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Crítica/"Elizabeth - A Era de Ouro"
Filme empurra grandeza da rainha goela abaixo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Para que não reste dúvida
sobre quem é a heroína
deste filme, "Elizabeth
-°A Era de Ouro" exibe, de saída, um Felipe 2º taciturno, cercado de sombras, numa corte
em que tudo cheira a deformação e onde, do andar às palavras, tudo transmite a idéia de
perversidade. Pelo andar ridículo, assim como pelas palavras, o rei da Espanha representa a mania religiosa; do outro lado há Elizabeth, a razão.
Filmes biográficos são, com
freqüência, feitos para engrandecer o biografado. São as leis
do gênero. Se "A Era de Ouro"
parece tão aborrecido, isso se
deve menos a Elizabeth 1ª, rainha da Inglaterra, senhora de
um longo e importante reinado; é em grande medida porque
seus responsáveis não nos permitem concluir sobre a grandeza de Elizabeth. Minuto a minuto, plano a plano, essa grandeza nos é enfiada goela abaixo.
Como a conclusão precede o filme, tudo o mais fica numa monótona comprovação do que o
filme disse logo de cara.
Elizabeth, convém lembrar,
já foi objeto de um filme, em
1998. Era mais jovem e o centro
era seu conflito com Maria
Stuart. Era pesado, acadêmico,
pomposo. Traços que esse segundo exemplar eleva a dimensões desgraçadamente épicas.
Para que ninguém acuse Shekar Kapur, o diretor, de fugir ao
lugar-comum, ele não se contentará em tratar da rainha.
Elizabeth é também uma mulher -poderosa, como uma
moderna executiva. Portanto,
solitária. Será que algum homem ousaria chegar perto dela? Sim, existe um: sir Walter
Raleigh (Clive Owen). Mas será
que suas galanterias não servem apenas para dar ao filme
um entrecho romântico e mostrar que Elizabeth também tinha sentimentos? Comovente.
Mesmo porque, quando os assessores dessa déspota torturam seus inimigos, ela parece
não saber de nada (no que se assemelha mais a ditadores latino-americanos).
Daí aos patéticos efeitos especiais que marcam o ataque da
Invencível Armada, ele próprio
patético, à música onipresente
e melosa, aos tiques do rei da
Espanha, à crise de consciência
de Elizabeth que acompanha a
execução de Maria Stuart, aos
diálogos idiotas que os atores
foram forçados a dizer -nada,
nada denota uma ponta de talento nesta "Era de Ouro".
Há filmes que podem ser vistos, com muito proveito, porque deles tiramos modelos de,
por exemplo, como não escrever diálogos ou não enredar o
espectador numa falsa trama.
"Era de Ouro", do roteiro ao
acabamento, não serve nem para isso. Não existe a ingenuidade nem a contribuição milionária do erro. Existe apenas uma
mão de chumbo comandando
tudo. E ameaçadora: os produtores, não satisfeitos, prometem um terceiro "Elizabeth",
sobre os anos finais desse reinado que marca o século 16.
ELIZABETH - A ERA DE OURO
Produção: Reino Unido/França/Alemanha, 2007
Direção: Shekhar Kapur
Com: Cate Blanchett, Geoffrey Rush e Clive Owen
Onde: a partir de hoje nos cines Bristol,
Eldorado e circuito
Avaliação: péssimo
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