categoria, apesar de também caber nessa. Embevecido com e pela caipirinha (chegou a erguer um brinde, de copo em punho no palco,
antes de despejar quase tudo duma vez goela abaixo), com o Rio,
o céu e os brasileiros, o vocalista e
líder do grupo, Michael Stipe, estava em visível êxtase, com os
olhos fixos no nada da multidão,
olhar paralisado.
Foi bastante generoso no palco,
como já tinha sido generoso com
os fãs, em aparições-surpresa pelas ruas, de chinelos, nos dias que
antecederam seu show. Por mais
de uma vez, Stipe desceu do palco
para cumprimentar o público.
Enquanto esteve sobre o tablado, fez seu público dançar, pular,
cantar junto, levado pela, ainda,
assombrosa malha de guitarras
que fez a fama da banda.
Em doses maiores ("Pop Song")
ou menores (na enérgica "Wake
Up", ou ainda na letárgica "Walk
Unafraid"), as guitarras são sempre ancoradouro para a fúria doida e/ou doída dos malabarismos
vocais de Stipe, malabarismos escorados na melhor utilização de
teclados (usados brilhantemente,
sem rebuscagem) que o rock dos
anos 90 pôde ver.
Foi um show redentor -não só
da programação, mas de todo o
cinismo embutido no bom-mocismo do slogan que circula pelo
shopping center musical plantado
na Cidade do Rock.
Avaliação:
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