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RÉPLICA
"Castelo Rá-Tim-Bum" falará por si
ALAIN FRESNOT
especial para a Folha
Na terça-feira, 30 de março, tivemos a nítida sensação de que estávamos voltando no tempo. Um
tempo em que o cinema brasileiro
era maltratado gratuitamente pela
imprensa. A capa da Ilustrada
dando conta do início das filmagens de "Castelo Rá-Tim-Bum",
produzido por nós e dirigido por
Cao Hamburger, nos surpreendeu
e nos fez lembrar dessa época.
Mesmo partindo de um bom
sentimento (a intenção de defender a criação nacional), infelizmente o texto procura destruir o
que quer aprimorar. Tratou-se de
um "patrulhamento" canhestro,
uma manchete maldosa e equivocada.
Quanto ao texto, cumpre esclarecer que:
1) A Columbia é uma das co-produtoras do filme por meio da Lei
do Audiovisual e será a distribuidora, investindo dinheiro oriundo
de renúncia fiscal. Esses recursos
só podem ser direcionados a produções cinematográficas independentes.
2) De fato e de contrato as decisões de caráter criativo de toda ordem são de exclusiva responsabilidade do diretor, como em todas as
nossas produções.
3) Outros sócios importantes,
como o Banespa ou a TV Cultura,
também tiveram acesso ao roteiro
e teriam tido a mesma atenção da
produtora caso desejassem aprofundar conosco a roteirização.
4) Ainda quanto à Columbia, Rodrigo Saturnino é parceiro histórico do cinema brasileiro, viveu e
contribuiu com seu trabalho para
o momento de maior afirmação de
nossa cinematografia. Iôna de Macêdo, profissional oriunda do cinema independente, trabalha para
otimizar o investimento permitido
por lei para a Columbia, que antes
das outras "majors" percebeu o
potencial do cinema brasileiro.
O cinema dito "independente"
felizmente está aumentando a sua
participação no mercado mundial.
Filmes como "O Piano", "O Carteiro e o Poeta" e o nosso "Central do
Brasil" são exemplos disso. Hoje,
filmes de autor são potencialmente
mais promissores do que filmes de
"proveta". Infelizmente o jornalista não teve o cuidado de abordar
esse tema, que nos pareceu ser o de
sua preocupação, com a sensibilidade e a profundidade necessárias.
Ironias fáceis, citações deslocadas
do contexto, "tiradas" pretensamente inteligentes não ajudam em
nada nossos filmes.
O Brasil importa US$ 600 milhões de audiovisual e exporta US$
35 milhões. Esse é o fato, talvez fosse a pauta?
Os filmes da A.F. Cinema "Ed
Mort", de Alain Fresnot, "Kenoma", de Eliane Caffé, "Através da
Janela", de Tata Amaral, e "Castelo
Rá-Tim-Bum", de Cao Hamburger, falam ou falarão por si.
Ao permitir que as "majors" utilizem parte de seu imposto devido
para a co-produção de filmes no
Brasil, o governo visou estimular a
atividade e fortalecer as produtoras nacionais. Infelizmente, só a
Columbia Tristar se beneficia do
mecanismo. Ou encontra-se uma
solução para que as outras também invistam, ou volta-se ao sistema antigo em que esses recursos
eram administrados pelo poder
público em benefício da produção.
Essa é a verdadeira questão.
No momento só podemos agradecer a parceria com a Columbia,
que está ajudando a viabilizar o filme do Cao, como ele o quer fazer.
Alain Fresnot é cineasta e produtor e dirigiu
"Lua Cheia" e "Ed Mort".
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