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Tropel reflete urgências do agora
DA REPORTAGEM LOCAL
Nada se sabe a respeito da origem ou do destino dos sete personagens de "Purificado" ("Cleansed"), da inglesa Sarah Kane, cuja
montagem estréia hoje no Teatro
Brasileiro de Comédia, com o
grupo carioca Tropel.
Aparentemente enclausurados
em um campus universitário, no
gramado (de onde são vistos através da cerca), no sanatório, no ginásio, na biblioteca, enfim, eles
são jovens, homens e mulheres
atraídos por encontros e desencontros de amor, de morte e de
um terceiro vício, as drogas.
Aqui, o campus é metáfora para
o campo de concentração.
Segundo o diretor Felipe Vidal,
27, "Purificado" expõe cuidados e
deslimites do relacionamento afetivo. "O quanto há de imediato na
realização dos desejos, do poder
que se delega ou se impõe ao outro, do quanto se é ou não senhor
do seu destino", diz.
Passado e futuro sucumbem ao
presente. O indivíduo dificilmente transcende ao instante, ao momento, como na frase-síntese de
Rod logo na segunda cena, quando assente diante de uma declaração de amor:
"Escuta. Só vou te dizer isso
uma vez. Eu te amo agora. Tô com
você agora. Eu vou fazer o meu
melhor, minuto a minuto, pra
não te trair. Agora. É isso. Mais
nada. Não me faz mentir pra você", afirma o personagem.
Entre os desafios de montar Sarah Kane, diz Vidal, está o da
transposição de algumas rubricas
para o palco. Há passagens, por
exemplo, em que ratos devoram
mão ou pé.
Para o diretor, o tom visceral é,
por vezes, simbólico. "Há rubricas quase cinematográficas, mas
nos guiamos pela essência, pela
poética da autora, por mais que
crua e rock'n'roll", afirma Felipe
Vidal. Na trilha musical, o diretor
funde o tropicalista Tom Zé, o
pop do Pato Fu e o eletrônico
Chemical Brothers. "Purificado"
fica em cartaz até 5 de maio.
No Rio de Janeiro, onde cumpriu temporada de três semanas
no final de 2001, o espaço cenográfico lembrava um corredor.
No Teatro Brasileiro de Comédia,
"Purificado" é adaptada para palco italiano, o que dificulta a marcação de cena. "Vamos centrar
tudo nos atores", diz Vidal.
É a segunda vez que o grupo
Tropel, criado em 95, visita a dramaturgia de Sarah Kane (já encenada pelo alemão Thomas Ostermeier, à frente da Berliner Schaubühne). No ano passado, o Tropel
montou "fedra@hipolito.com",
reunião de versões do mito com
textos da autora ("Phaedras's Love") e dos clássicos Eurípides e
Racine.
(VS)
PURIFICADO - De: Sarah Kane. Direção e
tradução: Felipe Vidal. Com: grupo
Tropel (Cristina Flores, Everson Romito,
Vitor Nalin, Afonso Henrique, Cristina
Ferrantini e Felipe Vidal. Onde: Teatro
Brasileiro de Comédia - sala Arte (r. Major
Diogo, 315, Bela Vista, tel. 0/xx/11/3115-4622). Quando: estréia hoje, às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h. Quanto: R$
15 e R$ 20 (sáb.). Até 5/5.
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