Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Serão mais de 16 horas de música"
DA REPORTAGEM LOCAL
A produção do "Ring" em Manaus terá mais de 16 horas de espetáculo. Para a estréia, em maio,
seu regente, o paulistano Luiz Fernando Malheiro, fará os primeiros ensaios com a orquestra já no
início de março.
Em entrevista à Folha, Malheiro
fala sobre a experiência de trabalhar com músicos e cantores brasileiros no reino, até então desconhecido para estes, de Wagner.
Segundo o regente, nas mãos de
gente daqui também está toda a
criação dos figurinos e dos cenários do espetáculo, desenvolvidos
por artesãos da região em uma
central técnica de produção criada pelo governo amazonense.
(JBN)
Folha - Há registros de uma montagem integral das quatro óperas
do "Ring" no Brasil?
Luiz Fernando Malheiro - Não.
Em São Paulo e no Rio foram feitas algumas tentativas há muitos
anos. Os paulistanos ouviram
muito Wagner em italiano, por
companhias vindas da Itália.
Companhias estrangeiras se apresentaram no Rio. Mas eram produções integralmente importadas, não produzidas por aqui.
Folha - Como explicar mais encenações de Wagner no Rio?
Malheiro - Havia uma tradição
vinda do Segundo Reinado. D.
Pedro 2º era um grande wagneriano e amigo de Wagner, que o cita
em sua autobiografia, "Minha Vida". O público do Rio é ainda hoje
bem mais participativo e informado que o de São Paulo.
Folha - Das quatro óperas do
"Ring", uma só é ainda inédita em
Manaus, "O Ouro do Reno". Como é
produzir um ciclo tão longo?
Malheiro - Pelas minhas previsões as quatro óperas darão mais
de 16 horas de música. Quando
começamos com "As Valquírias",
em 2002, o terreno era para nós
desconhecido. Foi como um teste,
até para saber como as vozes brasileiras iriam funcionar.
Folha - As vozes responderam então a contento?
Malheiro - O que me encorajou a
produzir "As Valquírias" foi uma
experiência anterior, ao reger no
Rio um "Tannhäuser", com cantores brasileiros (Laura de Souza,
Lício Bruno). Por isso que levei
adiante o projeto do "Anel" em
Manaus. Em 2003, com a montagem de "Siegfried", já estávamos
em território conhecido. Não havia mais tanto mistério para a orquestra e para o elenco.
Folha - Por que a insegurança
quanto aos cantores brasileiros?
Malheiro - Era uma insegurança
no fundo injustificada. Havia
uma espécie de preguiça e desconhecimento dos maestros e programadores. É preciso conhecer
bem as vozes, saber o que elas podem fazer de melhor, e não encaixá-las a esmo nos papéis.
Folha - Qual sua avaliação sobre
as gravações integrais do "Ring"?
Malheiro - A versão de Herbert
von Karajan é quase camerística.
Os cantores não trabalham a potência da voz; preocupam-se com
a interpretação de cada palavra do
texto. A versão Georg Solti é mais
extrovertida, com elencos maravilhosos. Não sou muito atraído
pela versão Baremboin. Gosto
muitíssimo da versão de Marek
Janowsky e com a Staatskapelle
de Dresden, com uma sonoridade
muito particular.
Folha - Como está a programação
dos ensaios do "Ring"?
Malheiro - O elenco brasileiro já
ensaiou "O Ouro do Reno", agora
em janeiro. Eu retomarei os ensaios entre 10 e 20 de março, com
vozes e piano. O Aidan [Aidan
Lang, diretor cênico] chega no dia
21 de março, e ensaiaremos até a
véspera. Quanto à orquestra, começaremos os ensaios já no começo do mês que vem. É cansativo. Em Bayreuth, faz-se o "Ring"
com mais de 200 músicos. Há um
rodízio. Somos bem poucos por
aqui.
Folha - Quantos músicos estarão
no fosso do teatro?
Malheiro - A orquestra tem 75
músicos. Mas teremos extras. Serão, por exemplo, quatro as tubas
wagnerianas que virão da Alemanha, o trompete baixo, trombone
contrabaixo.
Folha - Cenários e figurinos foram feitos em Manaus?
Malheiro - Há dois anos fazemos
tudo por aqui. O governo do
Amazonas criou uma central técnica de produção. Estamos criando uma geração nova de artesãos
e pessoas capacitadas.
Folha - Já tem gente de fora comprando ingressos?
Malheiro - Há sempre muita
gente que vem do Rio e de São
Paulo. Mas este ano, como haverá
o ciclo completo, temos recebido
pedidos de reserva da Europa. Há
um clube de associações wagnerianas da Escócia, e outros 30 que
chegarão da Áustria.
Texto Anterior: Saiba mais: Ciclo de Wagner é encenado todo ano em Bayreuth Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|