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A esquerda prepondera, diz Rosenfield
UIRÁ MACHADO
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS
No começo da entrevista, o filósofo Denis Lerrer Rosenfield, 55,
titubeou ao ser questionado se
suas idéias são de direita. "Se for
algo pejorativo, é um equívoco
completo", disse. Depois, fez
questão de procurar a reportagem
para acrescentar que sim, é de direita. Mas que fique claro: ele fala
de uma "direita moderna".
Professor de filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul e editor da revista "Filosofia
Política", Rosenfield está entre os
que vêem espaço para o surgimento de uma nova direita, desvinculada das idéias de um Estado
totalitário e corrupto e identificada com a boa gestão administrativa e a defesa das liberdades.
A seguir, trechos da entrevista.
Folha - O sr. considera um equívoco ou um acerto suas idéias serem
classificadas como de direita?
Denis Rosenfield - Se se trata de
algo pejorativo, e, portanto, a pessoa está querendo me agredir, é
um equívoco completo. No fundo, direita ou esquerda, hoje, são
conceitos relativos. Não têm
maior conteúdo ideológico. Mas
o que ocorre é que, no Brasil, havia e há ainda uma preponderância do pensamento de esquerda
marcado pela influência petista.
Mas o PT no governo mostrou
que essa esquerda não tinha idéia
nenhuma. Frente a essa questão,
se coloca a necessidade de uma
direita moderna.
Folha - Como ela seria?
Rosenfield - Definiria assim:
economia de mercado, Estado de
Direito, democracia representativa, Estado menor e menor carga
tributária. E acrescentaria um
ponto fundamental: no mais amplo reino de liberdades. E isso não
se confunde minimamente com
selvageria ou com barbárie.
Folha - O escândalo do "mensalão" abriu espaço para essa direita
moderna intensificar seu discurso?
Rosenfield - Certamente. Mas,
para que esse discurso da direita
moderna se fortaleça, ele precisa
de uma bandeira ética, de defesa
da moralidade. Identificar a direita com a corrupção é um despropósito completo. No Brasil, a
questão da corrupção está vinculada a um outro problema que eu
considero central: o tamanho do
Estado e a questão dos impostos.
Folha - Mas não é mais "defensável" um Estado que dê sustento à
população do que um Estado que
deixe as pessoas ao deus-dará?
Rosenfield - Estou de acordo.
Mas eu não estou defendendo a
idéia de que o Estado enxuto vai
deixar as pessoas pobres ao deus-dará. Digo o seguinte: vamos fazer
um choque de gestão e ter outras
idéias do ponto de vista de melhor
atender os destinatários.
O que você coloca como questão, que eu acho muito boa, é o
discurso. Mas temos que confrontar o discurso com a realidade.
Folha - Então, a crise abre um espaço para que o discurso da direita
moderna seja mais ouvido?
Rosenfield - Disso estou convencido. O que me surpreende é que
os partidos políticos ainda não tenham entrado nessa via. A crise
do PT abre um espaço enorme
para essa proposta que eu chamo
de direita moderna.
Folha - E que não seja mais vista
de forma pejorativa?
Rosenfield - Sim.
Folha - Sua primeira resposta,
quando perguntei se suas idéias
eram de direita, foi defensiva, dizendo que, se fosse pejorativo...
Rosenfield - Pois é, que poderia
ser entendido como pejorativo...
Folha - Mas se eu tivesse perguntado a alguém se tais idéias são de
esquerda, acho que essa pessoa
não começaria se defendendo...
Rosenfield - Exatamente. Estou
de acordo com você.
Folha - Isso pode se inverter?
Rosenfield - Acho ainda muito
difícil. Se considerarmos as últimas eleições presidenciais, tivemos quatro candidatos de esquerda. Isso é único no mundo. Diria
até patológico. Em nenhum lugar
do mundo é assim. Aqui é. E por
quê? Porque, aqui, todos dizem
que ser de direita é pejorativo, né?
Mas podemos ter uma direita
moderna identificada a um partido de centro. Uma direita moderna, atenta às questões sociais.
Folha - Em termos ideais, o sr. não
concorda com que um Estado mais
ausente deixa os "fracos" mais expostos ao domínio dos "fortes"?
Rosenfield - Isso sim. Estou de
acordo com você, mas depende
da função reguladora do Estado.
É uma questão que se coloca.
Folha - Podemos dizer que a direita está saindo do armário?
Rosenfield - Se for uma direita
moderna, vai saber sair do armário. Se não for, fica lá dentro. Porque as pessoas ficam identificando a direita com regime militar.
Aí não dá, né? E deixa eu acrescentar uma coisa: se ser de direita
significa defender as liberdades,
então sou de direita. E por liberdades quero dizer as liberdades
políticas, de opinião, de expressão, econômica e direitos civis.
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