São Paulo, sexta-feira, 15 de maio de 2009

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br

Amir Slama

Estilista se desliga da grife, após vendê-la para o grupo Marisol; Alexandre Herchcovitch é o novo diretor de criação

O estilista Amir Slama está se desligando da Rosa Chá, grife que ele criou em 1993 e transformou numa das principais da moda praia no país. Alexandre Herchcovitch será o novo diretor de criação da marca.
A Rosa Chá é, hoje, uma das empresas do grupo catarinense Marisol. Em abril de 2006, Slama vendeu 75% da sua marca para o grupo. No final do último ano, vendeu os restantes 25%, permanecendo como diretor de criação e responsável pelo desenvolvimento das coleções e pela comunicação.
A mudança deve causar forte impacto no setor. Presidente da Abest (Associação Brasileira de Estilistas), Slama é uma das personalidades mais estimadas e ativas da moda brasileira.
Além disso, é o segundo estilista de prestígio que, em menos de um mês, se desliga da própria marca que criou, após vendê-la para um grande grupo de moda. Em abril, Tufi Duek afastou-se da empresa catarinense AMC Têxtil, atual dona das grifes Forum, Triton e Forum by Tufi Duek.
Slama nega que tenha havido desacordos entre ele e a Marisol sobre os rumos da Rosa Chá. "Uma grife é como uma filha que você cria. Ela cresce, amadurece e se casa. Você vira o sogro", compara. "Além disso, descobri que sou mais um empreendedor que um executivo. Gosto de desafios."
A Marisol também nega divergências com o estilista. "Não tivemos nenhum conflito. Nós nos entendemos muito bem", afirma Robson Amorim, diretor-executivo da unidade Luxo da Marisol.
A Folha apurou que, porém, divergências crescentes entre a Marisol e Slama pesaram na decisão. Uma suposta redução de vendas no atacado, nos últimos meses, teria sido a gota d'água. A Marisol desmente a queda nas vendas. Segundo Amorim, houve, ao contrário, crescimento de mais de 20% no primeiro quadrimestre, comparado ao mesmo período do ano anterior. A Rosa Chá faturou em 2008 cerca de R$ 15 milhões.

Fio dental
Slama fica até o final de junho no cargo. Ele deve, ainda, participar, em setembro, da semana de moda de Nova York, onde a Rosa Chá vai desfilar a coleção para o próximo verão, feita pelo estilista. A primeira coleção de Herchcovitch só será lançada em janeiro de 2010.
A indicação de Alexandre Herchcovitch, 37, foi feita à Marisol pelo próprio Slama, 43. "Somos amigos, e o Amir já montou, inclusive, algumas peças de moda praia para as minhas coleções", conta Herchcovitch, que, por sua vez, fez as roupas de Slama e seus dois filhos para o bar mitzvah de um destes.
Amorim conta que, inicialmente, a Marisol pensou em trabalhar com uma equipe interna da Rosa Chá. "Mas depois concluímos que a marca perderia muito sem um estilista autoral. Ficamos felizes com a indicação de Alexandre", afirma.
Antes de aceitar o convite, Herchcovitch precisou consultar seus sócios na Inbrands, grupo para o qual vendeu 70% de suas marcas, em agosto de 2008. Seu contrato com a Inbrands permite que ele faça outros trabalhos em moda, desde que esses não sejam concorrentes aos de suas próprias grifes.
O contrato de Herchcovitch com a Marisol dura dois anos e prevê renovação automática. Ele não revela o valor da negociação, mas diz: "Alguém assina contrato se ele não for bom?".
Herchcovitch nunca fez moda praia, embora já tenha realizado esporadicamente biquínis (com a ajuda da Rosa Chá) e até um fio dental -como na coleção da primavera-verão 1997/ 98, em que mesclou a alfaiataria clássica com inspirações vindas da roupa de aeróbica.
"É uma tarefa desafiadora, pois nunca tive essa experiência. Mas a Rosa Chá não é uma grife que faz apenas biquínis, ela vende um lifestyle [estilo de vida] de moda praia. Amir fez a coisa mais difícil, que é criar moda em um simples triângulo de tecido", analisa.
Não apenas o talento de Herchcovitch contou na escolha, mas também o seu prestígio, inclusive internacional. Foi bastante elogiada pela imprensa de moda do exterior a última coleção do estilista mostrada em Nova York -cidade onde ele desfila há anos e acaba de comprar um apartamento.

Moda no sangue
Antes de se dedicar à moda, Slama foi garçom e barman. Formou-se em história. Seu pai era dono de uma confecção esportiva, que ele herdou. Passou a fazer roupas para ginástica. Em 1993, abriu a primeira loja Rosa Chá. Atualmente, a grife tem no Brasil 25 lojas -uma própria e 24 franqueadas. No exterior, são três lojas -em Nova York, Lisboa e Istambul.
Slama foi um dos primeiros estilistas no país que buscou acrescentar elementos criativos e conceitos fortes de moda ao beachwear, atitude que fez a fama da grife. "Quando comecei com a Rosa Chá, a moda praia era quase um acessório. Eu tentei fazer do beachwear uma parte essencial da moda brasileira", diz o estilista, que não descarta abrir uma nova marca no futuro, já que não existe impedimento contratual para tanto.
Isso não deve ocorrer de imediato. Nos próximos meses, além de cuidar do lançamento da última coleção que fez, ele deve aceitar um convite da Universidade de Cambridge (Grã-Bretanha) para dar um curso sobre moda brasileira.
Vai se dedicar, ainda, a empreendimentos no setor de restaurantes e casas noturnas. Ele é sócio dos restaurantes 3P4 e Pinotage, da boate Mokai e também do Club A, uma casa de shows que será aberta proximamente. Slama também não pensa em se afastar da presidência da Abest. "Estou saindo da Rosa Chá, mas continuo estilista. A moda está no meu sangue", afirma.


com VIVIAN WHITTEMAN


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