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crítica
Livro se entrega ao capitalismo
NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para nós, brasileiros,
US$ 100 mil ainda soam
como um valor bem substancioso, portanto é estranho ver como executivos
nova-iorquinos lidam com
US$ 1 milhão como se fosse uma ninharia. Trata-se
de uma das maiores inversões (ou perversões) do
supercapitalismo americano: a naturalização do
artifício e a artificialização
da natureza. É como se o
dinheiro, produto artificial, fosse um dado da natureza, como uma banana
ou uma montanha. Algo
inevitável a que precisamos nos adaptar; um fenômeno tão inquestionável
quanto a lei da gravidade.
É isso o que se lê em
"Selva de Batom", o último
livro de Candace Bushnell.
Mulheres altamente bem-sucedidas, agora na faixa
dos 40 anos, usando relações amorosas e familiares
simplesmente como extensão de seu repertório
monetário.
E, por incrível que pareça, o livro não faz a crítica
desse quadro; ao contrário, as ironias são fórmulas
cosméticas para disfarçar
um elogio dessa situação.
Como se fosse um tratado
feminista, mostrando o
quanto as mulheres conseguiram chegar ao topo e
ainda se preocupar com o
amor e com os filhos.
Mas não é. Wendy, Nico
e Victory, as protagonistas, macaqueiam o que as
mulheres sempre criticaram como o lado mais detestável dos homens: manipulam, dissimulam e
têm convicção de seus objetivos. É como se a igualdade feminina fosse, enfim, tornar-se tão terrível
quanto os piores homens.
O livro parece uma série
de TV adaptada para a linguagem escrita. Tiradas,
diálogos constantes, cenas
dinâmicas e curtas. E o espectro terrível que ronda a
todas as personagens é o
"loser", esse monstro
ameaçador. A meta de
"perder" ou "ganhar" na
vida transforma tudo num
jogo. É melhor perder a ter
de concordar com isso.
SELVA DE BATOM
Autor: Candace Bushnell
Lançamento: Record
Preço: R$ 50 (436 págs.)
Avaliação: ruim
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