São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2010

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Ditadura é pano de fundo da HQ "Ato 5"

História aborda grupo teatral durante o governo militar no Brasil e é contada sob dois pontos de vista

DIOGO BERCITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não foi por causa de censura, mas o gibi "Ato 5" ficou de castigo por seis anos antes de ser publicado -às custas dos autores- no final do ano passado. Nenhuma editora estava interessada no curto material, de 28 páginas de extensão.
Agora que está impressa e à venda por R$ 5 (ou Cr$ 5, como brinca a capa), a HQ começa a circular entre interessados no gênero e a receber elogios.
Um dos motivos da boa recepção, ainda que por enquanto restrita, é o roteiro inteligente e ágil de André Diniz, artista vencedor de 14 prêmios, somando HQ Mix e Ângelo Agostini -os mais importantes dos quadrinhos nacionais. Também contribui o desenho anguloso de José Aguiar, 34, semelhante nos traços retos ao estilo de John Romita Jr. (de "Kick Ass", cujo filme estreia em abril nos EUA).
"Fui muito influenciado pelos gibis norte-americanos", diz o desenhista, em entrevista à Folha. Há influência europeia também, causa e consequência dos trabalhos que fez para países como Portugal, Espanha e França.

Cortina
A história de "Ato 5" se passa nos anos do governo militar no Brasil (1964-1985), em especial no momento em que foi decretado o AI-5 (Ato Institucional nº 5), em 1968.
Mas o "ato" a que se refere o título da HQ pode bem ser outro -o conjunto de cenas de uma peça de teatro. Essa interpretação é inspirada pelo tema do gibi, para o qual a ditadura, em vez de ser assunto, é pano de fundo. Em "Ato 5", é contada a história de uma trupe de teatro, com foco no relacionamento entre os atores e o diretor.
A narrativa é dividida em dois atos, cada qual contando a mesma sequência de eventos, mas a partir de pontos de vista distintos. Assim, até mesmo o amor entre os protagonistas é colocado em perspectiva, perdendo o que poderia ter de absoluto em uma visão simples. A ditadura aparece discretamente nos eventos externos e também nos detalhes dos desenhos de Aguiar -que é "filhote da ditadura", nas palavras dele, já que nasceu antes da reabertura democrática. "Não entendia o que estava acontecendo."
"Pesquisei a tipologia da época, cartazes de peças, figurino, penteados", explica o artista, que ilustra a história com bico de pena nos traços pretos e Photoshop nos tons de cinza.
Para o segundo semestre, Aguiar já tem programado um novo gibi. O tema, mais uma vez, orbita em torno de uma companhia de teatro.


ATO 5

Autores: André Diniz e José Aguiar
Editora: Independente
Quanto: R$ 5 (28 págs.)




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