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MAM reúne estratégias diferentes
Exposição em São Paulo traz artistas concretistas, engajados dos anos 60 e obras atuais sobre o corpo
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Era fino demais o papel dos
2.000 desenhos que Mira
Schendel fez em vida. Como
acabavam rasgando, ela preferia o vazio à saturação, e um
gesto diminuto bastava. Da
mesma forma, Iran do Espírito
Santo apagou as cores da bandeira do Brasil, deixando só o
murmúrio branco das estrelas
no meio do retângulo preto.
"É quase o esquecer de toda a
história", diz Espírito Santo. "A
bandeira negra vem para confrontar a ideia de país alegre."
Essas obras, que decretam a
morte das utopias, abrem a exposição que o Museu de Arte
Moderna inaugura hoje, um recorte didático de trabalhos de
seu acervo que tenta mostrar a
evolução da arte brasileira, do
concretismo progressista, passando pelo engajamento heroico e lírico dos anos 60, até o sofrimento contemporâneo.
Se os trabalhos de Geraldo de
Barros, Amilcar de Castro, Hércules Barsotti e Lygia Pape
-todos presentes na mostra-
são experimentos formais racionalistas, tirando partido da
ciência para esquadrinhar a
percepção, os gestos de Schendel, Ester Grinspum e Iran do
Espírito Santo reveem esse aspecto maquinal e injetam uma
realidade mais corpórea num
projeto utópico e geométrico.
"O concreto não é só forma
sem conteúdo", afirma o curador Cauê Alves. "Era um período político, o artista se alia à arquitetura, ao design em nome
do desenvolvimento."
Mas muito disso ficou só nos
planos, o país que poderia ter
sido e que não foi. Em contraponto ao preto no branco industrial de Geraldo de Barros,
em "H-5", Nelson Leirner cobre de pelos seus quadrados
perfeitos em "Construtivismo
Rural", referência irônica à
economia agrária do país, nada
pujante como se almejava.
Com o fim da ditadura, que
terminou de enterrar as utopias, o corpo do artista vira ator
principal, e cada um se debruça
sobre si mesmo como anatomista: Nazareth Pacheco expõe
seu vestido de lâminas, Leonilson, um coração de bronze e
Jac Leirner empilha embalagens de maços de cigarro num
pulmão de celofane.
De corpo presente, dois atores fazem performances de
Laura Lima: um palhaço, que
descansa no canto da sala, e um
homem nu impedido de fechar
a boca. Lá dentro, uma bala, espécie de caramelo sem açúcar.
ATENÇÃO: ESTRATÉGIAS PARA
PERCEBER A ARTE
Quando: abertura hoje, às 20h; de
ter. a dom., das 10h às 18h; até 22/3
Onde: MAM-SP (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5085-1300)
Quanto: R$ 5,50; dom., grátis
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