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CINEMA
Clássico de 1925 do diretor russo Sergei Eisenstein é restaurado por técnicos na Alemanha sem os negativos originais
Berlim assiste a nova versão de "Potemkin"
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Apesar dos aplausos entusiasmados após a primeira exibição
da cópia restaurada de "O Encouraçado Potemkin" (1925), de Sergei Eisenstein, no último sábado,
Enno Patalas, o coordenador da
nova versão, sabia não ter feito o
melhor trabalho possível.
Para quem viu a sessão (que levou Fernanda Montenegro às lágrimas), engrandecida com a
apresentação da Orquestra de Cinema de Babelsberg, o resultado
visual parecia aquém do esperado, com riscos na projeção. O motivo não foi divulgado publicamente: a recusa do governo russo,
segundo Patalas, em liberar os negativos originais para o projeto.
"Esse projeto teve uma polêmica diplomática. Houve até mesmo
uma troca de cartas entre os ministros da Cultura da Rússia e da
Alemanha, mas os russos se recusaram a liberar o negativo. Eles
chegaram a alegar que não tinham como restaurar o material.
Nós explicamos que poderíamos
fazê-lo aqui, mas eles foram irredutíveis. Se eles tivessem nos entregado os negativos, a nova versão teria ficado melhor", disse Patalas à Folha, em seu escritório no
Museu do Cinema em Berlim.
Patalas estranhou que as autoridades russas nem chegaram a
confirmar presença para a apresentação de gala, no sábado.
"Creio que eles não queiram se
identificar com aquele período revolucionário. Agora, com essa
ressurreição de uma mentalidade
sãopetersburguiana, nem sei se
haverá comemoração à revolução
de 1905 [o tema central de "Potemkin'], que antecedeu a Revolução de Outubro", contou.
Quando fazia tal comentário, a
assistente de Patalas, Anna Bohn,
que chegou a ir à Rússia para a
elaboração da nova versão, buscou minimizar o fato. "Talvez ele
não participem porque há outros
filmes russos no festival."
Bohn é a responsável por uma
das poucas novidades dessa nova
versão, a correta tipografia dos intertítulos usada por Eisenstein em
sua primeira exibição, em 1925, e
que depois foi modificada nas
subseqüentes versões.
A história de "O Encouraçado
Potemkin" é um capítulo importante nas relações culturais entre
Alemanha e Rússia. Os negativos
originais do filme foram vendidos
à Alemanha em 1926, permitindo
que os russos fizessem cópias
aqui. Foi nesse ano que o compositor alemão Edmundo Meisei
criou a trilha sonora, reapresentada no último sábado. Desses originais, várias cópias foram realizadas, entre elas três vendidas à
London Film Society.
Depois, em 1933, os negativos
voltaram para a Alemanha e, em
1976, uma nova cópia, agora com
som, foi vendida novamente para
a Alemanha, para o Museu do Cinema de Munique, quando Patalas era seu diretor. A restauração
atual usa essa versão de 1976, restaurada com o auxílio das cópias
da London Film Society.
Assim, a nova versão reapresenta 15 tomadas que haviam sido
cortadas pela censura alemã, mas
isso não apresenta uma grande
mudança pois o filme tem 1.372
tomadas. "Elas de fato não são tão
importantes, pois tampouco são
sensacionais, mas tentamos chegar o mais próximo do original."
A outra novidade é o texto introdutório de Trótski, que havia sido
retirado pelos russos e trocado
por um de Lênin.
O Brasil deve ver a nova cópia
ainda neste ano. Já estão em andamento negociações para a apresentação da versão restaurada, a
princípio no Rio, mas seus organizadores ainda preferem não divulgar o local nem a orquestra.
Competição
Marcada por uma fraca seleção
em sua mostra competitiva deste
ano, a Berlinale apresentou, ontem, o primeiro forte concorrente. Trata-se de "Paradise Now"
(paraíso agora), uma co-produção entre França, Alemanha e Holanda, sobre dois jovens palestinos que vivem em faixas ocupadas perto de Tel Aviv e aceitam serem usados como suicidas. O filme, de Hany Abu-Assd, tem ótimas atuações e aborda tema polêmico sem cair em estereótipos.
O jornalista Fabio Cypriano viaja a convite da organização do festival
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