São Paulo, domingo, 15 de maio de 2005

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George Lucas fala com exclusividade sobre o último episódio de "Guerra nas Estrelas", que explica origem de Darth Vader

O eterno retorno

Divulgação
Anthony Daniels (C-3PO) com Natalie Portman (Padme Amidala) e Hayden Christensen (Anakin Skywalker) em cena do terceiro episódio


IAN SPELLING
DO "NEW YORK TIMES SYNDICATE"

George Lucas está guardando sua espada de luz.
O criador barbudo do fenômeno "Guerra nas Estrelas" resolveu pôr um fim a ele -apenas de certa forma, já que, como os cavaleiros jedis, a saga nunca morrerá de fato- com a estréia mundial, na próxima quinta, de "Star Wars: Episódio 3 - A Vingança dos Sith", que pré-estréia hoje, no Festival de Cannes (leia texto nesta pág.).
Terceiro e último filme da trilogia de "preqüências", os filmes cuja história antecede a do primeiro "Star Wars" a ser produzido, "A Vingança dos Sith" mostra o percurso seguido pelo jovem e impulsivo jedi Anakin Skywalker (Hayden Christensen) até se transformar em Darth Vader.
Em entrevista concedida em seu rancho em San Rafael, na Califórnia, o cineasta comenta o novo filme, as críticas às duas primeiras partes da trilogia atual e futuros projetos relacionados à franquia.

Pergunta - Realmente chegamos ao fim de "Star Wars"?
George Lucas -
É o fim, sim. O filme começa com Darth Vader quando criança e termina com ele morrendo. Não sei para onde mais eu poderia conduzi-lo.

Pergunta - Em "A Vingança dos Sith", você aparece como um homem no teatro onde Anakin e Palpatine assistem a um espetáculo. Por que fez uma ponta no filme?
Lucas -
Minha filha me convenceu a isso. Katie está naquela cena comigo, e minha outra filha, Amanda, também. Katie falou: "Vamos lá, você precisa entrar nessa cena conosco". Então eu disse: "Tá bom, eu vou". A cena foi dirigida pelos caras dos efeitos especiais. Estou no pano de fundo. Apenas fiquei lá, em pé.

Pergunta - É desconcertante ouvir a fala "é preciso treinar para abrir mão de tudo o que teme perder". Por que Yoda teve de dizê-la?
Lucas -
O que ele fala é que a posse é o outro lado da cobiça. O medo é a raiz do lado escuro.

Pergunta - Alguma vez pensou em iniciar a história com Anakin tendo a mesma idade que Luke Skywalker tinha no original?
Lucas -
Se tivesse feito isso, Anakin já seria um jedi. O primeiro capítulo mostra basicamente como ele chega a ser um jedi. Queria vê-lo como criancinha angelical. "A Ameaça Fantasma" se propôs a deitar as bases de tudo. Como ele conhece Padme? Como ele se torna um jedi? Todas essas coisas são apresentadas, o que geralmente se faz no primeiro ato. Quando fui fazer os primeiros episódios, todo mundo falou: "Ele vai fazer as "preqüências'! Legal, mais "Star Wars'!" etc. e tal. E falei: "Este primeiro é sobre um garoto de nove anos e não tem Darth Vader". Todos reclamaram: "Meu Deus, isso vai ser terrível". As pessoas diziam ao [produtor] Rick [McCallum]: "Você precisa fazer o Lucas parar. Precisamos ver Darth Vader matando todo o mundo".

Pergunta - E você respondia?
Lucas -
Eu dizia: "Não é essa a história. Estou contando uma história. Não é um trabalho de marketing. Vamos nos lembrar do porquê de estarmos aqui". Eu não briguei para ter minha liberdade apenas para fazer basicamente o que os estúdios fariam.
Naquele momento, todo mundo estava preocupado. Ninguém se preocupa realmente com o que as pessoas vão pensar do filme, todo mundo se preocupa em saber se o filme vai dar dinheiro ou não. E havia a possibilidade, naquele momento, de eu perder tudo. O filme poderia não ter dado lucro. Já houve muitas seqüências que fracassaram, e o episódio 1 veio após um hiato de 20 anos.
Foi por isso que se criou um hype exagerado em torno do filme -porque todo o mundo temia realmente que não fosse funcionar, temia que ninguém iria ao cinema para assistir a uma história sobre um garoto. Mas eu fiz o filme assim porque achei que devia e porque era assim que eu queria contar a história. Fiz isso para contar essa história, não porque queria fazer uma seqüência.
Quando chegou a hora do segundo, as pessoas ficaram ainda mais temerosas. Disseram: "Todo mundo odiou o primeiro; as pessoas vão odiar o segundo ainda mais, porque agora você está criando uma história de amor. Está na hora de trazer Darth Vader de volta!". Eu disse: "Olhem só, é uma história. Vamos contar a história, pelo amor de Deus! Vamos fazer um terceiro filme, e aí Darth Vader vai aparecer. Todo mundo ficará contente, e a história chegará ao fim". Se não ganhamos dinheiro com isso, tudo bem. Eu consegui fazer meus filmes e contar minhas histórias.

Pergunta - Até que ponto você está satisfeito com "A Vingança"?
Lucas -
Adoro o terceiro filme. É o mais emotivo dos três. Tenho a tendência a enxergar os filmes como uma coisa só. Era isso que se pretendia que fosse. Então foi crescendo e se transformou nessa coisa que eu não tinha imaginado que pudesse virar. Eu disse: "Sabe de uma coisa, mudaria tudo se eu contasse o que antecede essa história, porque é interessante". Eu sabia que, se fizesse isso, teria que filmar o capítulo 1, já que tinha começado antes pelo capítulo 4. E eu sabia que teria que fazer outra trilogia, para que fosse poético.

Pergunta - Por que não romper totalmente com "Guerra nas Estrelas" agora? Por que anunciar versões em 3-D dos seis filmes e dois programas de TV baseados em "Guerra nas Estrelas"?
Lucas -
Não vou fazer o seriado de TV. Estou apenas ajudando a desenvolvê-lo. Outras pessoas vão criar o seriado. Não vou me envolver com ele realmente. Mas nunca vou cortar os laços com "Guerra nas Estrelas" por completo. Eu amo "Guerra nas Estrelas" e não me incomodo de estar envolvido com isso. Apenas não quero passar o resto dos meus dias fazendo isso. Não quero estar nessa roda-viva, ter que trabalhar com "Guerra nas Estrelas" todos os dias, fazer apenas uma mídia, um estilo específico. Quero sair por aí e fazer outras coisas. Os seriados de TV e todas essas coisas serão separados, como os livros.

Pergunta - Do que George Lucas não consegue abrir mão?
Lucas -
A fala de Yoda diz respeito a mim mesmo. Estou abrindo mão do que mais temo perder [risos]. Na realidade, não. Mas estou me desapegando. Gosto de "Guerra nas Estrelas", mas não pretendo passar o resto da vida fazendo isso. Existem coisas que quero fazer antes de ir embora.


Tradução Clara Allain

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