São Paulo, Quinta-feira, 15 de Abril de 1999
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RÉPLICA
"Castelo Rá-Tim-Bum" falará por si

ALAIN FRESNOT
especial para a Folha

Na terça-feira, 30 de março, tivemos a nítida sensação de que estávamos voltando no tempo. Um tempo em que o cinema brasileiro era maltratado gratuitamente pela imprensa. A capa da Ilustrada dando conta do início das filmagens de "Castelo Rá-Tim-Bum", produzido por nós e dirigido por Cao Hamburger, nos surpreendeu e nos fez lembrar dessa época.
Mesmo partindo de um bom sentimento (a intenção de defender a criação nacional), infelizmente o texto procura destruir o que quer aprimorar. Tratou-se de um "patrulhamento" canhestro, uma manchete maldosa e equivocada.
Quanto ao texto, cumpre esclarecer que:
1) A Columbia é uma das co-produtoras do filme por meio da Lei do Audiovisual e será a distribuidora, investindo dinheiro oriundo de renúncia fiscal. Esses recursos só podem ser direcionados a produções cinematográficas independentes.
2) De fato e de contrato as decisões de caráter criativo de toda ordem são de exclusiva responsabilidade do diretor, como em todas as nossas produções.
3) Outros sócios importantes, como o Banespa ou a TV Cultura, também tiveram acesso ao roteiro e teriam tido a mesma atenção da produtora caso desejassem aprofundar conosco a roteirização.
4) Ainda quanto à Columbia, Rodrigo Saturnino é parceiro histórico do cinema brasileiro, viveu e contribuiu com seu trabalho para o momento de maior afirmação de nossa cinematografia. Iôna de Macêdo, profissional oriunda do cinema independente, trabalha para otimizar o investimento permitido por lei para a Columbia, que antes das outras "majors" percebeu o potencial do cinema brasileiro.
O cinema dito "independente" felizmente está aumentando a sua participação no mercado mundial. Filmes como "O Piano", "O Carteiro e o Poeta" e o nosso "Central do Brasil" são exemplos disso. Hoje, filmes de autor são potencialmente mais promissores do que filmes de "proveta". Infelizmente o jornalista não teve o cuidado de abordar esse tema, que nos pareceu ser o de sua preocupação, com a sensibilidade e a profundidade necessárias. Ironias fáceis, citações deslocadas do contexto, "tiradas" pretensamente inteligentes não ajudam em nada nossos filmes.
O Brasil importa US$ 600 milhões de audiovisual e exporta US$ 35 milhões. Esse é o fato, talvez fosse a pauta?
Os filmes da A.F. Cinema "Ed Mort", de Alain Fresnot, "Kenoma", de Eliane Caffé, "Através da Janela", de Tata Amaral, e "Castelo Rá-Tim-Bum", de Cao Hamburger, falam ou falarão por si.
Ao permitir que as "majors" utilizem parte de seu imposto devido para a co-produção de filmes no Brasil, o governo visou estimular a atividade e fortalecer as produtoras nacionais. Infelizmente, só a Columbia Tristar se beneficia do mecanismo. Ou encontra-se uma solução para que as outras também invistam, ou volta-se ao sistema antigo em que esses recursos eram administrados pelo poder público em benefício da produção. Essa é a verdadeira questão.
No momento só podemos agradecer a parceria com a Columbia, que está ajudando a viabilizar o filme do Cao, como ele o quer fazer.


Alain Fresnot é cineasta e produtor e dirigiu "Lua Cheia" e "Ed Mort".


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