São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2008

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NINA HORTA

Ainda as baleias...


Uma leitora com senso de humor entendeu que não quero intimidade com as baleias

DEPOIS DA ÚLTIMA crônica que escrevi, recebi muitos e-mails equivocados, achando que eu estava a fim de comer todas as baleias dos mares, fritando-as ou cozinhando-as em um bom espermacete. Mas uma leitora, Leandra, com senso de humor e inteligência afiados, entendeu que eu não quero intimidade nenhuma com seu animal de estimação. Vamos ao e-mail: "Carne de baleia - você já provou?".
"Olá, Nina: Tudo bem? Acabo de ler seu artigo na Folha (8 de maio de 2008) intitulado "Carne de Baleia", e o que me chamou mais a atenção foi a forma como o assunto da caça científica foi tratado. Nunca imaginei encontrar em sua coluna uma discussão sobre o consumo de carne de baleia.
Mas achei interessante. Uma dúvida me restou, ao final do artigo. E aí, você realmente provou a carne de baleia? O que achou? Sou coordenadora da Campanha em Defesa das Baleias do Greenpeace Brasil (www.greenpeace.org.br/oceanos), bióloga e pesquisadora de baleias. E estive recentemente participando da Expedição Antártica, com o objetivo de seguir a frota baleeira e impedir que as baleias fossem caçadas, além de realizar a pesquisa não-letal, ou seja, pesquisa de qualidade, mas sem disparar nenhum arpão. Pode conferir o dia-a-dia no meu blog (www.greenpeace.blogtv.com.br/oceanos).
Para mim, é curioso e intrigante tentar entender porque os japoneses ainda caçam baleias. Alguns defendem argumentos culturais. Sim, as baleias realmente salvaram os japoneses da fome durante a Segunda Guerra Mundial. Mas isso já faz algum tempo. Hoje em dia, a maioria da população japonesa (71%) é contra a caça de baleias em águas internacionais, mesmo porque, para realizar uma operação dessas, de caça, sem retorno econômico, é preciso que seja subsidiada pelo governo japonês, com dinheiro dos impostos dos cidadãos -que já não estão muito felizes com isso.
Outros defendem o alto valor econômico da iguaria, mas já comprovamos que, neste ano, 4.000 toneladas estão armazenadas em freezers, o que significa que não tem mais alto valor no mercado.
Ainda pior, começaram a distribuir essa carne em creches e escolas públicas, e as crianças começaram a ficar doentes, pelo alto nível de metais pesados e organoclorados. [...] Mas, enfim, ainda tem aqueles piores, que acham que as baleias estão acabando com o estoque pesqueiro. Isso é típica lenda urbana. Mesmo porque, sem intervenção humana, baleias e peixes viviam harmonicamente como parte da cadeia alimentar.
Além do que, o item principal da dieta da baleia é o krill, um crustáceo bem pequeno e sem valor comercial. Aqui no Brasil, há 20 anos existiu caça de baleia, e a iguaria era livremente vendida. [...] Hunf, enfim... Parabéns por conseguir colocar na mídia um assunto tão importante quanto a caça científica. Neste ano, teremos uma reunião no Chile, onde representantes de governo estarão reunidos para decidir o futuro das baleias.
Nós, do Greenpeace, estaremos lá, apresentando os resultados da pesquisa não-letal, coordenada por mim na Antártica, e brigando para que interesses conservacionistas sejam aprovados pela comissão.
Por isso, acabamos de lançar uma petição on-line (www.greenpeace.org.br/baleia) com o objetivo de pedir mais ação do nosso presidente Lula. Dá uma passadinha por lá e assina também, você estará salvando as baleias.
No mais, aproveito a oportunidade para sugerir o livro "No Coração do Mar", de Nathaniel Philbrick. [...] Esteja preparada para relatos realistas. Um grande abraço, Leandra Gonçalves, coordenadora da Campanha em Defesa das Baleias."

ninahorta@uol.com.br


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