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O ETERNO RETORNO FINANCEIRO
Mesmo sem novos episódios, saga manterá lucros com DVD, versões e produtos licenciados
"Star Wars" deve perdurar por mais 15 anos
SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA
Depois de gastar US$ 350 milhões e vários meses em reformas
e restauração, George Lucas se
prepara para mudar seu complexo industrial de entretenimento
do rancho Skywalker, em San Rafael, para San Francisco, na ex-base militar conhecida como Presidio. Pois o nome do novo lar californiano da LucasFilm não poderia ser mais apropriado: o autor
da saga de "Guerra nas Estrelas",
que completou 61 anos ontem,
passou metade de sua vida preso a
uma mesma história. E, apesar de
suas negativas, deve gastar as próximas duas décadas ainda prisioneiro de nomes como Luke e
Anakin Skywalker, Obi-Wan Kenobi e Darth Vader.
É provável que o "Star Wars:
Episódio 3 - A Vingança dos Sith"
seja mesmo o último filme da cinessérie, agora com seis capítulos,
como ele vem falando em entrevistas à imprensa norte-americana, embora os sites de fãs gostem
de ler nas entrelinhas de cada frase dita por ele que viriam por aí os
episódios 7, 8 e 9, numa lógica lucasiana, não a do marxista húngaro Georg Lukács (1885-1971), mas
a do capitalista rebelde quase homônimo: se ele se deu ao trabalho
de criar uma trilogia que volta no
tempo para contar a origem da
trilogia pioneira, por que não faria a trilogia final, com o destino
de todos os personagens?
Ele nega, confirmando, como os
mineiros. Vem, sim, mais "Guerra nas Estrelas" por aí, mas é mais
do mesmo, num dos mais impressionantes casos de eterno retorno financeiro da cultura pop.
Agora que a parte cinematográfica teve um ponto final, George
Lucas pretende lançar a caixa de
DVD com os seis filmes, recheada
de extras e efeitos especiais que
dobrarão as mais de 13 horas originais. Então, duas séries de TV
baseadas nos personagens da ficção científica irão ao ar. Depois,
videogames. E, o pulo do gato, a
cada dois anos, ele planeja estrear
nos cinemas uma versão 3D (em
três dimensões) de cada um dos
filmes, em ordem cronológica da
história, não da produção, começando pelo Episódio 1, de 1999, e
terminando pelo episódio 6, de
1983.
Ou seja, temos pelo menos mais
15 anos de "Guerra nas Estrelas"
"inédito" pela frente. A causa da
monomania de Lucas é mais de
fluxo de caixa do que sentimental:
a cinessérie é o principal produto
de sua empresa. Além dos US$ 3,5
bilhões que apenas as bilheterias
dos filmes trouxeram para casa,
os produtos ligados a eles renderam US$ 9 bilhões. "Você só atinge um veio de ouro rico assim
com filmes como "Harry Potter",
"Senhor dos Anéis" ou "Guerra nas
Estrelas'", disse o produtor Rick
McCallum, que trabalha com o
criador. "Não há nenhum investimento na história do capitalismo,
nem mesmo software, nem mesmo o Windows, que possa dar esse retorno extraordinário em dinheiro e num espaço de tempo
tão curto", empolga-se.
É a natureza do filme-evento,
potencializada nos anos 70 por
Lucas e Steven Spielberg. A partir
da popularidade do conteúdo de
um filme, dezenas de produtos
são vendidos de roldão. Nos últimos dias, por exemplo, a Kellogg's vem estampando os personagens de "A Vingança dos Sith"
em 100 milhões de pacotes de seus
cereais em 180 países. Nos supermercados norte-americanos, o
cliente pode escolher os salgadinhos Cheetos, da Frito-Lay, nas
cores "Escuro Darth Vader" ou
"Verde Yoda". O mesmo ocorre
com a Diet Coke. Num dos comerciais de TV, Yoda e um cliente
estão sentados de costas num balcão de uma lanchonete, e o mestre
dos mestres jedis usa a Força para
que o ser humano a seu lado passe
a ele primeiro seu hambúrguer,
depois as batatas fritas. Por fim,
quando tenta capturar o refrigerante, é impedido pela Força (de
vontade) do consumidor.
"Apesar de termos usado referências aos personagens da série
em comerciais desde sempre, esta
é a primeira vez que permitimos
que os próprios personagens interajam com os produtos", disse
Howard Roffman, presidente da
LucasLicensing. Mas deixar que
Yoda, o símbolo da sabedoria que
é um dos responsáveis pela popularidade de "Guerra das Estrelas",
usar seus poderes para filar um
refrigerante não pode ter o efeito
reverso e desagradar fãs? "Os personagens já são ícones da cultura
popular, estão por aí há 28 anos,
tempo suficiente para que possamos rir um pouco com eles."
Enquanto isso, George Lucas, o
proprietário único da LucasFilm
- que fundou em 1971 no Condado de Marin, no norte da Califórnia, fatura US$ 1 bilhão por
ano e não tem dívidas-, diz que
planeja se afastar cada vez mais
do comando da empresa, que
conta ainda com as divisões LucasArts (videogames), Industrial
Light and Magic (efeitos especiais) e Skywalker Sound (edição
de som). Ele pretende se dedicar a
filmes de arte de orçamentos baixos. É o mesmo que afirmou que
faria antes de criar "Guerra nas
Estrelas", nos anos 70, uma galáxia cada vez mais distante.
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