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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
Amir Slama
Estilista se desliga da grife, após vendê-la para o grupo Marisol; Alexandre Herchcovitch é o novo diretor de criação
O estilista Amir Slama está se
desligando da Rosa Chá, grife
que ele criou em 1993 e transformou numa das principais da
moda praia no país. Alexandre
Herchcovitch será o novo diretor de criação da marca.
A Rosa Chá é, hoje, uma das
empresas do grupo catarinense
Marisol. Em abril de 2006, Slama vendeu 75% da sua marca
para o grupo. No final do último
ano, vendeu os restantes 25%,
permanecendo como diretor
de criação e responsável pelo
desenvolvimento das coleções
e pela comunicação.
A mudança deve causar forte
impacto no setor. Presidente
da Abest (Associação Brasileira
de Estilistas), Slama é uma das
personalidades mais estimadas
e ativas da moda brasileira.
Além disso, é o segundo estilista de prestígio que, em menos de um mês, se desliga da
própria marca que criou, após
vendê-la para um grande grupo
de moda. Em abril, Tufi Duek
afastou-se da empresa catarinense AMC Têxtil, atual dona
das grifes Forum, Triton e Forum by Tufi Duek.
Slama nega que tenha havido
desacordos entre ele e a Marisol sobre os rumos da Rosa Chá.
"Uma grife é como uma filha
que você cria. Ela cresce, amadurece e se casa. Você vira o sogro", compara. "Além disso,
descobri que sou mais um empreendedor que um executivo.
Gosto de desafios."
A Marisol também nega divergências com o estilista. "Não
tivemos nenhum conflito. Nós
nos entendemos muito bem",
afirma Robson Amorim, diretor-executivo da unidade Luxo
da Marisol.
A Folha apurou que, porém,
divergências crescentes entre a
Marisol e Slama pesaram na
decisão. Uma suposta redução
de vendas no atacado, nos últimos meses, teria sido a gota
d'água. A Marisol desmente a
queda nas vendas. Segundo
Amorim, houve, ao contrário,
crescimento de mais de 20%
no primeiro quadrimestre,
comparado ao mesmo período
do ano anterior. A Rosa Chá faturou em 2008 cerca de R$ 15
milhões.
Fio dental
Slama fica até o final de junho no cargo. Ele deve, ainda,
participar, em setembro, da semana de moda de Nova York,
onde a Rosa Chá vai desfilar a
coleção para o próximo verão,
feita pelo estilista. A primeira
coleção de Herchcovitch só será lançada em janeiro de 2010.
A indicação de Alexandre
Herchcovitch, 37, foi feita à
Marisol pelo próprio Slama, 43.
"Somos amigos, e o Amir já
montou, inclusive, algumas peças de moda praia para as minhas coleções", conta Herchcovitch, que, por sua vez, fez as
roupas de Slama e seus dois filhos para o bar mitzvah de um
destes.
Amorim conta que, inicialmente, a Marisol pensou em
trabalhar com uma equipe interna da Rosa Chá. "Mas depois
concluímos que a marca perderia muito sem um estilista autoral. Ficamos felizes com a indicação de Alexandre", afirma.
Antes de aceitar o convite,
Herchcovitch precisou consultar seus sócios na Inbrands,
grupo para o qual vendeu 70%
de suas marcas, em agosto de
2008. Seu contrato com a Inbrands permite que ele faça outros trabalhos em moda, desde
que esses não sejam concorrentes aos de suas próprias grifes.
O contrato de Herchcovitch
com a Marisol dura dois anos e
prevê renovação automática.
Ele não revela o valor da negociação, mas diz: "Alguém assina
contrato se ele não for bom?".
Herchcovitch nunca fez moda praia, embora já tenha realizado esporadicamente biquínis
(com a ajuda da Rosa Chá) e até
um fio dental -como na coleção da primavera-verão 1997/
98, em que mesclou a alfaiataria clássica com inspirações
vindas da roupa de aeróbica.
"É uma tarefa desafiadora,
pois nunca tive essa experiência. Mas a Rosa Chá não é uma
grife que faz apenas biquínis,
ela vende um lifestyle [estilo de
vida] de moda praia. Amir fez a
coisa mais difícil, que é criar
moda em um simples triângulo
de tecido", analisa.
Não apenas o talento de
Herchcovitch contou na escolha, mas também o seu prestígio, inclusive internacional. Foi
bastante elogiada pela imprensa de moda do exterior a última
coleção do estilista mostrada
em Nova York -cidade onde
ele desfila há anos e acaba de
comprar um apartamento.
Moda no sangue
Antes de se dedicar à moda,
Slama foi garçom e barman.
Formou-se em história. Seu pai
era dono de uma confecção esportiva, que ele herdou. Passou
a fazer roupas para ginástica.
Em 1993, abriu a primeira loja
Rosa Chá. Atualmente, a grife
tem no Brasil 25 lojas -uma
própria e 24 franqueadas. No
exterior, são três lojas -em Nova York, Lisboa e Istambul.
Slama foi um dos primeiros
estilistas no país que buscou
acrescentar elementos criativos e conceitos fortes de moda
ao beachwear, atitude que fez a
fama da grife. "Quando comecei com a Rosa Chá, a moda
praia era quase um acessório.
Eu tentei fazer do beachwear
uma parte essencial da moda
brasileira", diz o estilista, que
não descarta abrir uma nova
marca no futuro, já que não
existe impedimento contratual
para tanto.
Isso não deve ocorrer de imediato. Nos próximos meses,
além de cuidar do lançamento
da última coleção que fez, ele
deve aceitar um convite da Universidade de Cambridge (Grã-Bretanha) para dar um curso
sobre moda brasileira.
Vai se dedicar, ainda, a empreendimentos no setor de restaurantes e casas noturnas. Ele
é sócio dos restaurantes 3P4 e
Pinotage, da boate Mokai e
também do Club A, uma casa de
shows que será aberta proximamente. Slama também não
pensa em se afastar da presidência da Abest. "Estou saindo
da Rosa Chá, mas continuo estilista. A moda está no meu sangue", afirma.
com VIVIAN WHITTEMAN
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