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Ingressos de cinema, teatro e shows aumentam em média mais
que a inflação em 2005; empresários culpam meia-entrada para estudantes
O preço da cultura
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O preço médio dos ingressos
para cinema, teatro e shows subiu, em 2005, mais do que a inflação. Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a variação desses três itens básicos da
cultura superou o aumento do
custo de vida do consumidor medido no ano passado pela mesma
instituição -que ficou em 4,93%.
Das sete capitais pesquisadas,
São Paulo foi a campeã dos aumentos. A entrada dos cinemas
paulistanos subiu, em média,
9,28% no ano passado, chegando
a custar até R$ 19 no Cinemark do
sofisticado shopping Iguatemi.
Em 2004, as salas da capital haviam elevado o preço dos ingressos em um nível bem menor:
2,09%, num ano em que a inflação
geral subiu com mais força.
Aumento mais forte ainda teve
o tíquete médio dos shows na cidade: 27,13% em 2005. Em 2004, a
alta havia sido de 9,55%. No teatro, o reajuste foi mais brando, de
5,89%, depois da disparada dos
ingressos em 2004 (44,33%).
Os dados obtidos pela Folha foram extraídos da pesquisa mensal
realizada pela FGV para determinar o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que mede a inflação
ao consumidor. As variações relativas aos preços da cultura foram
apuradas em São Paulo, Rio, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife,
Brasília e Salvador. O índice oficial de inflação adotado pelo governo não é o da FGV, e sim o do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) -que foi de
5,69% no ano passado.
Para quem está do outro lado do
balcão, as razões do aumento foram o crescimento da venda de
ingressos de meia-entrada -que
obrigaria os empresários a criar
um preço "artificial" para cobrir
seus custos- e a elevação das tarifas de energia elétrica e telefone.
"Os preços aferidos não correspondem à receita do exibidor.
Houve um aumento desenfreado
do uso de carteiras estudantis. Há
semanas de pico com 85% dos ingressos vendidos a meia-entrada.
O preço do tíquete médio não aumentou", afirma Valmir Fernandes, presidente da Cinemark, a
maior rede de São Paulo.
"A lei da meia-entrada inflaciona o custo do cinema para certas
pessoas, favorecendo a classe estudantil e os falsificadores", diz.
Para ele, não há hoje documento
de estudante que tenha "fé pública". "Daqui a pouco todo mundo
vai ter carteira falsa."
Casas de shows e produtores de
espetáculos fazem coro sobre o
assunto. "O grande motivo dos
aumentos é o meio-ingresso, que
cresceu nos últimos três anos",
afirma Paulo Amorim, do Tom
Brasil. "Temos que aceitar carteirinha de qualquer estabelecimento, até de escola de ioga."
"A quantidade de meia-entrada
vem aumentando, mesmo em
produções mais adultas", concorda a administradora do teatro Alfa, Beth Machado. "Em 2005, o dia
em que vendemos menos meia-entrada, 45% da platéia havia usado o benefício", conta.
"Os preços vêm subindo numa
tentativa de muitos produtores de
descumprir a lei", afirma Gustavo
Petta, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Petta
não nega a falsificação de documentos. Ele acredita que é preciso
haver "uma regulamentação mais
clara e fiscalização para combater
as fraudes".
Além das queixas sobre a meia-entrada, outros fatores são apontados como responsáveis pelos
aumentos de preço. O presidente
da Cinemark cita as tarifas de
energia elétrica, os custos de manutenção, o preço dos anúncios
na mídia e o condomínio pago
aos shoppings, onde está a maioria dos cinemas.
No caso das casas de shows,
além das tarifas e da publicidade,
os vilões seriam as passagens aéreas e os investimentos em novos
equipamentos de som.
Mas a política que determina os
preços dos ingressos não leva em
conta apenas os custos. Outros fatores, como a capacidade de pagamento do público e a concorrência também pesam.
"Observamos como está o preço dos outros teatros do nosso
porte e o tipo de público. Há alguns que "agüentam" mais, ou seja, mesmo quando há um aumento não deixam de vir", diz a administradora do Alfa. É esse o caso
do Cinemark Iguatemi, voltado
para um público de maior poder
aquisitivo, que oferece lugares
marcados e café de grife.
Para Renato Byington, da produtora D+3, que organizou o Claro que É Rock, o prestígio do artista com o público é fundamental
para definir o preço do ingresso.
"Não há área em que a lei da oferta e da procura funcione tão bem
quanto no show business", acredita Byington. Será?
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