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Ditadura é pano de fundo da HQ "Ato 5"
História aborda grupo teatral durante o governo militar no Brasil e é contada sob dois pontos de vista
DIOGO BERCITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não foi por causa de censura,
mas o gibi "Ato 5" ficou de castigo por seis anos antes de ser
publicado -às custas dos autores- no final do ano passado.
Nenhuma editora estava interessada no curto material, de
28 páginas de extensão.
Agora que está impressa e à
venda por R$ 5 (ou Cr$ 5, como
brinca a capa), a HQ começa a
circular entre interessados no
gênero e a receber elogios.
Um dos motivos da boa recepção, ainda que por enquanto restrita, é o roteiro inteligente e ágil de André Diniz, artista
vencedor de 14 prêmios, somando HQ Mix e Ângelo Agostini -os mais importantes dos
quadrinhos nacionais.
Também contribui o desenho anguloso de José Aguiar,
34, semelhante nos traços retos
ao estilo de John Romita Jr. (de
"Kick Ass", cujo filme estreia
em abril nos EUA).
"Fui muito influenciado pelos gibis norte-americanos",
diz o desenhista, em entrevista
à Folha. Há influência europeia também, causa e consequência dos trabalhos que fez
para países como Portugal, Espanha e França.
Cortina
A história de "Ato 5" se passa
nos anos do governo militar no
Brasil (1964-1985), em especial
no momento em que foi decretado o AI-5 (Ato Institucional
nº 5), em 1968.
Mas o "ato" a que se refere o
título da HQ pode bem ser outro -o conjunto de cenas de
uma peça de teatro.
Essa interpretação é inspirada pelo tema do gibi, para o qual
a ditadura, em vez de ser assunto, é pano de fundo.
Em "Ato 5", é contada a história de uma trupe de teatro,
com foco no relacionamento
entre os atores e o diretor.
A narrativa é dividida em
dois atos, cada qual contando a
mesma sequência de eventos,
mas a partir de pontos de vista
distintos. Assim, até mesmo o
amor entre os protagonistas é
colocado em perspectiva, perdendo o que poderia ter de absoluto em uma visão simples.
A ditadura aparece discretamente nos eventos externos e
também nos detalhes dos desenhos de Aguiar -que é "filhote
da ditadura", nas palavras dele,
já que nasceu antes da reabertura democrática. "Não entendia o que estava acontecendo."
"Pesquisei a tipologia da época, cartazes de peças, figurino,
penteados", explica o artista,
que ilustra a história com bico
de pena nos traços pretos e
Photoshop nos tons de cinza.
Para o segundo semestre,
Aguiar já tem programado um
novo gibi. O tema, mais uma
vez, orbita em torno de uma
companhia de teatro.
ATO 5
Autores: André Diniz e José Aguiar
Editora: Independente
Quanto: R$ 5 (28 págs.)
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