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Crítica
Lançamentos evidenciam a maturação da obra de Kar-wai
Chegam às locadoras "Conflito Mortal" realizado em 1988, e "Eros", de 2004
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O tempo é uma questão
essencial no cinema do
chinês Wong Kar-wai.
É no vaivém amoroso e na busca pela demorada conexão entre personagens solitários que
ele encontra os temas que o fizeram construir uma das filmografias mais cultuadas do cinema atual.
Pois é ironicamente o tempo
que redime sua estréia na direção, o irregular "Conflito Mortal" (1988), que chega agora ao
Brasil em DVD. Colocado ao lado de outro lançamento recente, o filme-conjunto "Eros"
(2004), no qual dirige o segmento "A Mão", tem-se um panorama mais amplo de como
Kar-wai maturou seu olhar.
Os dois filmes partem de
uma idéia parecida: a doença
como fator de união, brevíssima, entre amantes. No entanto,
as semelhanças param por aí.
"Conflito Mortal" é uma espécie de versão do diretor para
"Caminhos Perigosos" (1973),
de Scorsese. Quem espera as
metáforas saudavelmente pueris de Kar-wai vai se desapontar. Este é um típico filme de
gângster, violento e cheio de
ação, na linha de John Woo.
O longa conta a história de
Wah (Andy Lau), líder de gangue de rua que apadrinha um
tolo metido a valentão, sempre
disposto a desafiar chefes rivais. Wah percebe que é hora de
mudar de vida quando se apaixona pela prima Ngor (Maggie
Cheung), que está em Hong
Kong para cuidar da saúde.
Se em filmes posteriores a
trama é apenas um pretexto para vôos estilísticos e poéticos
maiores, em "Conflito Mortal"
há só um esboço. Mas já é totalmente um cinema de néon.
A atmosfera de caos urbano
de "Amores Expressos" (1994),
por exemplo, já está aqui. Kar-wai, na estréia, não tem o apoio
do diretor de fotografia Chris
Doyle (quem cumpre a função é
Andrew Lau, um dos diretores
de "Conflitos Internos", filme
que serviu de base para "Os Infiltrados", de Scorsese), mas já
usa a velocidade alterada, imagens distorcidas, filtros e planos estáticos da cidade.
Há, sim, um grande desencontro amoroso, embalado por
uma versão local de "Take My
Breath Away" (hit oitentista da
trilha de "Top Gun"), mas é algo
secundário na trama. Kar-wai
ainda não tornava seus fetiches
públicos. A experiência não será renegada pelo diretor. "Anjos Caídos" (1995), por exemplo, também paga tributo ao filme de gângster e parece reaproveitar e aperfeiçoar idéias
de "Conflito Mortal".
Dezesseis anos após "Conflito Mortal", quando é lançado
"Eros", Kar-wai é, ele próprio,
um fetiche, um autor que consegue unir o Oriente e o Ocidente, conceitos de Antonioni e
Godard. "A Mão", melhor episódio do filme (Antonioni e
Steven Soderbergh dirigem os
outros), que aborda sexo e
amor, cumpre a proposta temática que Kar-wai escolheu em
sua carreira. Na história do alfaiate que vive uma paixão platônica por uma cortesã, o diretor confirma sua obsessão pela
nostalgia dos anos 60, pelo glamour de mulheres maravilhosas e, novamente, pelo tempo,
como fator de união e separação de almas desoladas.
CONFLITO MORTAL
Distribuidora: Europa (só para locação)
Avaliação: regular
EROS
Distribuidora: Califórnia (só para locação)
Avaliação: bom
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