São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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crítica

Livro se entrega ao capitalismo

NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para nós, brasileiros, US$ 100 mil ainda soam como um valor bem substancioso, portanto é estranho ver como executivos nova-iorquinos lidam com US$ 1 milhão como se fosse uma ninharia. Trata-se de uma das maiores inversões (ou perversões) do supercapitalismo americano: a naturalização do artifício e a artificialização da natureza. É como se o dinheiro, produto artificial, fosse um dado da natureza, como uma banana ou uma montanha. Algo inevitável a que precisamos nos adaptar; um fenômeno tão inquestionável quanto a lei da gravidade.
É isso o que se lê em "Selva de Batom", o último livro de Candace Bushnell.
Mulheres altamente bem-sucedidas, agora na faixa dos 40 anos, usando relações amorosas e familiares simplesmente como extensão de seu repertório monetário.
E, por incrível que pareça, o livro não faz a crítica desse quadro; ao contrário, as ironias são fórmulas cosméticas para disfarçar um elogio dessa situação.
Como se fosse um tratado feminista, mostrando o quanto as mulheres conseguiram chegar ao topo e ainda se preocupar com o amor e com os filhos.
Mas não é. Wendy, Nico e Victory, as protagonistas, macaqueiam o que as mulheres sempre criticaram como o lado mais detestável dos homens: manipulam, dissimulam e têm convicção de seus objetivos. É como se a igualdade feminina fosse, enfim, tornar-se tão terrível quanto os piores homens.
O livro parece uma série de TV adaptada para a linguagem escrita. Tiradas, diálogos constantes, cenas dinâmicas e curtas. E o espectro terrível que ronda a todas as personagens é o "loser", esse monstro ameaçador. A meta de "perder" ou "ganhar" na vida transforma tudo num jogo. É melhor perder a ter de concordar com isso.


SELVA DE BATOM
Autor:
Candace Bushnell
Lançamento: Record
Preço: R$ 50 (436 págs.)
Avaliação: ruim


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