São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

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Prata da casa, filme "Yella" decepciona no Festival de Berlim

Produção, com final "surpreendente", tem recepção moderada do público

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Depois da boa surpresa com a estréia de "Irina Palm", do alemão radicado na Bélgica Sam Garbarski, na última terça-feira, o 57º Festival de Berlim provou ontem a decepção com uma autêntica prata da casa -a produção alemã "Yella", de Christian Petzold.
Uma agressiva campanha de anúncios na imprensa e um "zunzunzum" positivo no mercado de filmes (paralelo à competição pelo Urso de Ouro) indicavam que "Yella" poderia ter uma estréia arrebatadora na disputa. Não teve.
A reação moderada que se viu na primeira sessão do filme, com platéia formada por imprensa e júri, é coerente com o fato de que "Yella" se define, pelas características de sua trama, como um filme-engodo.
As primeiras informações que o espectador tem sobre Yella (Nina Hoss) revelam que ela tem um ex-marido obsessivo, de cuja perseguição ela deve se livrar em breve, já que assumirá um emprego em outra cidade, dali a dois dias.
No momento da partida para a estação de trem, a campainha toca. Yella espera encontrar o taxista, mas é Ben (Hinnerk Schonemann), o ex-marido, quem está à porta, oferecendo carona. Ela aceita!
No carro, Ben desvia o caminho, agride Yella, tem um surto e atira o carro de uma ponte.
O espectador percebe que não está diante de uma história normal quando, sem nenhum arranhão, Yella sai da água, recolhe sua mala, vai a pé para a estação e ainda alcança seu trem para Hannover.
Na nova cidade, ela passará os próximos dias sempre com a mesma roupa, hospedada num hotel onde conhece Philipp (Devid Striesow), que acaba lhe dando uma oportunidade de trabalho, já que o emprego que ela teria se esfacelou.
A história segue até ganhar o desfecho que Petzold acredita ser "surpreendente". O diretor diz que sempre gostou de "histórias de medo e personagens-fantasma". A Yella pós-acidente e tudo em torno dela são fantasmas. Mas Petzold está longe de ser um Almodóvar; Nina Hoss, uma Carmen Maura, e "Yella", um "Volver". O encantamento esperado de "Yella" em Berlim virou fumaça.
Além do filme de Petzold, estreou ontem na competição o concorrente israelense "Beaufort", de Joseph Cedar, que aborda o conflito de Israel com o Líbano, concentrando-se na vivência da guerra pelos últimos soldados israelenses a ocupar o forte erguido na montanha de Beaufort -e destruído no ato de sua desocupação.
Embora haja ataques e baixas no lado israelense, o "inimigo" nunca é mostrado no filme. Cedar explicou que lhe interessava discutir "em nome de que se luta" e "quem sobrevive" numa guerra. Com direção rigorosa e ótimas atuações, Cedar fez de "Beaufort" um filme denso sobre um assunto idem.


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