São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Filme peruano conquista o Urso de Ouro

Prêmio foi decidido por unanimidade na primeira vez que o país participa da competição no Festival de Berlim

Prêmio Especial do Júri foi dividido entre o alemão "Everyone Else" e o uruguaio "Gigante", de Adrián Biniez, que recebeu outros 2 troféus


SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Primeiro título do Peru a competir no Festival de Berlim, "La Teta Asustada", de Claudia Llosa, 32, venceu ontem o Urso de Ouro, na 59ª edição da mostra alemã. O longa peruano foi eleito o melhor também pela crítica internacional.
O título do filme é referência a uma síndrome de medo crônico que, segundo a crença popular, é transmitida pelo leite materno por mulheres vítimas de estupro durante as ações de grupos guerrilheiros terroristas -sobretudo o Sendero Luminoso-, a partir de 1980.
No longa, Fausta (Magaly Solier) é uma jovem que emigra do interior para Lima e, após a morte da mãe, tenta superar a síndrome e adaptar-se à cidade.
"Isto é para o Peru. Isto é para o nosso país", disse Llosa, erguendo o Urso de Ouro, após agradecer "a grande honra" de participar do festival.
A vitória de "La Teta Asustada" foi definida por unanimidade, segundo a atriz britânica Tilda Swinton, que presidiu o júri. "Tomara que isso ajude mais filmes latino-americanos a serem feitos, ajude mais diretores a viabilizarem seus projetos e que muito mais gente se anime a ver filmes latino-americanos", disse Llosa.
O Prêmio Especial do Júri foi dividido entre o alemão "Everyone Else", de Maren Ade, 32, que disseca a relação de um jovem casal, e o uruguaio "Gigante", de Adrián Biniez, 34, que recebeu outros dois prêmios -o de melhor longa de diretor estreante e o Alfred Bauer, dado aos filmes que expandem as fronteiras do cinema. Neste último, o uruguaio dividiu com o polonês "Sweet Rush", de Andrjez Wajda, 82.
"Gigante" mostra a rotina de um guarda noturno de supermercado que vigia o local observando as câmeras de segurança. Perplexo e mal conseguindo articular o pensamento, Biniez disse, após a premiação: "Neste momento, tenho um neurônio pendular -vai de um lado a outro. É uma experiência completamente estranha, estou muito nervoso".
Wajda, por sua vez, brincou: "É o fim do mundo um velho diretor ganhar um prêmio por renovar o cinema". E se disse "muito feliz" por fazê-lo "junto com um jovem diretor".
O iraniano Asghar Farhadi foi escolhido o melhor diretor, por "About Elly", que tematiza "a moralidade, a ética e a mentira", como definiu o cineasta.
O Urso de Prata de melhor atriz ficou com a alemã Birgit Minichmayr, por "Everyone Else". Sotigui Kouyate foi o melhor ator, pelo papel de um imigrante africano radicado na França que vai a Londres à procura de seu filho, desaparecido após o ataque terrorista de 2005, em "London River".
Kouyate homenageou o festival por ser "uma das instituições que permitem aos povos se encontrarem" e, exaltando a união das culturas, afirmou: "É a variedade das árvores que faz a beleza da floresta".
O prêmio de melhor roteiro ficou com Oren Moverman e Asessandro Camon, pelo norte-americano "The Messenger", de Overman, que mostra a Guerra do Iraque pela perspectiva de um sargento encarregado de comunicar a morte de combatentes a familiares.


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