São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 2001

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ROCK IN RIO


REM


Decanos da música americana dão lição de dignidade





ISRAEL DO VALE
ENVIADO ESPECIAL AO RIO



Foi uma lição de dignidade, apesar do showbiz. A primeira apresentação brasileira do REM, na madrugada de domingo (encerramento da segunda noite de festival), foi a súmula de uma banda que atravessou duas décadas -do circuito universitário ao estrelato- sem perder a vitalidade.
Ex-banda indie catapultada pelas "college radios", o REM mostrou que é possível frequentar o balcão de negócios da indústria da música sem precisar vestir o uniforme de camelô do próprio trabalho -com um tabuleiro de hits debaixo do braço e um disco ao vivo de ocasião de tempos em tempos para encher os cofres.
Sim, o REM tem uma fieira considerável de sucessos, até mesmo no Brasil, para um show de duas horas formatado para "cantar juntinho" -e quem não quer um bom refrão pra sair assoviando do show?
Disso, nenhuma das 190 mil pessoas que, estima-se, estavam na Cidade do Rock entre 1h15 e 3h de domingo pode se queixar.
Das 19 músicas apresentadas no show, bis incluso, pelo menos sete eram hits absolutos -três delas ("One I Love", "Losing My Religion" e "End of the World"), de arrepiar.
Não vai faltar quem se queixe da falta de uma "Shiny Happy People" ou "Radio Song", músicas do indispensável "Out of Time", que estourou o grupo no Brasil na época do Rock in Rio 2 -e lá se vão dez anos.
Mas lembrar disso só reforça o tom passadista do evento, que teria uma programação mais que louvável se hoje fosse 15 de janeiro de 1992.
O REM corre em outra categoria, apesar de também caber nessa. Embevecido com e pela caipirinha (chegou a erguer um brinde, de copo em punho no palco, antes de despejar quase tudo duma vez goela abaixo), com o Rio, o céu e os brasileiros, o vocalista e líder do grupo, Michael Stipe, estava em visível êxtase, com os olhos fixos no nada da multidão, olhar paralisado.
Foi bastante generoso no palco, como já tinha sido generoso com os fãs, em aparições-surpresa pelas ruas, de chinelos, nos dias que antecederam seu show. Por mais de uma vez, Stipe desceu do palco para cumprimentar o público.
Enquanto esteve sobre o tablado, fez seu público dançar, pular, cantar junto, levado pela, ainda, assombrosa malha de guitarras que fez a fama da banda.
Em doses maiores ("Pop Song") ou menores (na enérgica "Wake Up", ou ainda na letárgica "Walk Unafraid"), as guitarras são sempre ancoradouro para a fúria doida e/ou doída dos malabarismos vocais de Stipe, malabarismos escorados na melhor utilização de teclados (usados brilhantemente, sem rebuscagem) que o rock dos anos 90 pôde ver.
Foi um show redentor -não só da programação, mas de todo o cinismo embutido no bom-mocismo do slogan que circula pelo shopping center musical plantado na Cidade do Rock.


Avaliação:    



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