São Paulo, sexta-feira, 15 de março de 2002

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TEATRO

Penúltima peça da inglesa Sarah Kane deve estrear em agosto em SP

"Crave" traz crueza e humor apaixonados

Alexandre Wittboldt/Divulgação
A atriz Cristina Flores em cena de "Purificado", peça da inglesa Sarah Kane dirigida por por Felipe Vidal, que estréia hoje em SP


DA REPORTAGEM LOCAL

O ator Laerte Mello, da Três de Sangue Cia. de Teatro, assistiu à estréia de "Crave" em agosto de 98, no Festival de Edimburgo, Escócia. Na encenação de Vicky Featherstone, a peça de Sarah Kane chegou ao palco com quatro intérpretes e respectivas cadeiras.
Em cena, os atores deitavam o verbo, como se diz, sobre narrativas dos personagens A, B, M e C em torno de suas experiências amorosas, sejam elas sexuais, maternais ou abusivas.
"Com figurinos despojados, como se tivessem chegado do trabalho, os personagens sentavam e não se relacionavam um com o outro. Nada acontecia e tudo acontecia", diz Mello, 37.
A crueza e o humor apaixonados com os quais a autora cria os monólogos superpostos em "Crave" cativaram Mello para a obra de Kane.
Curador do Festival Cultura Inglesa em São Paulo, ele adquiriu os direitos dessa e da primeira peça da autora, "Blasted".
"Crave" (escrita sob pseudônimo Marie Kelvedon) deve estrear em agosto e "Blasted", em fevereiro do próximo ano, ambas em espaços a definir.
A Três de Sangue mantém-se coerente com a dramaturgia britânica. Montou "Shopping and Fucking", de Mark Ravenhill (a quem "Crave" é dedicada), e retomou um Harold Pinter dos anos 70, "Traição" ("Betrayal"), atualmente em cartaz.
Segundo o pesquisador Fernando Kinas, curador do projeto Teatro Francês Contemporâneo, que o Consulado da França e o Sesc São Paulo organizam durante 2002, a dramaturgia de Kane irradiou por países da Europa, sobretudo Alemanha e França (hoje, a autora é montada em pelo menos 14 países, Brasil incluído).
"O retrato do mundo urbano contemporâneo é uma das marcas do teatro de Sarah Kane, que morou parte da vida em Londres, conviveu com a violência de uma grande cidade. A violência se reflete nas próprias frases curtas, sem floreios, breve e diretas", afirma Kinas, 35.
Em 2001, The Royal Court Theatre, um dos templos da vanguarda inglesa, em Londres, realizou uma retrospectiva dos cinco textos de Kane. Para Laerte Mello, é possível diagnosticar a influência de Kane entre os novos autores britânicos. Cita o exemplo de Grae Cleugh, de "Fucking Games". De uma forma indireta, encontram-se estilhaços de Kane em autores brasileiros contemporâneos como Dionisio Neto, Mário Bortolotto e Newton Moreno, cada um a seu modo. (VS)


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