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ARTES PLÁSTICAS
O esgotado "Use, É Lindo, Eu Garanto" (1997) retorna às prateleiras
Obra de Leonilson ganha reedição
GABRIELA LONGMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Poucos traços e algumas palavras às vezes bastam para chegar
ao sublime. Essa é uma das leituras possíveis para os 102 desenhos
de Leonilson (1957-1993), agrupados em 1997 no volume "Leonilson - Use, É Lindo, Eu Garanto" e
agora reeditados pela Cosacnaify.
Concebidos pelo artista entre
março de 1991 e maio de 1993 para
ilustrar a coluna "Talk of the
Town - O Ti-ti-ti da Cidade", que
a jornalista Barbara Gancia assinava nesta Folha, os desenhos ganharam vida própria.
Hoje, já não precisam nem dos
textos nem dos acontecimentos
da época para serem apreciados,
encantadores como são.
Com pesquisa de Rosana Monnerat, a edição traz textos do crítico Ivo Mesquita e de Gancia. A
cronista comenta a época em que
conheceu o artista cearense:
"No mundinho em que vivíamos, na São Paulo dos anos 80,
éramos todos jovens artistas. Um
mais exibido do que o outro e nenhum, exceto ele, com qualquer
talento particular que pudesse sobreviver ao teste da eternidade."
A coluna de Gancia abordava
temas do cotidiano metropolitano e de seus habitantes. Lá estava
Leonilson a explorar com seus
símbolos recorrentes - montanhas, pedras, espirais, instrumentos musicais, vulcões- a vida do
homem contemporâneo, às vezes
angustiado, às vezes lírico.
Em muitos casos, o uso das palavras somava-se ao desenho e as
transformava também em elemento gráfico. Acompanham
uma ilustração singela, por exemplo, três frases "desenhadas" sobre o papel: "A terra prometida,
um cobertor quentinho, o seu focinho". É o bastante.
Trajetória
Leonilson aparece como um
dos mais destacados artistas de
sua geração. Nascido em Fortaleza, chegou a São Paulo ainda
criança, no início da década de 60.
Ao longo do tempo, participaria
de Bienais e seria extremamente
apreciado na Europa e nos EUA.
A galerista Luisa Strina, que foi
marchand do artista por muitos
anos, conta detalhes da época em
que trabalharam juntos: "Leonilson era uma pessoa difícil. A gente brigava muito, mas se adorava.
A gente se mandava bilhetes; às
vezes de amor, às vezes de ódio. O
trabalho dele foi crescendo ao
longo do tempo, foi limpando."
Essa "limpeza" de que fala Strina pode ser percebida ao longo do
livro, que ordena cronologicamente as ilustrações. Se no início
os desenhos estão mais próximos
dos temas pautados e descrevem
literalmente o assunto da crônica,
pouco a pouco passam a criar um
espaço de significado específico,
em que a ilustração também ganha caráter opinativo.
Além desta primeira mudança,
uma outra transformação se faz
notar: a Aids deixou marcas profundas em sua produção artística.
Aos poucos, a leveza e o despojamento característicos são substituídos por questionamentos sobre a morte e por uma busca de
sentido que faz com que novos
símbolos -especialmente as escadas- ocupem o espaço do papel em branco. O tom de crítica
que marcou sua produção seria
cada vez mais pungente, até ser
interrompido por sua morte.
Leonilson - Use, É Lindo, Eu Garanto
Autor: Leonilson
Editora: Cosacnaif
Quanto: R$ 99 (250 págs.)
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