São Paulo, Quinta-feira, 15 de Abril de 1999
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RELÂMPAGOS
Resguardo

JOÃO GILBERTO NOLL

Cheguei cedo à igreja. Uma voz infantil deliciava-se na retumbância da acústica. Missa de sétimo dia de um amigo. Anos sem me postar diante de um altar. As flores brancas pareciam servir a um casamento. A viúva apertou meu braço, como se afrontasse meu velho resguardo. Reagi, cochichei o que ali não se devia formular: "Lembra aquele filme...?, esquece, depois falo". Ela se ajoelhou, encarando seu papel na cena. Um ouro do vitral incendiava minha mão. Enfiei-a debaixo da camisa cheio de uma vergonha. Minhas batidas se aceleravam. Sentei, baixei a cabeça: como ele, com certeza eu saberia blasfemar calado até o fim...


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