São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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ARTES PLÁSTICAS

O esgotado "Use, É Lindo, Eu Garanto" (1997) retorna às prateleiras

Obra de Leonilson ganha reedição

GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Poucos traços e algumas palavras às vezes bastam para chegar ao sublime. Essa é uma das leituras possíveis para os 102 desenhos de Leonilson (1957-1993), agrupados em 1997 no volume "Leonilson - Use, É Lindo, Eu Garanto" e agora reeditados pela Cosacnaify.
Concebidos pelo artista entre março de 1991 e maio de 1993 para ilustrar a coluna "Talk of the Town - O Ti-ti-ti da Cidade", que a jornalista Barbara Gancia assinava nesta Folha, os desenhos ganharam vida própria.
Hoje, já não precisam nem dos textos nem dos acontecimentos da época para serem apreciados, encantadores como são.
Com pesquisa de Rosana Monnerat, a edição traz textos do crítico Ivo Mesquita e de Gancia. A cronista comenta a época em que conheceu o artista cearense:
"No mundinho em que vivíamos, na São Paulo dos anos 80, éramos todos jovens artistas. Um mais exibido do que o outro e nenhum, exceto ele, com qualquer talento particular que pudesse sobreviver ao teste da eternidade."
A coluna de Gancia abordava temas do cotidiano metropolitano e de seus habitantes. Lá estava Leonilson a explorar com seus símbolos recorrentes - montanhas, pedras, espirais, instrumentos musicais, vulcões- a vida do homem contemporâneo, às vezes angustiado, às vezes lírico.
Em muitos casos, o uso das palavras somava-se ao desenho e as transformava também em elemento gráfico. Acompanham uma ilustração singela, por exemplo, três frases "desenhadas" sobre o papel: "A terra prometida, um cobertor quentinho, o seu focinho". É o bastante.

Trajetória
Leonilson aparece como um dos mais destacados artistas de sua geração. Nascido em Fortaleza, chegou a São Paulo ainda criança, no início da década de 60.
Ao longo do tempo, participaria de Bienais e seria extremamente apreciado na Europa e nos EUA. A galerista Luisa Strina, que foi marchand do artista por muitos anos, conta detalhes da época em que trabalharam juntos: "Leonilson era uma pessoa difícil. A gente brigava muito, mas se adorava. A gente se mandava bilhetes; às vezes de amor, às vezes de ódio. O trabalho dele foi crescendo ao longo do tempo, foi limpando."
Essa "limpeza" de que fala Strina pode ser percebida ao longo do livro, que ordena cronologicamente as ilustrações. Se no início os desenhos estão mais próximos dos temas pautados e descrevem literalmente o assunto da crônica, pouco a pouco passam a criar um espaço de significado específico, em que a ilustração também ganha caráter opinativo.
Além desta primeira mudança, uma outra transformação se faz notar: a Aids deixou marcas profundas em sua produção artística.
Aos poucos, a leveza e o despojamento característicos são substituídos por questionamentos sobre a morte e por uma busca de sentido que faz com que novos símbolos -especialmente as escadas- ocupem o espaço do papel em branco. O tom de crítica que marcou sua produção seria cada vez mais pungente, até ser interrompido por sua morte.


Leonilson - Use, É Lindo, Eu Garanto
Autor:
Leonilson
Editora: Cosacnaif
Quanto: R$ 99 (250 págs.)



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