São Paulo, sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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Anderson volta com "Sangue Negro"

Primeiro filme em seis anos do diretor de "Magnólia", longa é estrelado por Daniel Day-Lewis e concorre a oito Oscars

"Não estava sendo preguiçoso. Foi o tempo que levou para o roteiro e o orçamento", diz diretor sobre filme que estréia no Brasil

Divulgação
O ator britânico Daniel Day-Lewis, protagonista de "Sangue Negro"

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Com seu filme "Sangue Negro", que estréia hoje no Brasil, indicado a oito estatuetas, o diretor Paul Thomas Anderson anda com a grande festa de Hollywood na cabeça.
"Parecia que eu estava ganhando o Oscar. Esta é a lembrança que vai ficar para mim deste Festival de Berlim."
Falando a um grupo de jornalistas, incluindo a Folha, o diretor descreve a cena com sabor de vitória, ocorrida na exibição de "Sangue Negro" em competição pelo Urso de Ouro, na semana passada.
Aplausos ruidosos na platéia, agitação nos bastidores. "E o [diretor do festival] Dieter Kosslick me empurrando para o palco. Foi embaraçoso".
Paul Thomas Anderson, 37, ainda não possui um Oscar -embora já tenha sido indicado por "Boogie Nights" (1997) e "Magnólia" (1999)-, mas sabe bem como é vencer em Berlim. Ele levou o Urso de Ouro em 2000, por "Magnólia".
Desde 2002 ("Embriagado de Amor"), Anderson não lançava um filme. O intervalo é incomumente longo na carreira de um diretor americano de títulos tão aclamados.

Tempo
"Eu não estava sendo preguiçoso. Foi esse o tempo que levou para escrever o roteiro e reunir o orçamento do filme [cerca de US$ 25 milhões (43,6 milhões)]", diz.
O roteiro de "Sangue Negro" começou como uma adaptação do livro "Oil", de Upton Sanclair. Mas quase nada da obra foi preservado no filme. "No começo, havia bastante do livro. Mas, a cada vez que eu escrevia uma nova cena, algo dele caía fora", diz Anderson.
O que ficou em "Sangue Negro" foi a trajetória do homem do petróleo Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis), que sai do zero no fim do século 19, nos EUA, e vai muito longe, tanto na ascensão nos negócios quanto na decadência moral.
"Escrevi o roteiro pensando que, no mundo ideal, [o ator] Daniel Day-Lewis aceitaria o papel." Day-Lewis não somente o aceitou como acabou fazendo de Plainview uma de suas performances mais apreciadas pela crítica.

Método
Day-Lewis diz que sua capacidade de se transformar em seus personagens é algo intrigante até para ele. O ator tergiversa quando solicitado a falar sobre seu método de interpretação. "Não quero dar a impressão de ser egoísta ou arrogante. Não estou fingindo ser evasivo. Estou sendo evasivo porque nunca encontrei uma maneira de descrever isso que fizesse sentido para mim. Acho que esse é um trabalho que acontece no nível subterrâneo", diz.
Embora seja festejado por seus pares, pelo público e pela crítica, o ator diz que termina todos os seus trabalhos com certa insatisfação. "Há sempre um sentido de tristeza em tentar dar o melhor de si."
Na entrevista, uma jornalista americana diz para o ator que a atuação dele pode ser admirável, mas que o impacto no espectador é duvidoso, porque ninguém gostaria de se identificar com personagem tão maligno. Diante da observação, Day-Lewis afirma: "Não acredito nesse tipo de raciocínio. Não acho que alguém deveria sentir algo que não sente".
Na vida de Daniel Plainview, a relação com outros homens é beligerante, e com as mulheres, ausente. Anderson explicou por que retratou em "Sangue Negro" um mundo exclusivamente masculino.
"Já havia muita coisa a contar nas duas horas e meia do filme. Eu não teria tempo para desenvolver uma história de amor. E não seria bom ter mulheres só como prostitutas."
Ciente de que a falta de personagens femininas é vista com reprovação por parte da crítica, Anderson ironiza: "Mas, felizmente, havia muitas trabalhando na nossa equipe."


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