São Paulo, quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

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MAM reúne estratégias diferentes

Exposição em São Paulo traz artistas concretistas, engajados dos anos 60 e obras atuais sobre o corpo

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Era fino demais o papel dos 2.000 desenhos que Mira Schendel fez em vida. Como acabavam rasgando, ela preferia o vazio à saturação, e um gesto diminuto bastava. Da mesma forma, Iran do Espírito Santo apagou as cores da bandeira do Brasil, deixando só o murmúrio branco das estrelas no meio do retângulo preto.
"É quase o esquecer de toda a história", diz Espírito Santo. "A bandeira negra vem para confrontar a ideia de país alegre." Essas obras, que decretam a morte das utopias, abrem a exposição que o Museu de Arte Moderna inaugura hoje, um recorte didático de trabalhos de seu acervo que tenta mostrar a evolução da arte brasileira, do concretismo progressista, passando pelo engajamento heroico e lírico dos anos 60, até o sofrimento contemporâneo.
Se os trabalhos de Geraldo de Barros, Amilcar de Castro, Hércules Barsotti e Lygia Pape -todos presentes na mostra- são experimentos formais racionalistas, tirando partido da ciência para esquadrinhar a percepção, os gestos de Schendel, Ester Grinspum e Iran do Espírito Santo reveem esse aspecto maquinal e injetam uma realidade mais corpórea num projeto utópico e geométrico.
"O concreto não é só forma sem conteúdo", afirma o curador Cauê Alves. "Era um período político, o artista se alia à arquitetura, ao design em nome do desenvolvimento."
Mas muito disso ficou só nos planos, o país que poderia ter sido e que não foi. Em contraponto ao preto no branco industrial de Geraldo de Barros, em "H-5", Nelson Leirner cobre de pelos seus quadrados perfeitos em "Construtivismo Rural", referência irônica à economia agrária do país, nada pujante como se almejava.
Com o fim da ditadura, que terminou de enterrar as utopias, o corpo do artista vira ator principal, e cada um se debruça sobre si mesmo como anatomista: Nazareth Pacheco expõe seu vestido de lâminas, Leonilson, um coração de bronze e Jac Leirner empilha embalagens de maços de cigarro num pulmão de celofane.
De corpo presente, dois atores fazem performances de Laura Lima: um palhaço, que descansa no canto da sala, e um homem nu impedido de fechar a boca. Lá dentro, uma bala, espécie de caramelo sem açúcar.


ATENÇÃO: ESTRATÉGIAS PARA PERCEBER A ARTE
Quando: abertura hoje, às 20h; de ter. a dom., das 10h às 18h; até 22/3
Onde: MAM-SP (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5085-1300)
Quanto: R$ 5,50; dom., grátis



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