São Paulo, Sexta-feira, 15 de Janeiro de 1999
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"UMA AVENTURA DO ZICO"
Longa mostra craque como herói humanizado

MARCELO RUBENS PAIVA
especial para a Folha

"Uma Aventura do Zico" é um filme simpático. Traz no peito a fantasia de milhões de garotos brasileiros, a de ser jogador de futebol, esporte que não vê raça, sotaque ou origem. E quem lhes dá essa oportunidade é o herói completo.
Zico já era um fenômeno antes de se profissionalizar no futebol, em 1974. Irmão mais jovem de uma família de jogadores (Edu, do América, e Antunes, do Fluminense), já era reconhecido pela torcida nas preliminares do Maracanã, onde jogava pelo juniores do Flamengo. Muitas vezes, a torcida chegava antes para vê-lo jogar.
O reinado de Pelé chegava ao fim. O trono e a mitológica camisa 10 já tinham um candidato. A história estava escrita. Mas o futebol não respeita a lógica. Zico foi um vencedor no Flamengo. Na seleção brasileira, esteve em três Copas do Mundo, fez mais de 60 gols, mas nunca subiu no pódio. Aliás, a seleção foi eliminada, em 86, num jogo em que Zico perdeu um pênalti.
Ele não se abateu, mas a imagem do craque foi arranhada. Uma leve amargura o acompanha. Torna-se, com isso, um personagem mais completo, humano. Tem algo a nos ensinar. E é nisso que o filme se baseia, nas suas lições.
Garotos de todo o Brasil viram aprendizes. As diferenças culturais entre o menino da favela, a menina dos Pampas, o japonês de São Paulo e o nordestino diminuem. Eles formam um time. A bola os une. E quem ensina os segredos é alguém que já venceu e perdeu.
Numa produção requintada de L. C. Barreto, o filme cresce quando Zico é clonado. O original fica sério, durão. A cópia é um boa-vida, um irresponsável. Entram em conflito as duas faces do brasileiro, que tenta, com sua informalidade e festividade, jogar nas regras criadas pelos detentores da produção e da eficiência. Dois jeitos de jogar futebol entram em disputa.
O filme tem defeitos, como a estereotipagem dos sotaques gaúcho, paulista e nordestino, e como a carnavalização dos ambientes, que dá aquela impressão de que no Rio só se bebe cerveja, só se dança pagode e ninguém trabalha.
Mas é um filme infantil. Talvez a caracterização num filme infantil tenha que ser estereotipada. No mais, prepare-se, pois Zico também sabe fazer graça.


Filme: Uma Aventura do Zico Produção: Brasil, 1998
Direção: Antonio Carlos Fontoura Com: Zico, Paulo Gorgulho Quando: estréia hoje, nos cines Marabá, Belas Artes - Mário de Andrade e circuito




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