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NINA HORTA
Ainda as baleias...
Uma leitora com senso de humor entendeu que não quero intimidade com as baleias
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DEPOIS DA ÚLTIMA crônica que
escrevi, recebi muitos e-mails equivocados, achando
que eu estava a fim de comer todas
as baleias dos mares, fritando-as ou
cozinhando-as em um bom espermacete. Mas uma leitora, Leandra,
com senso de humor e inteligência
afiados, entendeu que eu não quero
intimidade nenhuma com seu animal de estimação. Vamos ao e-mail:
"Carne de baleia - você já provou?".
"Olá, Nina: Tudo bem? Acabo de
ler seu artigo na Folha (8 de maio
de 2008) intitulado "Carne de Baleia", e o que me chamou mais a
atenção foi a forma como o assunto
da caça científica foi tratado. Nunca imaginei encontrar em sua coluna uma discussão sobre o consumo
de carne de baleia.
Mas achei interessante. Uma dúvida me restou, ao final do artigo. E
aí, você realmente provou a carne
de baleia? O que achou? Sou coordenadora da Campanha em Defesa
das Baleias do Greenpeace Brasil
(www.greenpeace.org.br/oceanos), bióloga e pesquisadora de baleias. E estive recentemente
participando da Expedição Antártica, com o objetivo de seguir a frota baleeira e impedir que as baleias
fossem caçadas, além de realizar a
pesquisa não-letal, ou seja, pesquisa de qualidade, mas sem disparar
nenhum arpão. Pode conferir o
dia-a-dia no meu blog
(www.greenpeace.blogtv.com.br/oceanos).
Para mim, é curioso e intrigante
tentar entender porque os japoneses ainda caçam baleias. Alguns defendem argumentos culturais. Sim,
as baleias realmente salvaram os
japoneses da fome durante a Segunda Guerra Mundial. Mas isso já
faz algum tempo. Hoje em dia, a
maioria da população japonesa
(71%) é contra a caça de baleias em
águas internacionais, mesmo porque, para realizar uma operação
dessas, de caça, sem retorno econômico, é preciso que seja subsidiada pelo governo japonês, com
dinheiro dos impostos dos cidadãos -que já não estão muito felizes com isso.
Outros defendem o alto valor
econômico da iguaria, mas já comprovamos que, neste ano, 4.000 toneladas estão armazenadas em
freezers, o que significa que não
tem mais alto valor no mercado.
Ainda pior, começaram a distribuir essa carne em creches e escolas públicas, e as crianças começaram a ficar doentes, pelo alto nível
de metais pesados e organoclorados. [...] Mas, enfim, ainda tem
aqueles piores, que acham que as
baleias estão acabando com o estoque pesqueiro. Isso é típica lenda
urbana. Mesmo porque, sem intervenção humana, baleias e peixes
viviam harmonicamente como
parte da cadeia alimentar.
Além do que, o item principal da
dieta da baleia é o krill, um crustáceo bem pequeno e sem valor comercial. Aqui no Brasil, há 20 anos
existiu caça de baleia, e a iguaria
era livremente vendida. [...]
Hunf, enfim... Parabéns por conseguir colocar na mídia um assunto tão importante quanto a caça
científica. Neste ano, teremos uma
reunião no Chile, onde representantes de governo estarão reunidos
para decidir o futuro das baleias.
Nós, do Greenpeace, estaremos lá,
apresentando os resultados da pesquisa não-letal, coordenada por
mim na Antártica, e brigando para
que interesses conservacionistas
sejam aprovados pela comissão.
Por isso, acabamos de lançar uma
petição on-line (www.greenpeace.org.br/baleia) com o objetivo de pedir mais ação do nosso
presidente Lula. Dá uma passadinha por lá e assina também, você
estará salvando as baleias.
No mais, aproveito a oportunidade para sugerir o livro "No Coração
do Mar", de Nathaniel Philbrick.
[...] Esteja preparada para relatos
realistas. Um grande abraço, Leandra Gonçalves, coordenadora da
Campanha em Defesa das Baleias."
ninahorta@uol.com.br
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