São Paulo, sexta-feira, 15 de março de 2002

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Tropel reflete urgências do agora

DA REPORTAGEM LOCAL

Nada se sabe a respeito da origem ou do destino dos sete personagens de "Purificado" ("Cleansed"), da inglesa Sarah Kane, cuja montagem estréia hoje no Teatro Brasileiro de Comédia, com o grupo carioca Tropel.
Aparentemente enclausurados em um campus universitário, no gramado (de onde são vistos através da cerca), no sanatório, no ginásio, na biblioteca, enfim, eles são jovens, homens e mulheres atraídos por encontros e desencontros de amor, de morte e de um terceiro vício, as drogas.
Aqui, o campus é metáfora para o campo de concentração.
Segundo o diretor Felipe Vidal, 27, "Purificado" expõe cuidados e deslimites do relacionamento afetivo. "O quanto há de imediato na realização dos desejos, do poder que se delega ou se impõe ao outro, do quanto se é ou não senhor do seu destino", diz.
Passado e futuro sucumbem ao presente. O indivíduo dificilmente transcende ao instante, ao momento, como na frase-síntese de Rod logo na segunda cena, quando assente diante de uma declaração de amor:
"Escuta. Só vou te dizer isso uma vez. Eu te amo agora. Tô com você agora. Eu vou fazer o meu melhor, minuto a minuto, pra não te trair. Agora. É isso. Mais nada. Não me faz mentir pra você", afirma o personagem.
Entre os desafios de montar Sarah Kane, diz Vidal, está o da transposição de algumas rubricas para o palco. Há passagens, por exemplo, em que ratos devoram mão ou pé.
Para o diretor, o tom visceral é, por vezes, simbólico. "Há rubricas quase cinematográficas, mas nos guiamos pela essência, pela poética da autora, por mais que crua e rock'n'roll", afirma Felipe Vidal. Na trilha musical, o diretor funde o tropicalista Tom Zé, o pop do Pato Fu e o eletrônico Chemical Brothers. "Purificado" fica em cartaz até 5 de maio.
No Rio de Janeiro, onde cumpriu temporada de três semanas no final de 2001, o espaço cenográfico lembrava um corredor. No Teatro Brasileiro de Comédia, "Purificado" é adaptada para palco italiano, o que dificulta a marcação de cena. "Vamos centrar tudo nos atores", diz Vidal.
É a segunda vez que o grupo Tropel, criado em 95, visita a dramaturgia de Sarah Kane (já encenada pelo alemão Thomas Ostermeier, à frente da Berliner Schaubühne). No ano passado, o Tropel montou "fedra@hipolito.com", reunião de versões do mito com textos da autora ("Phaedras's Love") e dos clássicos Eurípides e Racine. (VS)



PURIFICADO - De: Sarah Kane. Direção e tradução: Felipe Vidal. Com: grupo Tropel (Cristina Flores, Everson Romito, Vitor Nalin, Afonso Henrique, Cristina Ferrantini e Felipe Vidal. Onde: Teatro Brasileiro de Comédia - sala Arte (r. Major Diogo, 315, Bela Vista, tel. 0/xx/11/3115-4622). Quando: estréia hoje, às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h. Quanto: R$ 15 e R$ 20 (sáb.). Até 5/5.



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