São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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Polícia tem um suspeito de atirar em Bortolotto

Secretaria de Segurança Pública mobiliza 9 investigadores, 5 escrivães e 1 delegado só para trabalhar no caso do dramaturgo

Sem prova material até agora, inquérito sobre o assalto em bar na praça Roosevelt avança pouco, apesar de ser prioridade

FABIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL

A polícia já tem um suspeito de ter baleado o dramaturgo Mário Bortolotto no início de dezembro num bar da praça Roosevelt, centro de São Paulo, mas a vítima não o identificou como responsável pelos disparos. Como também não há até aqui nenhuma prova material do crime, a investigação continua em aberto.
Segundo a Folha apurou, por determinação do alto escalão da Secretaria de Segurança Pública, uma equipe inteira do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), onde corre o inquérito, está mobilizada para cuidar do caso. São nove investigadores, cinco escrivães e um delegado. A unidade, responsável por investigar crimes contra a vida em sete bairros da região central da cidade, teve de suspender os 130 inquéritos sob sua responsabilidade para elucidar com agilidade o caso de Bortolotto.
Desde o início, o governo do Estado tem dedicado atenção especial ao episódio. O governador José Serra visitou o dramaturgo no hospital.
Cinco dias após o assalto, no qual Bortolotto e o ilustrador Carcarah foram baleados, um homem foi preso no Pacaembu por roubar a bolsa de uma mulher. Mais tarde investigadores do DHPP descobriram se tratar de um ladrão que frequentava o submundo de drogas da praça Rossevelt. Um depoente no caso disse à polícia ter ouvido relatos de outros marginais do local de que este homem admitira ter atirado "no velhinho" -forma como se referiam a Bortolotto, 47, que é grisalho.
A Folha apurou que testemunhas do assalto -amigos do dramaturgo que estavam com ele naquela madrugada no bar do Espaço Parlapatões- convocadas a fazer a identificação acharam o suspeito muito parecido com o bandido que alvejou Bortolotto e Carcarah. Mas preferiram não dar certeza, deixando a tarefa para Bortolotto, que o encarou de perto.
Ocorre que, ao ser confrontado com o suspeito no último dia 8, quando também depôs à polícia, Bortolotto se revelou incapaz de identificá-lo como o autor dos disparos. Alegou que estava muito bêbado naquela madrugada para conseguir apontar quem quer que fosse como o responsável.
No entender de policiais, o real motivo de Bortolotto ao se dizer inapto seria o fato de ele ser conhecido no submundo da praça Roosevelt, além de saber que, nesse universo, a delação é tida como imperdoável.
Procurado, Bortolotto não quis dar entrevista. Em seu blog, por meio do qual tem comentado o episódio, escreveu: "Eu queria mesmo era querer que esses filhos das putas se fodessem, mas eu sinceramente não consigo pensar nisso. Não consigo cultivar sentimentos de ódio ou vingança".
No depoimento à polícia, o dramaturgo disse que tinha ingerido vários uísques. Recordou que levou uma coronhada de um dos assaltantes. Em reação, fitou o bandido e disse-lhe alguma coisa (afirmou não lembrar o quê) e, então, se agarrou a ele, e ambos caíram no chão, quando vieram os disparos. Presentes contaram em depoimento que ele desafiou o assaltante a atirar, o que depois ele confirmou no blog.
Foram encontrados no local dez projéteis calibre 380 (um estava intacto), disparados pelo mesmo assaltante, o único dos quatro que estava armado. Três atingiram Bortolotto e três, a perna de Carcarah.
A arma continua desaparecida, e não há pista sobre a Parati preta que testemunhas dizem ter sido o carro da fuga.
Depois de 23 dias no hospital, 13 deles na UTI, o dramaturgo se recupera em casa.


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