São Paulo, terça-feira, 15 de janeiro de 2008

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Análise

Série premiada segue escola de "Soprano"

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Menos extenso em categorias do que o Emmy, mesmo assim o Globo de Ouro é uma premiação de enorme prestígio para a produção de TV americana. A entrega deste ano sinalizou, como na distribuição dos prêmios para cinema, uma pulverização entre as cadeias, produtores e tendências da ficção, mantendo o compromisso com o conceito de "quality TV" e sem se prender apenas a desempenhos de audiência.
A rede de TV a cabo AMC, até agora especializada em telefilmes, desbancou suas arquiconhecidas e concorrentes de peso, HBO e Showtime, com a vitória de "Mad Men" como melhor série dramática. Seu protagonista, Jon Hamm, também derrubou o multipremiado Hugh Laurie (de "House") e até mesmo a espetacular presença de Michael C. Hall em "Dexter". Os dois prêmios para "Mad Men" indicam a permanência do peso forte do modelo de ficção consolidada por "Família Soprano" na TV americana.
A escola Soprano foi onde o criador de "Mad Men" desenvolveu a pontaria que tão bem lhe serve nesta ficção em que a excelência dos diálogos funciona, como na criação de David Chase, como revelações clínicas dos males do homem médio americano.
Enquanto o quesito espetáculo foi menosprezado pela premiação, ao deixar de lado a luxuosa e vazia "The Tudors", a não menos espetacular presença de Glenn Close (que abrilhanta o ótimo "Dammages") reitera que a produção de TV é um nicho cobiçadíssimo por atores que outrora brilharam em produções de cinema (com ela concorriam, entre outras, Sally Field, Holly Hunter e Patricia Arquette, todas algum dia nomes fortes de Hollywood).
Já a premiação de séries cômicas ou musicais indica a tendência de ficções voltadas para os bastidores da ficção ("Extras", "30 Rock", "Entourage", "Californication", todas se passam em volta deste universo).
A escolha de "Extras" reitera a supremacia do britânico Rick Gervais sobre seus pares americanos. O cérebro cômico por trás da versão original de "The Office" dispara seu arsenal de gargalhadas para demolir o glamour da indústria do espetáculo na corrosiva "Extras". Na mesma veia, "Entourage" manteve o pique em sua quarta temporada, com o cinismo em foco. O ritmo de "30 Rock" garantiu o prêmio de atriz cômica para Tina Fey, e David Duchovny encontrou, enfim, o papel que lhe ajudou a se livrar do passado de Fox Mulder.


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