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Prata da casa, filme "Yella" decepciona no Festival de Berlim
Produção, com final "surpreendente", tem recepção moderada do público
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Depois da boa surpresa com a
estréia de "Irina Palm", do alemão radicado na Bélgica Sam
Garbarski, na última terça-feira, o 57º Festival de Berlim provou ontem a decepção com
uma autêntica prata da casa -a
produção alemã "Yella", de
Christian Petzold.
Uma agressiva campanha de
anúncios na imprensa e um
"zunzunzum" positivo no mercado de filmes (paralelo à competição pelo Urso de Ouro) indicavam que "Yella" poderia ter
uma estréia arrebatadora na
disputa. Não teve.
A reação moderada que se viu
na primeira sessão do filme,
com platéia formada por imprensa e júri, é coerente com o
fato de que "Yella" se define,
pelas características de sua trama, como um filme-engodo.
As primeiras informações
que o espectador tem sobre Yella (Nina Hoss) revelam que ela
tem um ex-marido obsessivo,
de cuja perseguição ela deve se
livrar em breve, já que assumirá
um emprego em outra cidade,
dali a dois dias.
No momento da partida para
a estação de trem, a campainha
toca. Yella espera encontrar o
taxista, mas é Ben (Hinnerk
Schonemann), o ex-marido,
quem está à porta, oferecendo
carona. Ela aceita!
No carro, Ben desvia o caminho, agride Yella, tem um surto
e atira o carro de uma ponte.
O espectador percebe que
não está diante de uma história
normal quando, sem nenhum
arranhão, Yella sai da água, recolhe sua mala, vai a pé para a
estação e ainda alcança seu
trem para Hannover.
Na nova cidade, ela passará
os próximos dias sempre com a
mesma roupa, hospedada num
hotel onde conhece Philipp
(Devid Striesow), que acaba lhe
dando uma oportunidade de
trabalho, já que o emprego que
ela teria se esfacelou.
A história segue até ganhar o
desfecho que Petzold acredita
ser "surpreendente". O diretor
diz que sempre gostou de "histórias de medo e personagens-fantasma". A Yella pós-acidente e tudo em torno dela são fantasmas. Mas Petzold está longe
de ser um Almodóvar; Nina
Hoss, uma Carmen Maura, e
"Yella", um "Volver". O encantamento esperado de "Yella"
em Berlim virou fumaça.
Além do filme de Petzold, estreou ontem na competição o
concorrente israelense "Beaufort", de Joseph Cedar, que
aborda o conflito de Israel com
o Líbano, concentrando-se na
vivência da guerra pelos últimos soldados israelenses a ocupar o forte erguido na montanha de Beaufort -e destruído
no ato de sua desocupação.
Embora haja ataques e baixas
no lado israelense, o "inimigo"
nunca é mostrado no filme. Cedar explicou que lhe interessava discutir "em nome de que se
luta" e "quem sobrevive" numa
guerra. Com direção rigorosa e
ótimas atuações, Cedar fez de
"Beaufort" um filme denso sobre um assunto idem.
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