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"OS COLLEGAS"
Montagem sobre era Collor apela à memória pelo riso
Luiz Doro/Divulgação
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Germano Melo e Daniel Alvim em cena do espetáculo "Os Collegas", do grupo Bendita Trupe, com direção de Johana Albuquerque |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
É ousada a proposta da Bendita Trupe. Transformar em
peça teatral fatos recentes da política, e fatos tão marcantes como
os da era Collor, supõe, por um lado, se embasar em uma pesquisa
sólida, à prova de processos por
injúria e difamação, e, por outro,
prever uma platéia com a memória emotiva à flor da pele. Não se
trata mais de denunciar a injusta
política atual, mas de lembrar de
injustiças recentes, aparentemente superadas, e apelar à consciência e à responsabilidade de uma
platéia que votou ou não votou
em Collor, se arrependeu ou não.
Não que seja imparcial o ponto
de vista da montagem: o público
já é recebido ao som de Gabriel o
Pensador se vangloriando por ter
matado o presidente. E se o grupo
relata não ter começado os ensaios prevendo o tom que o espetáculo viria a ter, se seria uma farsa debochada ou um drama shakespeariano, o fato de o resultado
final remeter basicamente ao tom
paródico do teatro de revista talvez seja devido ao grotesco intrínseco dos fatos reais. O que chocou
a opinião pública no processo de
impeachment não foram tanto os
milhões desviados, já que a corrupção é doença endêmica mundial, mas o modo canhestro como isso foi feito, a sem-cerimônia, a
aplicação reles em fontes ornamentais e prazeres mesquinhos.
A montagem é assim dominada
por um humor caricatural, bem
exercido por um elenco camaleônico em cenas ágeis. A diretora Johana Albuquerque soube articular com grande inventividade um
material que se adivinha saído de
improvisos produtivos.
Porém, quando a peça faz a platéia rir de Paulo César Farias, despachando na cama presidencial,
em flagrante promiscuidade com
uma primeira-dama "caipira",
corre o risco de amenizar o deprimente dos fatos reais, como se tudo houvesse acabado em Carnaval. Nas cenas finais, no entanto,
Collor, já "impeachado", encontra seu ex-motorista trabalhando
como flanelinha, arrependido por
ter se tornado "exemplo de brasileiro" por manipulação jornalística, e o humilha. Azedado, o humor ganha então a conotação de
ironia shakespeariana.
Contrariando o lugar-comum
autodepreciativo de que o brasileiro não tem memória, a montagem exerce assim, apesar das ingenuidades, uma função fundamental: lembra a platéia que Collor foi eleito pela vontade do povo, que o escolheu para representá-lo. E que, a qualquer momento,
pode ser eleito de novo. Porque a
única coisa que se tem certeza de
que não volta é o dinheiro desviado pela corrupção.
Os Collegas
Texto e interpretação: Bendita Trupe
Direção: Johana Albuquerque
Quando: de qui. a sáb., às 21h, e dom., às
20h; até 12/10
Onde: Sérgio Cardoso - Marcenaria dos
Atores (r. Rui Barbosa, 153, SP, tel. 0/xx/
11/288-0136)
Quanto: R$ 15
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