São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

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Mostra exibe a metrópole estrangulada

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um lugar de conflito, uma metrópole asfixiada. As duas leituras de São Paulo e de outros aglomerados urbanos brasileiros afloram na exposição "Veracidade", também aberta hoje no MAM paulistano, com curadoria de Eder Chiodetto, colaborador da Folha.
Reunindo registros fotográficos pertencentes ao rico acervo do museu, as escolhas de Chiodetto -que vão de modernistas como Geraldo de Barros (1923-1998) e German Lorca até emergentes como Fábio Okamoto, 27- trazem à tona sensações de sufocamento e de caos que perpassam grande parte das imagens.
"Foi interessante perceber que os impasses que preocupavam os fotógrafos nos anos 40 ainda continuam a instigar trabalhos de jovens nomes atualmente", afirma o curador, fotógrafo e crítico.
"É evidente a crise do fotógrafo e artista por sua incapacidade de retratar o todo e por perceber o embate entre o homem e sua circulação", completa.
Assim, longe de qualquer olhar romântico, as 56 obras têm pequenas seções -como "Bloqueios", com trabalhos de Claudio Edinger, Tuca Reinés, Caíca e Romulo Fialdini- que organizam o percurso do espectador e o levam a repensar as paisagens urbanas. Nesse segmento, por exemplo, Caíca retrata o viaduto Major Quedinho, em 1980, como uma massa cinzenta de cimento que deixa apenas em seu ângulo direito inferior um respiro -não totalmente, já que é uma avenida.
Na seção "Vestígios", Cristiano Mascaro representa o Minhocão com planos escuros, cujas poucas luzes vêm de ralas lâmpadas e do entorno, cujas figuras humanas perdem completamente a identidade frente à avenida elevada.
Nessa parte da mostra, Chiodetto destaca produções fotográficas que flertavam com o experimental, como a de Caíca, em 1977. "Tal ousadia foi muito intensa entre os modernistas, mas só foi ressurgir com força nos anos 90", avalia o curador, que, por isso, ressalta o trabalho do fotógrafo nos anos 70, avesso ao experimentalismo, ao menos nessa área.
Exemplificando os finos limites entre fotografia, artes plásticas e videoarte, Chiodetto selecionou os vídeos "Sempre Tem Mais" (1996-2002), de Tadeu Jungle, que parte de paisagens captadas por um foco fixo, e o "site specific" de Cris Bierrenbach, uma espécie de instalação que usa projeção luminosa, uma vitrine e a escultura "Aranha", de Louise Bourgeois.


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