São Paulo, Quinta-feira, 15 de Abril de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Artista busca apoio no Rio para recuperar trabalhos retidos há cerca de cinco meses no porto de Santos
Franz Krajcberg quer suas obras de volta

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
O artista Franz Krajcberg no ateliê de Rubens Gerchman, no Rio


CELSO FIORAVANTE
enviado especial ao Rio

O ateliê de Rubens Gerschman, na Barra da Tijuca (Rio), serviu no último domingo para um encontro de artistas plásticos. Estiveram presentes Krajcberg, Tunga, Gerschman e Mônica Carvalho, além do marchand Jean Boghici.
O encontro foi motivado pelas dificuldades que Krajcberg tem encontrado para liberar obras suas provenientes da França e retidas no porto de Santos desde novembro. As obras foram expostas na Fundação Cartier (Paris), que pagou as despesas de exportação e importação dos trabalhos.
O problema começou quando a Receita Federal alegou erro de endereço para reter o contêiner com suas obras. Os fiscais viram duplicidade no endereço do artista, que possui ateliê em Nova Viçosa (Bahia) e apartamento no Rio.
O impasse foi resolvido, mas as obras acabaram retidas, o que gerou cobrança de taxas de aluguel do contêiner e de armazenagem, que passaram de R$ 60 mil.
"O meu caso é apenas um detalhe na situação da vida cultural do país. Não há razão para pagar por trâmites burocráticos. Por que os trabalhos não foram para Nova Viçosa depois dos três dias em que foram liberados pela Receita Federal?", indagou Krajcberg. O artista já conseguiu reduzir o valor do débito, uma vez que a agência marítima alemã Maesk, proprietária do contêiner, abriu mão do aluguel.
Segundo o artista, o valor a ser pago atualmente é de cerca de R$ 9.000, referente a armazenagem e taxas, mas ele não aceita pagar.
"As minhas obras estão há cinco meses no porto de Santos sem qualquer cuidado. Podem se deteriorar, se perder. Estão tentando fazer com que se caracterize o abandono das obras para assim poder vendê-las ou jogá-las fora. O que estão fazendo é uma chantagem com o artista", disse.
Tunga também criticou o tratamento que os artistas recebem ao sair ou entrar no país com suas obras. "Para expor fora do país, tenho que produzir lá fora, pois o "custo Brasil para as artes plásticas" é exorbitante. Não quero que nos ajudem, mas que não nos atrapalhem", disse. Ele também citou a instrução normativa assinada na sexta, em São Paulo, pelo secretário da Receita, Everardo Maciel, que facilita o trânsito de bens culturais no país. "Achar que a arte se constrói com instituições públicas é um retrocesso, pois promove a estatização da cultura", disse.


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