DA REPORTAGEM LOCAL

Com "Jantar entre Amigos - Pequenos Terremotos", texto do nova-iorquino Donald Margulies, São Paulo assiste, a partir de hoje, no Teatro Folha, ao quinto espetáculo do diretor Felipe Hirsch desde a primeira temporada de "A Vida É Cheia de Som e Fúria", o chamariz, em julho de 2000.
A média é de uma montagem a cada quatro meses, o que no teatro não significa, necessariamente, qualidade ou defeito.
Hirsch integra a Sutil Companhia de Teatro, fundada em 93. Ambos, diretor e companhia, até pouco tempo atrás com sede em Curitiba, agora estão "radicados" no eixo Rio-São Paulo.
Como Andréa Beltrão e Eliane Giardini em "A Memória da Água", como Marieta Severo e Marco Nanini em "Os Solitários" (em cartaz no Alfa), as atrizes e produtoras Renata Sorrah e Xuxa Lopes convidaram Hirsch para um projeto comum (ele que também foi responsável pela montagem de "Nostalgia" na cidade).
Ao lado de Mário Schoemberger e Otávio Müller, as atrizes compõem os dois casais de Margulies que compartilham 12 anos de amizade e felicidade presumidas, mas, ao menor sinal de ruptura, sentem-se acuados, mobilizados pela intromissão do real.
Karen (Sorrah) e Gabe (Schoemberger) ficam pasmos quando Beth (Lopes) anuncia o fim do casamento com Tom (Müller), sob mágoas e juras de mulher traída, azedando o jantar na casa dos anfitriões.
"A peça já abre com esse lance interrompido, esse que seria mais um encontro como outro qualquer, mas abala a todos", afirma Xuxa Lopes, 48.
Num segundo momento, "Jantar entre Amigos" recua 12 anos e expõe os dois casais em seus primeiros passos. Nesse flashback é possível vislumbrar o quanto Karen e Gabe, Beth e Tom já não eram feitos exatamente um para o outro, mas se deixaram levar por "osmose", segundo Lopes.
"Por que os casamentos duram, uns conseguem ser felizes e outros não? O tempo mata o amor? E o desejo sexual?", são perguntas lançadas por Renata Sorrah, 54, supondo que o espectador as levará para a casa.
"O bacana é que Margulies fica neutro: na vida a dois ou na "solteirice", sempre será preciso ceder, tudo terá preço", diz Sorrah.
Exposta a crise de Beth e Tom, o casal-irmão Karen e Gabe entra naturalmente em processo de autoconhecimento. Da mesma forma, os separados descobrem que a amizade pode ser celebrada fora dos lençóis, tão amorosa quanto.
"Beth e Tom desenvolvem uma recuperação individual, experimentam o estar sozinho e a necessidade inerente do colo. Karen e Gabe também observam sua fragilidade", afirma Lopes.
Distante da narrativa de memórias que pontuou o trabalho da Sutil, Felipe Hirsch, 29, diz escolher como vetor o naturalismo, sobretudo na interpretação.
"Por meio do tema comum da vida a dois, Margulies extrai pérolas do submundo", diz o diretor, que assina a criação com o ator Guilherme Weber. O texto foi traduzido por Marta Góes.
Em tempo: Hirsch diz que vai tirar férias. (VALMIR SANTOS)