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Fundação Roberto Marinho contesta MinC
Entidade questiona mudanças da Lei Rouanet em documento ao ministro da Cultura
Críticas da fundação ao
projeto do governo têm
base em aspectos jurídicos;
ministro diz que aceita o
debate e dará respostas
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Fundação Roberto Marinho encaminhou ao Ministério
da Cultura um questionamento, amparado em argumentos
jurídicos, à mudança da Lei
Rouanet proposta pela pasta.
(Leia tópicos no quadro à dir.)
A principal crítica da Fundação Roberto Marinho às alterações que o MinC propõe na lei é
que elas a tornam "menos atrativa" aos empresários e, se efetuadas, resultarão na redução
dos recursos injetados na área.
"Não vejo sentido em criar
qualquer desestímulo. A cultura é que está sendo penalizada",
afirma Hugo Barreto, secretário-geral da fundação.
O ministro Juca Ferreira diz
que "o comentário é inócuo".
Ele afirma que "em 18 anos de
[vigor da] lei, só 4% do universo
das empresas que podem contribuir com a Lei Rouanet contribuem; o resultado dessa parceria-público-privado redundou em 90% de dinheiro público e só 10% de dinheiro privado
[movimentados pela lei]" e
conclui: "É tapar o sol com a peneira não reconhecer que é preciso modificar as regras para
que a gente de fato tenha uma
parceria-público-privado no financiamento da cultura".
A fundação contabiliza 33
projetos financiados com recursos da Lei Rouanet, tendo
reunido, desde que a lei está em
vigor, R$ 81 milhões.
Mais da metade do montante
captado pela Fundação Roberto Marinho foi para a implantação dos museus da Língua Portuguesa (R$ 25,2 milhões),
aberto em 2006, e do Futebol
(R$ 19 milhões), no ano passado -ambos em São Paulo.
A Lei Rouanet (1991) canaliza parte do Imposto de Renda
devido para a produção cultural. Movimentou, em 2008,
cerca de R$ 1,2 bilhão.
O MinC (Ministério da Cultura) apoia sua proposta de alterar a lei no argumento de que
é preciso torná-la mais democrática, dotando-a de critérios
que garantam amplo acesso ao
mecanismo, cujos recursos hoje concentram-se na região Sudeste e num grupo de usuários.
Barreto afirma que os projetos da entidade "são todos de
natureza pública". Ele cita que
a Fundação Roberto Marinho
"é ligada à família Marinho, e
não às empresas Globo" e diz
que os Marinho doam anualmente R$ 20 milhões "já tributados" à fundação, que "opera
com recursos de terceiros".
A instalação dos museus da
Língua Portuguesa e do Futebol foi feita em parceria com os
governos municipal e estadual
de São Paulo. "A gente tem um
modelo de atuação atendendo a
demandas do poder público",
afirma Barreto.
Sobre a concentração de recursos da lei na região Sudeste
apontada pelo MinC, Barreto
afirma: "Não há quem discorde
de que a Lei Rouanet não conseguiu distribuir recursos na
intensidade adequada para o
Norte e o Nordeste. Só que o
anteprojeto [do MinC] não traz
nenhuma proposta objetiva para essa questão, não traz nenhuma ferramenta para corrigir essa distorção".
Critérios
O ministro vê "razão parcial"
na observação. "Na medida em
que você vai ter critérios [a serem definidos futuramente por
decreto], na elaboração dos critérios você propõe dois ou três
critérios que sejam para garantir a proporcionalidade próxima de um distributivismo justo", afirma.
Para Barreto, ao ressaltar as
diferenças regionais na distribuição dos recursos da Lei
Rouanet, o MinC "cria essa dialética do impasse, do conflito" e
não reconhece que a característica se verifica também na gestão de verbas do próprio MinC.
Ele cita estudo do Observatório Itaú Cultural segundo o
qual 86% dos recursos distribuídos pela pasta por meio do
Fundo Nacional de Cultura de
2002 a 2007 foram para as regiões Sul e Sudeste. O desequilíbrio seria, em sua interpretação, reflexo de uma condição
macroeconômica, não indício
de distorção específica da lei.
Ferreira diz que "até o final
da semana" deverá emitir uma
resposta a Barreto, "aceitando
o debate e fazendo críticas a alguns aspectos do documento",
com o qual afirma ter "discordâncias e concordâncias".
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