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Filme peruano conquista o Urso de Ouro
Prêmio foi decidido por unanimidade na primeira vez que o país participa da competição no Festival de Berlim
Prêmio Especial do Júri foi dividido entre o alemão "Everyone Else" e o uruguaio "Gigante", de Adrián Biniez, que recebeu outros 2 troféus
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Primeiro título do Peru a
competir no Festival de Berlim,
"La Teta Asustada", de Claudia
Llosa, 32, venceu ontem o Urso
de Ouro, na 59ª edição da mostra alemã. O longa peruano foi
eleito o melhor também pela
crítica internacional.
O título do filme é referência
a uma síndrome de medo crônico que, segundo a crença popular, é transmitida pelo leite
materno por mulheres vítimas
de estupro durante as ações de
grupos guerrilheiros terroristas -sobretudo o Sendero Luminoso-, a partir de 1980.
No longa, Fausta (Magaly Solier) é uma jovem que emigra
do interior para Lima e, após a
morte da mãe, tenta superar a
síndrome e adaptar-se à cidade.
"Isto é para o Peru. Isto é para o nosso país", disse Llosa, erguendo o Urso de Ouro, após
agradecer "a grande honra" de
participar do festival.
A vitória de "La Teta Asustada" foi definida por unanimidade, segundo a atriz britânica
Tilda Swinton, que presidiu o
júri. "Tomara que isso ajude
mais filmes latino-americanos
a serem feitos, ajude mais diretores a viabilizarem seus projetos e que muito mais gente se
anime a ver filmes latino-americanos", disse Llosa.
O Prêmio Especial do Júri foi
dividido entre o alemão "Everyone Else", de Maren Ade, 32,
que disseca a relação de um jovem casal, e o uruguaio "Gigante", de Adrián Biniez, 34, que
recebeu outros dois prêmios
-o de melhor longa de diretor
estreante e o Alfred Bauer, dado aos filmes que expandem as
fronteiras do cinema. Neste último, o uruguaio dividiu com o
polonês "Sweet Rush", de
Andrjez Wajda, 82.
"Gigante" mostra a rotina de
um guarda noturno de supermercado que vigia o local observando as câmeras de segurança. Perplexo e mal conseguindo articular o pensamento,
Biniez disse, após a premiação:
"Neste momento, tenho um
neurônio pendular -vai de um
lado a outro. É uma experiência
completamente estranha, estou muito nervoso".
Wajda, por sua vez, brincou:
"É o fim do mundo um velho diretor ganhar um prêmio por renovar o cinema". E se disse
"muito feliz" por fazê-lo "junto
com um jovem diretor".
O iraniano Asghar Farhadi
foi escolhido o melhor diretor,
por "About Elly", que tematiza
"a moralidade, a ética e a mentira", como definiu o cineasta.
O Urso de Prata de melhor
atriz ficou com a alemã Birgit
Minichmayr, por "Everyone
Else". Sotigui Kouyate foi o melhor ator, pelo papel de um imigrante africano radicado na
França que vai a Londres à procura de seu filho, desaparecido
após o ataque terrorista de
2005, em "London River".
Kouyate homenageou o festival por ser "uma das instituições que permitem aos povos
se encontrarem" e, exaltando a
união das culturas, afirmou: "É
a variedade das árvores que faz
a beleza da floresta".
O prêmio de melhor roteiro
ficou com Oren Moverman e
Asessandro Camon, pelo norte-americano "The Messenger",
de Overman, que mostra a
Guerra do Iraque pela perspectiva de um sargento encarregado de comunicar a morte de
combatentes a familiares.
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