São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

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Ocelot leva conto de fadas em 3D a Berlim

Cineasta afirma evitar realismo e usar tecnologia para seduzir em "Contos da Noite", seu primeiro filme nesse formato

Longa, que ainda tem personagens em forma de silhuetas, é o único francês a concorrer ao Urso de Ouro

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Era uma vez um estudante de belas artes que adorava contos de fadas. Um dia, ele resolveu transformar a bruxa má numa silhueta escura.
Depois da bruxa vieram o príncipe e a princesa. E, então, o rapaz descobriu que era possível colocar os contos de fada em movimento e transpor o teatro de sombras para a tela grande.
Se viverão todos, criador e criatura, felizes para sempre, ainda não sabemos. Mas Michel Ocelot, 51, o ex-estudante, está radiante: "É sensacional imaginar minhas pequenas histórias entre os melhores filmes do mundo".
"Contos da Noite", primeiro filme de Ocelot em 3D, faz parte da seleta competição do festival de Berlim. É, também, o único francês a concorrer ao Urso de Ouro.
Ocelot, que prefere ser chamado de cineasta por considerar pouco preciso o título animador, conversou com a Folha num restaurante chamado Oscar. Seria o lugar um prenúncio? "Simplesmente não penso nisso. Quero só contar histórias."
Ocelot aderiu ao 3D num momento em que a Pixar já criou uma referência estética e narrativa para os bonecos em terceira dimensão. Mas ele não está nem aí para isso.
"Não quero um 3D realista. O 3D é muito mais uma armadilha tecnológica do que uma revolução", diz. "É um novo brinquedo, mas, depois que você vê algumas vezes um objeto chegando no seu nariz, ele perde a graça."

"SOU EU O CHEFE"
No 3D de Ocelot não há objetos saltando ou flores no cenário para que as crianças tentem tocá-las. Seus personagens continuam sendo silhuetas. O que mudou foi a profundidade de campo, que deixou as paisagens mais ricas e coloridas.
"A relação que o 3D cria entre o espectador e o diretor é muito sedutora", admite. "Mas sou eu o chefe, não o computador."
"Contos da Noite" segue a estrutura narrativa de "Príncipes e Princesas" (2000). Um menino, uma menina e um técnico de cinema discutem figurino, enredo e, tudo decidido, abrem uma cortina. Vem então um conto.
"Os contos de fada são minha linguagem", diz. "Gosto de fazer as pessoas se sentirem felizes e, com os contos, posso tocar em questões da sociedade de uma maneira agradável."
Ocelot, que até seu longa de estreia, "Kirikou e a Feiticeira" (1998), fazia só curtas e vivia sem dinheiro, diz ser fácil adaptar-se ao sucesso.
"Em "Kirikou" tive que filmar em cinco países para ter diferentes fontes de recursos. Foi um delírio. É mais simples a vida após o sucesso. Posso filmar na França."
Outra faceta do sucesso que o deixa orgulhoso é a possibilidade de mostrar filmes que alguns consideram infantis para plateias adultas. A passagem por Cannes, com "Kirikou - Os Animais Selvagens" (2005), foi um desses momentos.
E se chegasse agora uma fada que lhe concedesse um desejo? "Quero que meus filmes sejam vistos cada vez por mais gente e que as pessoas, ao vê-los, desfrutem da beleza e se sintam transportadas para algum lugar."


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